Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

25 de dezembro de 2011

FELIZ 2012

Que todos os seres sejam felizes

 esse é o meu mais profundo desejo.




E o meu mais profundo sentimento é o de agradecimento à vida que me proporcionou tantas experiências diferentes esse ano, como por exemplo o acompanhamento de meu pai no hospital há quase 2 meses, onde pude ter contato com tantos novos sentimentos e aprendizados, tantas pessoas que vivem mundos e histórias tão diferentes da minha e que por algum motivo a vida me colocou em contato com elas. E o carinho que recebi de todos os meus alunos, meus amigos e de pessoas que nem conhecia, e do meu companheiro tão atencioso, o Edmilson, isso me tornou uma pessoa melhor, me despertando para um novo padrão de consciência e de amor. 

Que o video abaixo possa nos inspirar para que possamos respirar e relaxar nesse movimento.
                                                                  Namastê

17 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL !

Adoro o mês de dezembro. A temperatura é agradável. A chuva chove limpando o ar e o brilho emerge nas folhas verdes das árvores e os pássaros cantam e dançam celebrando mais um Natal.

E para celebrar esse Natal, desejamos tantas coisas. E eu desejo a cada um de vocês que me seguiram pacientemente no blog com tanto carinho que acessem o melhor de vocês mesmos, que vocês queiram ir um pouco mais além de onde estão, que busquem seus potenciais, que sejam curiosos e queiram aprender ainda mais, que não esqueçam de colocar entusiasmo em todas as áreas de suas vidas (profissional, familiar, intelectual, financeira, física, emocional e espiritual). Que independente dos rituais sociais que fizerem nesse Natal, possam despertar em seus corações o amor que inunda nossas células e que se exala para o mundo.

Deixo a seguir um poema de Márcio Assunção, que já coloquei neste blog, mas que tanto bem me faz ao ler novamente.

Hoje quero cantar para a Vida... A música da gratidão,
sabendo que tenho muito mais para agradecer do que para pedir,
por tudo que veio antes de mim, por tudo que virá depois de mim.
gratidão pelos que ajudaram, ajudam ou ajudarão,
pois essas pessoas me ensinam a cada dia que estou na vida para servir.
Gratidão por todos os que se apresentam como pedras no caminho,
pois me lembram que algumas vezes preciso ser podado para crescer forte.

Hoje quero cantar para a Vida... A música da devoção,
sabendo que tenho muito mais a oferecer do que para pedir,
para a fé que está no coração de cada Ser,
para Deus que está em todas as manifestações de verdadeira fé.
Quero fazer um altar dentro de mim
E reverenciar meus pais, meus antepassados e meus mestres,
Para que eu possa seguir em frente com humildade e honra.

Hoje quero cantar para a Vida... A música da meditação,
Sabendo que tenho muito mais que refletir do que pedir.

Quero cantar uma canção sem som, sem métrica, sem palavras.
Quero cantar o silêncio interior, Para escutar a voz da Consciência
que abaixa o volume do ego e aumenta o volume do Ser.

Hoje quero cantar para a vida... A música do coração,
Sabendo que tenho muito mais a cumprir do que para pedir.
Quero lembrar de minha primeira inspiração nesta existência,
Para não esquecer o que estou fazendo aqui.
Quero na última expiração, Ter a certeza do dever cumprido,
do dharma mantido E do caminho seguido.

Hoje quero cantar para o mundo...
E que outras pessoas ao ouvirem essa canção, Possam cantar juntas comigo
A música da transformação. 

20 de novembro de 2011

Roda da Vida

Nessas últimas semanas tenho experimentado intensos movimentos internos e deparado com sentimentos novos, constatando minha própria complexibilidade e subjetividade e refazendo ou validando minhas propostas existenciais.  Utilizei todos os recursos internos que venho construindo desde que nasci, os quais são meu suporte, meu norte. Na verdade, esses recursos estão a todo momento dentro de nós, o que fazemos é deixá-los conscientes e disponíveis. Como num mosaico, cada experiência que temos no nosso dia-a-dia nos desperta e nossos recursos internos vão se desenvolvendo e nos desenvolvendo. 

Mas, afinal, o que são esses recursos internos, como fazer para despertá-los, para podermos lidar com os eventos da vida de forma mais construtiva para nós mesmos?

Há várias esferas que compõem nossa existência. Há um sistema de auto avaliação que se chama Roda da Vida que é bastante utilizado, principalmente no trabalho de Coaching. Nesse sistema, há oito divisões e cada uma delas representa uma esfera de nossa vida que é fundamental para conquistarmos o equilíbrio pessoal. A ideia é que façamos reflexões sobre o quanto colocamos de atenção em cada parte de nossa vida. São elas: lazer, intelecto, saúde, amor, vida financeira, amigos e família, trabalho e carreira e espiritualidade. A ideia então é perceber o grau de satisfação em cada área e traçar planos para promover mudanças.

Para mim, uso a palavra espiritualidade para designar o conjunto dos recursos internos que construímos e vejo essa área muito importante para que consigamos desenvolver todas as outras, sem a qual seria muito difícil atingir uma satisfação duradoura. Espiritualidade não tem nada a ver com a religião que escolhemos ter ou não, não tem a ver com códigos feitos de fora para dentro e nem com padrões alienantes que construímos. Tem a ver com a paz interior, com a coerência de valores, com a força interna que temos para suportar as dificuldades sem se desequilibrar.

Na minha vida particular, muitas coisas me ajudaram a desenvolver essa esfera. Todas as religiões que estudei, todos os cursos que fiz, todos os meus questionamentos, todos os amigos que tive, a estrutura de minha família, meus professores das escolas onde estudei, todos os relacionamentos que tive, todo amor que senti, toda desilusão, toda frustração, toda alegria que tive, toda dor que doeu, tudo que conquistei com meu trabalho, tudo aquilo que não consegui ter, todas as viagens que fiz, todas as que não fiz, todo vazio que senti e que impulsionaram a buscar mais e mais o sentido de minha existência, o Yoga, a respiração, a bronquite quando era criança, todas pessoas chaves que conheci e que me inspiraram como Chico Xavier, Professor Hermógenes, Sara Marriot, meu pai e também aquelas pessoas que “se apresentam como pedras no caminho, pois me lembram que algumas vezes preciso ser podado para crescer forte.” (Márcio Assunção).

A lista aqui poderia ser enorme, pois não há uma só experiência que não tenha sido uma contribuição para que eu acordasse para meus recursos internos.

Sem isso como poderia vivenciar com serenidade o meu pai aos 90 anos em coma na UTI? Onde eu buscaria as respostas, que nessa hora são tantas, no meio de uma dor profunda que nunca tinha experimentado?  Não, não é sofrimento, eu optei por viver essa experiência consciente de minha dor, mas serena, dando oportunidade para que mais aprendizado chegue até mim, sem julgamento, sem ansiedade, sem dúvidas de que todos os recursos que já tenho dentro de mim me apoiam nesse momento. O carinho de todas as pessoas também tem sido um bálsamo. Com certeza não sou mais a mesma Zezé de alguns dias atrás. Profundas transformações se organizam e se instalam em minhas células.

Somos muito mais do que esse corpo físico, somos esse movimento de expandir eternamente.  O universo está presente em todos esses movimentos, em todas as situações e, portanto, tudo está certo. Tudo está perfeitamente certo.

"A força que guia as estrelas
também guia você"
                                       
Sri Sri Anandamurti

31 de outubro de 2011

Cachorro

Na minha história de "paz" com os cachorros (já escrevi aqui sobre o meu progresso com o medo de cachorros - 12/12/2011 - Hábito), coloco aqui essa história sensível e real de Reinaldo Azevedo chamada "Um Vira-lata". Gostaria de saber escrever como ele.

"Um dia ele apareceu na vilinha, não se sabe de onde. Já chegou adulto, meio labrador, meio lata, com o rabo cortado. Alguns o chamaram, então, “Cotó”. Outros o tinham por “Martim”, jamais consegui saber em razão de que marca. Estava por ali, entre as casas, havia bem uns 12 anos. Os “cachorristas”, dadas algumas características, lhe atribuíam entre 15 e 18 de vida. Contrariava a máxima de que cachorro de muitos donos morre de fome. Ele não! Estava sempre bonito, garboso, saudável.
Livre, sua simpatia era objeto de disputa. Cotó era personagem das nossas férias, dos nossos fins de semana, de muitos dos nossos momentos de alegria. No sábado, saiu para não voltar. Não dava mais pra ele. Os rins tinham parado de funcionar. Já não conseguia mais se alimentar. Só lhe restava a dor. Dor silenciosa, respiração ofegante, cansaço extremo. Foi levado ao veterinário. Um primeiro remédio o fez dormir, e outro pôs o ponto final.
Os dias podiam ser instáveis; o céu, temperamental; o sol, incerto; a temperatura, variável. Mas Cotó restituía todas as nossas esperanças de dias melhores. Era o portador da memória daquele lugar. Mais do que qualquer um de nós, sabia que um vento podia enegrecer o céu ou, então, abri-lo num azul largo e ancestral.
É provável que voltasse sempre em busca de comida — não aceitava nada que não fosse carne ou derivado, o luxento! —, e a gente confundisse aquilo com afeto. Mas quem se importa? Quem é tão vaidoso a ponto de inquirir os reais sentimentos de um cachorro?
Às vezes ele interrompia a minha leitura ou outra coisa qualquer que estivesse fazendo. Postava-se à minha frente. Encarávamo-nos, então, com camaradagem. “E aí, meu? O que é que manda?” Ele se aboletava por ali, descansava o focinho entre as patas, fechava os olhos devagar e parecia me dizer: “Isso vai se repetir para sempre. A vida pode ser assim, mansa…” E, por alguns segundos, minutos talvez, eu conseguia não pensar em nada, não querer nada, não me importar com nada. Dois camaradas satisfeitos, silenciosos, ocos de anseios, como a paisagem, como a seqüência dos dias, como o marulho mais ao fundo.
Cotó tinha a generosidade das coisas certas. Enquanto estava por ali, era como se nunca tivéssemos sido mais jovens, nunca tivéssemos sido mais saudáveis, nunca tivéssemos sido mais ágeis, nunca tivéssemos sido mais otimistas, nunca tivéssemos sido mais viçosos. Naquela pequena vila, ele nos dava a ilusão da eternidade e alimentava as nossas esperanças.
Morreu Cotó, e o tempo nos invadiu. Terei de aprender a amar outra narrativa na mesma paisagem, da qual ele não é personagem. Eu devo ter imaginado — acho que sim, não estou bem certo — que me viriam os netos e que ele continuaria por ali a atestar que nem tudo nos foge pelos vãos dos dedos, aos poucos, sem nem mesmo um suspiro audível.
Isso não é política, como vêem. É que Cotó tomou seu rumo. Lá se foi ele, sem consultar ninguém, como sempre, dono do seu nariz."

18 de outubro de 2011

M a r

A vida no nosso planeta
 se apresenta de tantas

formas, 
cores,
movimentos 
interações...


15 de outubro de 2011

Quebra-cabeça

         Catedral de Porto em Portugal
Essa semana, coincidentemente, reencontrei muitas pessoas que fizeram parte de várias fases da minha vida. A vida é mesmo um quebra-cabeça. Quando a gente vê apenas um pedaço desse quebra-cabeça, não entendemos nada, parece uma coisa sem sentido, mas quando um pedaço vai se juntando com outro, parece fazer todo sentido e aí a gente vai entendendo porque vivemos tais situações. Aí não existem mais problemas, existem apenas eventos que só viram problemas por causa de nossas crenças limitantes. No final tudo é bom, porque tudo contribui para nosso crescimento interno. A dor é parte natural da jornada humana. Todas as emoções são partes importantes do caminho. Depois esse complexo quebra-cabeça se junta a outros quebra- cabeças e vamos formando um grande desenho cósmico.

No livro Caminho da Prática a autora diz que nenhum de nós existe como ser independente, que estamos todos ligados ao universo por meio de nossa ancestralidade e nossa linhagem ancestral não se limita apenas àqueles com quem partilhamos a mesma herança genética, mas também os professores, mentores e amigos mais velhos que inspiraram e moldaram nossas vidas também estão incluídos.” De fato, somos o que somos hoje por causa de tudo que veio antes de nós. E por isso precisamos estar em paz com o passado.

Às vezes carregamos dores e conflitos provenientes da família imediata. "No seu passado existem ainda muitas lacunas... contas não saldadas, débitos interiores jamais pagos, senso de culpa, vitimismo e, sobretudo, cantos escuros em que predominam ferrugem e pó. Existe um lugar onde pensamentos, sensações, emoções, ações e eventos são registrados para sempre e, mesmo depois de anos, podemos reencontrá-los como objetos sem uso, guardados no sótão, aparentemente inativos. Perdoar-se por dentro não é um exame de consciência de um santo obtuso, mas o verdadeiro fazer de um homem de ação, o resultado de um longo processo de auto-observação. Significa lavar e curar as feridas ainda abertas. Perdoar-se dentro tem o poder de transformar o passado com toda a sua carga. O passado de uma pessoa comum que ainda não deu nem os primeiros passos em direção à unidade do ser é cheio de anzóis que o agarram à mínima tentativa de ali entrar e fazer mudanças...". (A escola dos deuses - Stefano Elio D'Anna).

Enquanto não enfrentarmos estas lembranças, não poderemos embarcar em nosso verdadeiro caminho. Tomarmos contato com essas dores, entendê-las e liberá-las de seu corpo emocional nos trará paz.

Há alguns anos quis viajar para Portugal, mais especificamente para a cidade do Porto, de onde meus bisavós saíram para o Brasil. Existe uma história comum que se repete desde 1700 (até onde consegui chegar) em minha família que está ligada com alcoolismo e abandono e que perpetua até nas gerações atuais, gerando muita dor. “...até entendermos e aceitarmos o passado e as formas como ele continua a nos dominar, permaneceremos espiritualmente sem paz e sem contato com o caminho da consciência.” (Do livro O Caminho da Prática).

Na cidade do Porto, embora não tenha vínculo com nenhuma religião, entrei na catedral e fiz um trabalho de perdão. Comecei perdoando e pedindo perdão por todas as histórias de abandono até os dias de hoje em minha família. Isso me fez sentir livre. Livre das histórias que carregamos por gerações fixadas em nossas células... 

Também a dor emocional pode ser genética. “Cada célula, cada átomo e lembrança de nosso ser foi divinamente comandado para se corrigir e se organizar cada vez que sair de sincronia com os ritmos cósmicos, ou seja, seu psiquismo vai trabalhar com você para restabelecer o equilíbrio espiritual." (Do livro O Caminho da Prática).

E então nesta semana, ao encontrar com tantas pessoas que fizeram parte de meu passado, senti uma oportunidade de aparar arestas, desvincular-me de bloqueios sem sentidos, pedir perdão e de me desfazer de histórias e situações que eu não precisava mais. Libertar-se de nossas próprias amarras emocionais é nos apropriamos de nossa própria vida.

14 de outubro de 2011

Desafios

Coisas da vida, coisas do amor,
coisas da caridade, coisas do entendimento.
Muito bonito esse depoimento de alguém
que passa por um evento desafiador.
A vida é aquilo que queremos ver.

7 de outubro de 2011

Seguir o coração

Muitas foram as falas de Steve Jobs que sairam na internet essa semana. Coloco aqui a que mais gostei.
"Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar - caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração." - Steve Jobs.

2 de outubro de 2011

Metáfora

Uma das casas de Nazaré
Em 1989, quando fui morar em Nazaré – comunidade que hoje se transformou em “Uniluz” – e lá morei por 3 intensos anos, comecei a trabalhar na limpeza dos quartos e banheiros.

Depois de 15 anos trabalhando em firmas multinacionais eu precisava de um momento sabático para descobrir que rumo eu queria que minha vida tomasse. Sabia com certeza que viver sem ver o sol, longe da natureza, sem tempo livre para desenvolver outras das minhas potencialidades me fazia sentir perdida de mim mesma, sem conexão interna e sem sentido social. Também sabia que nada na vida é permanente e que as coisas mudam o tempo todo e eu queria mudar seguindo o fluxo das mudanças. “Existe um tipo de ruptura a partir do qual emerge aquilo que é inteiro.”

E lá fui eu no ensolarado mês de janeiro para a comunidade que me acolhera com muito carinho. Instalei-me num quarto minúsculo com um pequeno armário onde eu guardaria tudo o que eu tinha. Abri a janela vi as árvores de eucalipto, cujo frescor adentrava em meu novo quarto e pássaros coloridos e de pios sonoros me davam boa vinda. E assim comecei essa experiência que me arejou o físico, mente e o espírito.

Não por acaso fui focalizar então o trabalho da limpeza dos quartos e banheiros dos hóspedes, depois na recepção e junto com isso focalizava também o Jogo da Transformação. Mas foi na limpeza, por um ano e meio, onde pude trabalhar tantas facetas de mim mesma.

As metáforas desse trabalho me levaram a descobrir as minhas próprias metáforas. Num primeiro momento, meu ego dizia que eu poderia fazer outras coisas, pois tinha trabalhado em multinacionais e adquirido muita experiência. Depois, fui me acalmando internamente ao descobrir que não importava muito o que eu fazia, mas como fazia, que intenção eu colocava no trabalho, para quê eu estava fazendo e que expectativas eu tinha com o resultado.

Com o tempo tudo foi se organizando em minha mente à medida em que organizava os quartos, o jardim, os pequenos vasinhos de flores que usávamos conscientemente, sabendo exatamente qual flor poderia ser tirada do jardim e qual seria sua função. Fui descobrindo que o foco não é no resultado, mas no desenvolvimento da atividade e, quanto mais refinássemos nossas ações, mais o resultado seria gratificante e surpreendente, principalmente quando os hóspedes davam seus depoimentos de quanto uma determinada ação nossa teria tido um efeito tão positivo neles e, claro, essa gratidão deles nos atingia na alma.

O ato de limpar e organizar, abre espaços externos e internos em nós, removemos energia estagnada. “Guardar objetos e papéis, e depois esquecer o que foi guardado, é uma metáfora de nossas memórias ancestrais. Quando nossos armários estão repletos, já não sabemos mais o que há lá dentro.”

Gostava de limpar os azulejos que iam descortinando outras cores e me dava a possibilidade de estar presente no presente, concentrada na atividade. Era como colocar luz na matéria. Até hoje tenho um encanto especial ao dar banho em banheiros. “Por intermédio da espécie humana, o universo se torna mais consciente de si mesmo”.

Todas as citações entre aspas desse texto são de Maya Tiwari, cujo livro “Caminho da Prática” estou lendo – ainda escreverei muito sobre o que estou lendo nesse livro – diz: “Termine todas as ações que começar. Os ritmos da natureza pedem que cada ocorrência chegue ao seu final. Ao terminar cada ato iniciado, você pede ao universo que lhe dê tempo para restaurar suas energias naturais. A cada ação terminada segue-se um sentimento de exuberância – a alegria que surge depois de plantar os campos naquele ano, terminar um quadro ou lavar os pratos depois de uma refeição deliciosa e saudável. O coração se torna leve e bem resolvido e a respiração flui suavemente por ele. O espírito da graça, trazendo gratidão pelas dádivas recebidas, é fortificado.”

Bom, naquele trabalho simples e intenso que eu desempenhava lá na comunidade descobri que podemos ser catalizadores de uma consciência mais elevada por meio de simples afazeres e contatos com a natureza. Sempre que agora me sobrecarrego de afazeres, tento perceber se estou fluindo nesse ritmo ou se estou me afastando de quem eu sou, e me dou descansos e momentos de lazer que me energizam e regularizam o ritmo interno.
Sala de Estudos

24 de setembro de 2011

Mente

Este sábado participei do Yoga é Luz no Sesc. Neste ano o evento foi todo dedicado ao Professor Hermógenes. A palestra da Rosângela foi sobre a meditação.  E lá estava eu pensando em como minha mente é tagarela e como poderia eu fazer para descansar a minha mente. Até mesmo para aquietá-la ela se agita pensando em como fazer isso.

Então ouvi que não devemos brigar para aquietar nossa mente e sim observá-la, detectar o que a faz ficar tão agitada. Detectar significa que encontramos o caminho para nos libertar de pensamentos que não mais precisamos, de ideias que nos limitam. 

Muitas vezes temos esses pensamentos por puro hábito – hábito da mente de viver aprisionada, por simplesmente vivermos no senso comum da vida, sem darmos um passo a mais para descobrirmos um novo ingrediente para de nossas vidas. O material que me tira do centro precisa ser identificado. Vivemos na ignorância. Esquecemos que viemos para esse mundo não para sermos bonzinhos, mas para sermos melhores, para melhorar. 

Portanto podemos ter a intenção todos os dias pela manhã de:  “Farei tudo para melhorar”. “Minha mente está cheia de luz e não há espaço para o que não me faz bem.”  “Hoje vou evitar tudo o que não me leva a minha melhora.”   “Eu nasci neste lugar com essas possibilidades, porque precisava disso para me melhorar, para me tornar quem eu sou. Tudo o que eu tenho é perfeito para o que eu vim fazer aqui.

Quando eu faço isso, eu começo a educar a minha mente não permitindo que ela fique confusa.

Mesmo ouvindo coisas tão bonitas minha mente ainda se agitava, questionando, racionalizando, organizando. Mas foi ao prestar atenção nos meus sentidos, e respirar conscientemente é que senti a calma na mente, algo libertador, inteiro, suave começa a acontecer. Ainda tenho um longo caminho pela frente de aprendizado e se eu fizer esse movimento todos os dias, talvez a meditação aconteça, se tiver que acontecer.

Professor Hermógenes diz que somos como uma casa. As portas e janelas são nossos sentidos. Se quisermos meditar precisamos fechar as portas e janelas para voltarmos a nós mesmos e deixar lá fora o que é de fora.

Além da palestra também tivemos as práticas e relaxamento. Foi um sábado de muita delicadeza e suavidade, finalizando com mantra:
  “que todos os seres sejam felizes e vivam em paz para sempre.”

23 de setembro de 2011

Cores

Assim começa a história, do livro “Para se ter uma Floresta" de meu amigo João Proteti  que eu não vejo faz um tempão. Encontrei esse livro e me lembrei de toda delicadeza que ele usa em seus trabalho de desenhos e histórias. Tão criativo, fez um livro que é, na verdade, uma grande ilustração, um livro pôster  Há muitos passarinhos e muitas árvores, mas nenhuma árvore é igual a outra e nenhum passarinho é igual ao outro.

Li uma entrevista dele sobre esse livro e adorei quando ele fala sobre a caixa de lápis de cor, pois para mim até hoje a caixa de lápis de cor tem um encanto e mistério, de onde brotam toda a criação. Nosso universo talvez tenha saído de uma caixa de lápis cor.

Diz ele: Sabe, desde pequeno que os lápis verde e azul sempre acabam primeiro nas minhas caixas de lápis de cor. Depois de adulto é que vim perceber e saber que sempre fui ecológico, sem saber que era. Sempre desenhei árvores, céu, arco-íris, caminho, chuva, passarinho, montanha, planície, mas nunca tive essa preocupação de acordar ou conscientizar outras pessoas para a questão da ecologia. Tudo que faço, faço porque preciso fazer, por mim. Claro que se as pessoas se conscientizarem da sua importância como ser ecológico vendo qualquer trabalho meu, fico satisfeito. Desenho árvores e pássaros desde sempre e acho que eles estavam prontos e armazenados aqui dentro. Neste livro desenhei e colori um a um, com tamanha alegria que me esqueci de contar o tempo. Não sei quantos lápis usei, mas foram muitos. Tão bom tê-los esparramados na mesa por seis meses e fazê-los virar árvores, passarinhos, chuva, semente...

Os passarinhos não são baseados em passarinhos reais. Quem me dera que eu fizesse passarinhos belos como os de Deus! E eu gosto de todos, por igual.

O video abaixo é da música "Passaredo" - letra de Chico Buarque e música de Francis Hime que fala o nome de muitos pássaros.


19 de setembro de 2011

SENSO COMUM


Flor de Lotus
Líder tibetano do budismo, Dalai Lama esteve em São Paulo e falou para milhares de pessoas. Disse que o caminho da violência é infrutífero e defendeu a desmilitarização mundial, que começa pelo desarmamento interno, onde raiva, ódio, medo e ganância são as primeiras causas da violência. Para isso precisamos colocar atenção ao nosso mundo interno emocional e descortinar nossa capacidade de lidar com essas emoções negativas. Disse que o cultivo de valores internos forma a base da vida feliz. Isso deve ser feito através da educação, não pela pregação (religiosa) e que é importante que esses conceitos tenham abrangência universal. 

“Precisamos ensinar, do jardim de infância à faculdade, que a moralidade é o caminho da felicidade. O sistema educacional moderno presta somente atenção no desenvolvimento do cérebro e não no desenvolvimento moral” - completou.

Dalai Lama sai do senso comum, expande nossos horizontes e nos faz ver com clareza que cultivar valores internos é o caminho para nos tornarmos mais integrais. E a educação precisa passar pela moralidade. De que adianta a estrutura política, por exemplo, se as pessoas que a compõem não têm os valores morais como setas que orientam suas decisões? De que adianta ser um médico se não se compreende o que é a vida? De que adianta ser professor se não aprendeu que o aprendizado só acontece se soubermos quem somos e quais valores farão parte de nossa existência? De que adianta ser um engenheiro que não impregna em suas construções as suas próprias construções internas? Ou ainda um psicólogo que não reconhece suas próprias sombras? De que adianta uma grande empresa que não tem como valores a compreensão de que somos todos parte de uma só engrenagem e que tudo o que fizermos terá consequência sobre nós mesmos?

Muitos mais cômodo para nós é permanecer no senso comum, do tipo “todo mundo rouba, então tenho que tirar algum proveito disso”, ou “como vou ensinar bem, ou atender um paciente bem, se não ganho o suficiente para isso?” Falamos tanta coisa durante o dia que já nem pensamos mais no que estamos dizendo e reforçamos nosso senso comum. Expressões como: “a culpa é do chefe”, “homens são todos iguais”, “não tenho tempo”, “não consigo”, “rouba mais faz”, “a professora me persegue”, “coitado do outro”... e tantas outras refletem nossa crença limitante. E a gente continua falando isso reforçando cada vez mais, esquecendo que nossas palavras são vibrações que saem a dançar pelo universo e, como num rodopio, voltam para nós mesmos. Depois reclamamos que não saímos do lugar, que não somos felizes, que a vida é dura e outras crenças mais limitantes ainda. Pode ajudar, ao verbalizarmos uma dessas crenças, perguntarmos: “Que mais?...” e em seguida: “Que mais? ...” até que cheguemos na essência daquele valor. Sempre podemos ir mais além. Sempre.

Sair do senso comum, refletir em nossas crenças e transformá-las fazem parte de nosso autoconhecimento, de descobrir nossos valores e de saber qual é o alicerce sobre o qual eu construo minha existência. Somos seres com infinitas possibilidades.

Uma poderosa ferramenta para nos ajudar a gerir com habilidade a nossa vida é perguntar antes de cada ato se isso nos trará felicidade. Isso vale desde a hora de decidir se vamos ou não usar drogas até se vamos ou não comer aquele terceiro pedaço de torta de banana com creme. (Dalai Lama)

Tanto no cristianismo quanto nos vedas (religião antiga da Índia) falam sobre condutas morais que norteiam nossa caminhada, como por exemplo, Não mentir, não Roubar, a não-violência, etc. São leis universais independentemente de raça, religião, cor, nação, política, sexo, idade etc.

Se ficarmos no senso comum, pensaremos: o político rouba e eu não a violência é a guerra, é o bandido da rua. E ponto final. Não transformamos nada, não expandimos nossa consciência. O que se propõe é ir mais além. É olhar para dentro e ver como a violência, a mentira, o roubar, se manifesta internamente. Eu não roubo o banco, mas eu não aviso o garçom que ele me deu troco a mais, eu roubo o espaço do outro no trabalho, a paciência do outro... e se formos expandindo veremos que temos muitas facetas do ato de roubar que julgamos só estar no outro. Então a partir dessa autoanálise eu posso transformar a mim com reflexos para o mundo.

Dalai Lama é uma inspiração que resgata nossas verdades essências mais básicas.

“Se você quer transformar o mundo, experimente primeiro promover o seu aperfeiçoamento pessoal e realizar inovações no seu próprio interior. Estas atitudes se refletirão em mudanças positivas no seu ambiente familiar. Deste ponto em diante, as mudanças se expandirão em proporções cada vez maiores. Tudo o que fazemos produz efeito, causa algum impacto.” (Dalai Lama)
Namastê - o Deus que está em mim saúda o Deus que está em você

15 de setembro de 2011

Sensibilidade

Em "Coisas da Vida" também há espaço para a sensibilidade.  Este video me lembra quando morava na comunidade de Nazaré. Um dia fomos caminhar por perto e a Evelyn, querida amiga, começou a tocar um instrumento e algumas vaquinhas começaram a se aproximar. Eu que sou um tanto urbana, fiquei com medo, mas Evelyn com sua risada genuína logo me acalmou: "Zezé, não se assuste, elas adoram música."   E eu fiquei tão tocada que a imagem nunca mais saiu de minha cabeça. E agora esse vídeo me fez voltar a mesma emoção.

8 de setembro de 2011

João

Tenho recebido este texto da internet e acho bem bonito.

“Não estás deprimido, estás distraído, por isso acreditas que perdeste algo, o que é impossível, porque tudo te foi dado. Não fizeste um só cabelo de tua cabeça, portanto não podes ser dono de nada. Além disso, a vida não te tira coisas, a vida te liberta de coisas. Te alivia para que voe mais alto, para que alcances a plenitude. Do útero ao túmulo, vivemos numa escola, por isso, o que chamas de problemas são lições. Não perdeste nada, aquele que morre simplesmente está adiantado em relação a nós, porque para lá vamos todos. Além disso, o melhor dele, é o amor, segue em teu coração”. Facundo Cabral

E, por algum motivo, penso no meu pai. Já falei dele aqui no blog algumas vezes. De como é corajoso, de como ele é otimista etc. Sempre sinto um aperto no coração quando vejo todos os seus desafios do dia a dia. Tomar banho, por exemplo, para ele não é uma simples tarefa como para mim. Tem todo um ritual de precisar inclusive de ajuda de minha mãe. Andar é quase uma missão impossível, mas ainda consegue se mover até o quintal para ver suas ferramentas que organiza com tanto zelo e lava a louça do almoço apoiado na pia da cozinha. Por não ouvir, precisamos escrever para que ele nos entenda. E algumas outras coisas mais. Enfim, desafios que só uma pessoa forte pode ter sem esmorecer. E meu pai é assim. Nunca reclama de nada e agradece tudo o que acontece. Agradece quem o ajuda a viver seus desafios, e ainda tenta levantar alguém que está deprimido ou triste.

Ainda hoje, ele, com uma crise de gota (doença reumatólogica), sentindo muita dor e percebendo que minha mãe, sua companheira que neste setembro completa 70 anos de casados, estava triste e de cabeça baixa, disse a ela: “Irene, deixe que a minha dor eu vivo, você só cuida de mim. Não viva a minha dor. Ergue a cabeça que a vida é pra frente.” Eu fiquei ouvindo isso sem respirar e pensando como meu pai vivia suas experiências com tanta sabedoria. Quanto aprendizado ele consegue acessar com aquele corpo frágil. Ele com certeza não é só aquele corpo frágil, ele muito mais que isso. É uma pessoa que compreendeu que cada um tem suas próprias experiências de aprendizado. Ele aceita o que a vida lhe dá, ele confia que tudo vai dar certo, ele entrega suas experiências para a vida, agradece o que tem hoje e consegue ver e ser solidário às pessoas em piores condições.

O resultado disso é que seus filhos, netos, bisnetos, parentes, vizinhos todos o admiram por seu bom humor diante de tantos desafios.

Eu, apesar de ficar triste, fico orgulhosa de ter uma pessoa perto de mim que sabe aproveitar suas experiências para se tornar cada vez melhor. Como foi que ele aprendeu essa fórmula?

Por isso pensei em meu pai ao ler o poema acima, pois ele é o exemplo vivo de que a vida não o tirou nada, só acrescentou mais possibilidades de se expandir mais na compreensão do que é a essência do viver.

Que eu aprenda com ele como viver com tanta dignidade.

4 de setembro de 2011

SOL

Hoje fez um sol lindo e eu me deixei banhar por ele olhando aquela amplidão que tenho o privilégio de ver do meu terracinho, aquele em que eu e o Edmilson passamos horas jogando conversa fora ou simplesmente observando estrelas. Enquanto ele lia seu livro, eu quase adormeci pensando em quantos milagres temos durante o dia e o sol é um milagre que “percorre” o planeta dando vida, a nossa vida.

Existe uma sequência de movimentos do yoga que se chama Saudação ao Sol (veja abaixo). A milenar sabedoria indiana nos ensina que o Sol é o coração do nosso mundo e que gera luz, energia e calor para a Terra e que as pessoas têm uma espécie de “sol interior” e que deve estar sempre em contato com o Sol exterior que é a força capaz de integrar todos os homens por meio de sua luz, poder e grandeza.

29 de agosto de 2011

Solidariedade


Yaseturo Yamada - engenheiro aposentado e autor da idéia
Já vi solidariedade em tempos de furacão, enchente, de guerra, de fome, mas dessa natureza, nunca tinha visto. É infinito o nosso poder de expandir mais nossa criatividade, nossas possibilidades, nosso servir, nossa amorosidade...

Coloco aqui na íntegra o post do blog de Marta Medeiros, mostrando um grande exemplo de solidariedade, de consciência de que fazemos parte de um grande todo.


Marta Medeiros – Espírito de Coletividade

Recebi um texto sem autoria, e só tive como comprovar sua autenticidade através do google, que ora avaliza os fatos, ora nos faz de bobos. Mas, ao ler seu conteúdo, tive forte impressão de que é verdade.

O fato: um grupo de 200 aposentados japoneses, engenheiros em sua maioria, está se oferecendo para substituir trabalhadores mais jovens no perigoso trabalho de manutenção da usina nuclear de Fukushima, que foi seriamente afetada pelo terremoto de quatro meses atrás. Os reparos envolvem altos níveis de radioatividade cancerígena, como se sabe.

Em entrevista à BBC, o voluntário Yaseturu Yamada, de 72 anos, diz que tem procurado convencer o governo sobre as vantagens de se aceitar a mão de obra da terceira idade. Conclui ele: “Em média, devo viver mais uns 15 anos. Já um câncer vindo da radiação levaria de 20 a 30 anos para se manifestar. Logo, nós que somos mais velhos temos menos risco de desenvolver a doença.”

Ou seja: cidadãos que estão na faixa entre 60 e 70 anos, muitos deles inativos, querem dar sua última contribuição à sociedade e, ao mesmo tempo, liberar os jovens de um trabalho que lhes subtrairia muitos anos produtivos de vida, enquanto que, para homens de idade mais avançada, não haveria diferença significativa.

Essa é uma notícia que deve fazer refletir a todos nós. Não se trata apenas de generosidade, mas de consciência. Os idosos japoneses não estão sendo bonzinhos, e sim exercendo o sentido de responsabilidade, que a eles é muito comum. Estão pensando na sociedade como algo que só funciona em conjunto, e não individualmente.

Acredito que quando a gente faz o bem para si mesmo, com ética e respeito à lei, sem ônus para nossos pares, está fazendo também o bem para todos, mas não basta: é preciso ir além, desconectar-se das vantagens pessoais para pensar no futuro, no que temos para doar em benefício daqueles que têm mais a perder.

Um jovem de 18 anos pode contrair câncer aos 38 se trabalhar numa usina nucelar acidentada. A sociedade japonesa perde se abrir mão da força de trabalho de cidadãos de 38 anos. A família japonesa também. É essa visão macroscópica da funcionalidade que faz evoluir um país.

Dizem que a gente fica com o coração mole à medida que o tempo passa. Não é por causa de coração mole que esses aposentados japoneses estão se candidatando a um trabalho insalubre. É porque estão acostumados a transformar intempéries em oportunidades, tanto pessoais quanto coletivas, sem distinção. Coração mole tenho eu que me emociono ao ver como seria fácil ser grande, se tivéssemos a grandeza necessária.

28 de agosto de 2011

Bom humor


Recebi esse video de um amigo amante de vinho, que sabe de meu entusiasmo por Yoga. Acho que ele cabe aqui neste blog "Coisas da Vida" pelo bom humor e pela delicadeza nas imagens....

Tempo

Nossa! O tempo está indo cada vez mais rápido! Nossa! Já é setembro! Nossa! O ano já acabou!

Quantas vezes ouvimos ou dizemos isso? Ficamos tão impressionados que achamos que o tempo está andando mais rápido que antigamente.

Mário Quintana escreveu:
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

No nosso dia-a-dia, às vezes sentimos que não temos tempo para nada, nem mesmo para dar conta das atividades no nosso trabalho. Está ocorrendo um fenômeno comum nas empresas, por exemplo, onde os funcionários têm muito trabalho e, por terem competência, lhes é passado mais trabalho. E como é humanamente impossível executá-los de forma orgânica, surge então a frustração de ter trabalhado muito, dedicado muitas horas, inclusive abrindo mão dos horários de descanso e, no fim, o trabalho não foi totalmente concluído ou só foi concluída parte dele.

Mas não só no trabalho profissional sentiremos essa frustração, mas também em nossa vida pessoal quando o que planejamos não se concretiza, quando o rumo de algum evento é diferente daquilo que organizamos previamente. A frustração então é gerada por criarmos expectativas que não se realizam, provocando mal-estar.

Como em tudo em nossa vida, temos escolhas. Se observarmos e enfrentarmos a frustração, sem negá-la ou evitá-la, podemos observar que ela é uma forte força de movimento e não de estagnação como a gente imagina num primeiro momento. Grandes realizações da história da civilização aconteceram em momentos de frustração e sofrimento − como, por exemplo, as pestes e as vacinas, a penicilina, as inúmeras aplicações tecnológicas da ciência etc. O fato de nos sentirmos imperfeitos e incompletos nos acorda, nos motiva a procurar sempre a perfeição.

Segundo Héctor Rafael Lisondo, psicólogo, na trilha em busca da evolução “tem-se muito mais contato com a frustração do que com a satisfação e, mais ainda, pode-se dizer que a segunda é consequência da capacidade para lidar com a primeira. Até de uma perspectiva psicológica, também se pode afirmar que a nossa missão como pais na formação dos nossos filhos não é o compromisso com a felicidade deles, mas com o seu desenvolvimento, e este nem sempre implica em felicidade ou alegria. Freud acreditava que o homem caminha em duas direções: a busca de evitar o sofrimento e o desprazer e a procura da experiência intensa de prazer. Convém aos líderes conhecer esta realidade e tomar contato com o inevitável sofrimento que os acomete assim como aos seus seguidores, na trilha cotidiana da vida organizacional. Está ali, adormecido, um rico potencial de criatividade e desenvolvimento que, se bem canalizado, pode vir a resultar em realizações. Trata-se de ajudar as pessoas para que as inevitáveis contrariedades não as conduzam à desesperança, à resignação ou à depressão e possam lutar para transformar o limão em limonada, a fazer um bom negócio a partir de um mal negócio. Todavia, não se trata de apelar a exortações ocas e/ou hipócritas, mas de criar oportunidades para poder falar sobre esses dolorosos e inconfessos sentimentos, que de outra maneira, se permanecerem ocultos, acabam por produzir fantasias de incompetência, e/ou impotência, e/ou negação. 

Para isso é necessário que a função da liderança inclua a construção de relações de respeito e confiança com os seguidores. Trata-se da disposição para investir permanentemente em relacionamentos de qualidade, capazes de enfrentar a verdade com coragem − não apenas a verdade relacionada ao mundo externo, mas principalmente o contato com a verdade oculta na interioridade própria e dos seguidores, aquela que nos poderia dizer o que realmente somos. Trata-se da coragem para contestar crenças e paradigmas profundamente enraizados na nossa cultura organizacional, como o de querer ocultar as fraquezas e parecer o que não se é − tentativa essa que, em geral, se constitui apenas como ledo engano, uma vez que acalma a ansiedade às custas de inibir o pensamento e a criatividade.

Estava eu aqui falando do tempo e me enveredei a falar de frustrações. De qualquer forma as coisas são todas ligadas. Novamente aqui, a resposta é interna: ela está na observação do que eu sinto, do que eu experimento física, emocional e espiritualmente. Esses conteúdos nos levam a paragens mais expansivas porque temos que olhar para nossas “velhas formas do viver”, para nossos valores, para como eu quero viver a minha vida, o que é realmente importante neste momento da minha experiência humana. Nesse movimento criamos uma força interna que nos impulsiona para buscar saídas criativas que podem, como disse o poeta, “transformar as velhas formas do viver”.

Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...
(Gilberto Gil)