Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

17 de março de 2011

Renascimento, A Arte da Respiração

Estarei 9 dias fazendo o curso avançado de Renascimento, dessa vez não nas montanhas, mas em Maresias. Abaixo, deixo o mesmo vídeo que já deixei da outra vez, só para ilustrar o que é essa técnica maravilhosa chamada Renascimento.

Uma vez perguntaram ao Buda:
- Qual é a programação para hoje, mestre?
E ele respondeu:
- Respirar, respirar e respirar...


15 de março de 2011

Uma ecovila


Onde se realizam os cursos - visão privilegiada

Esse ano, minha professora de Yoga deixou de ser minha professora de Yoga. Ela foi ter uma outra experiência em uma ecovila.

Domingo resolvi então, junto com minha amiga Maria, visitar essa ecovila chamada “Parque Ecológico Visão Futuro” que tem como objetivo se tornar um modelo de desenvolvimento rural integrado e sustentável, construindo uma economia solidária e autossuficiente, provendo alimento, educação, saúde e habitação aos seus integrantes.

Eles têm diversos projetos interessantes com uma abordagem abrangente onde, como diz Susan Andrews,  “somos todos conectados não só na família da humanidade, mas na família de toda criação”.

Pausa para um suco e bolo de banana


Foi muito bom andar naquele verde reluzente. Enquanto caminhávamos, pudemos ver as instalações ecológicas – cata-ventos, aquecimento solar, tratamento biológico da água de esgoto, reciclagem de água, agricultura orgânica e compostagem, a horta de plantas medicinais, cujo laboratório fitoterápico produz medicamentos ayrvédicos, tudo compartilhado com o público em geral em programas abertos.

Jardim de ervas medicinais
 Também existe a creche CreSer onde as crianças da região aprendem a ler e a escrever e também desenvolvem automotivação, dignidade, valores éticos e amor para com todos os seres, incluindo o que se chama de “Alfabetização Emocional", cuja essência é despertar nas crianças a empatia pela vida como um todo.

Uma visão privilegiada

Sala de meditação
Durante o tour, um guia nos mostra os lugares e explica tudo. “Uma micro-destilaria de álcool faz parte da nossa meta de 'Soberania Alimentar e Energética'. A cana de açúcar não é cultivada de forma intensiva e extensiva, mas sim consorciada com feijão, girassol e mandioca. Com isso, além de produzirmos a energia renovável que abastece os nossos veículos, produzimos alimentos para os moradores e para o bairro no nosso entorno.”

Existe também o “Programa Transforma” que é um conjunto de estratégias para introduzir mudanças mais eficientes e conscientes nas empresas para gerar uma nova cultura de sinergia entre o indivíduo, a equipe, a instituição e a comunidade - mudanças profundas baseadas em valores éticos, transformando os participantes por meio do crescimento interior.

Eles também trabalham com a proposta da Felicidade Interna Bruta (FIB) que é um indicador criado no Butão como um novo paradigma de indicador de progresso, e que mede a verdadeira riqueza de uma comunidade (bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, boa saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gestão equilibrada do tempo e bem estar psicológico). Esses indicadores foram desenvolvidos por pesquisadores internacionais, com o apoio das Nações Unidas para o Desenvolvimento, com o objetivo de mobilizar a cidadania (adultos, jovens e crianças) em prol do bem-estar coletivo nas nove dimensões do Indicador FIB.

Isso é feito através da coleta de dados a partir do questionário FIB, ministrado pelos jovens do bairro, seguido de uma série de reuniões na comunidade para incentivar o protagonismo da população na busca contínua da felicidade individual e comunitária.

Depois disso, uma nova abordagem de “Educação para Felicidade” é introduzida nas instituições de ensino locais, com a finalidade de promover valores positivos nas crianças e nos jovens, de uma forma lúdica e duradoura, e também para proporcionar seu desenvolvimento integral através de técnicas de harmonização corpo-mente. A plena expressão do potencial de liderança é estimulada nas crianças - tornando-as “Agentes de Alegria” que inspiram e motivam os adultos - e nos jovens que atuam como dinâmicos parceiros dos adultos no movimento a favor do bem-estar coletivo e do desenvolvimento sustentável local.

Atualmente, esses indicadores estão sendo implementados não somente no Butão, mas também em outros países do mundo, tais como Inglaterra, EUA, Tailândia e Canadá, bem como em cidades no Brasil.

Conhecer a Susan Andrews também foi muito bom. Terminei o domingo com um ótimo sentimento de agradecimento por saber que existem tantas pessoas incansáveis construindo, aos pouquinhos, relações mais eficientes que nos apóiam em nossa expansão de consciência.
Um dos cantinhos do Parque

9 de março de 2011

Relacionar

O livro de Elizabeth Gilbert, “A Comprometida”, fala sobre a instituição casamento, e basicamente sobre relacionamentos. E diz que, depois de um tempo em que homens e mulheres vivem juntos, começam a conhecer não só as falhas um do outro, mas também o que é digno de respeito e admiração do outro. Com muita lucidez sugere que “talvez criar um espaço dentro da consciência grande o bastante para guardar e aceitar as contradições de alguém, seja um ato divino. Talvez a transcendência não se encontre só nos picos solitários das montanhas ou nos ambientes monásticos, mas também na mesa da cozinha, na aceitação cotidiana do parceiro. Não falo em aprender a aguentar o que não presta, falo em aprender a adaptar a vida da maneira mais generosa possível em torno de um ser humano basicamente decente que às vezes podem ser insuportável. Quanto a isso, a cozinha pode ser um templinho azulejado aonde vamos praticando diariamente o perdão como nós mesmos gostaríamos de ser perdoados.”

É verdade que relacionar-se com o outro é um processo de aprendizagem constante e também uma forma de se desenvolver e se autoconhecer, desde que sejamos honestos com nós mesmos, não achando que relacionamentos são aqueles vistos nas novelas de TV. Saber que o outro é um ser humano diferente de mim e aceitar isso já faz grande diferença em como vou me relacionar.

Ainda nesse livro, ela descreve lindamente sua aceitação com o diferente. Diz ela: “... há diferenças simples entre mim e Felipe que ambos temos que aceitar. Posso garantir que ele jamais fará uma aula de ioga comigo, por mais que eu tente convencê-lo de que ele adoraria. (Ele não adoraria mesmo). Nunca meditaremos juntos num retiro espiritual de fim de semana. Nunca conseguirei que ele coma menos carne vermelha. Jamais farei com que controle seu mau humor. Não vamos passear de mãos dadas pela feira... de modo que esse imenso prazer meu continuará a ser um prazer particular. Do mesmo modo, há prazeres na vida dele que jamais serão meus. Nunca tivemos filhos, por isso Felipe não pode ficar horas a fio conversando com a parceira sobre seus filhos Zo e Erica quando eram pequenos, como talvez fizesse se o casamento com a mãe deles tivesse durado 30 anos. Ele adora bons vinhos, mas me servir vinho bom seria um desperdício. Algumas dessas diferenças são importantes outras nem tantos, mas todas inalteráveis. No final das contas parece que o perdão talvez seja o único antídoto realista que o amor nos oferece para combater as decepções inevitáveis da intimidade.
Há momentos em que quase consigo ver o espaço que me separa de Felipe, e que sempre nos separará, apesar do meu anseio vitalício de me complementar pelo amor de alguém, apesar do meu esforço, no decorrer dos anos, para encontrar alguém que seja perfeito para mim e que, por sua vez, faça com que eu torne um tipo aperfeiçoado. Em vez disso, as nossas dessemelhanças e defeitos estarão sempre entre nós.
É difícil que haja um presente mais generoso que se possa dar a alguém do que aceitar a pessoa por inteiro, amá-la quase apesar dela.

O relacionamento é uma eterna possibilidade de ver espelhado no outro aquilo que gosto e o que não gosto em mim mesma e, com coragem, contestar nossas crenças e paradigmas arraigados e que estão lá confortavelmente estabelecidos. Não se trata de negá-los ou evitá-los, mas trata-se de investir em relacionamentos de qualidade capazes de enfrentar a verdade sobre nós mesmos. Ao relacionarmos, entramos em contato com sentimentos novos que são só nossos e temos que aprender a lidar com eles. Às vezes caímos na armadilha de achar que o outro é responsável pela nossa paz interna, nossa felicidade e nossa alegria. Não é. O outro tem seu próprio processo, seu próprio ritmo de processar o sentimento e suas crenças limitantes. Esperar que o outro aja, sinta e pense exatamente como nós é querer algo que foge do natural.

Jung diz que todo relacionamento é 50% de responsabilidade para cada uma das partes. Um relacionamento, na verdade, é resultado do que as partes colocam nele.

Então, me parece que aceitar (e claro não falo aqui de aceitar agressão, violência, etc.) o outro como um ser integral e único é o caminho para assumir minha parte de responsabilidade na relação gerando um crescimento individual para as pessoas envolvidas.


Änïmä
Milton Nascimento

Lapidar
Minha procura toda
trama lapidar
o que o coração
com toda inspiração
achou de nomear
gritando: alma
Recriar
cada momento belo já vivido
e ir mais
atravessar fronteiras do amanhecer
e ao entardecer
olhar com calma
então

Alma, vai além de tudo
o que o nosso mundo ousa perceber
casa cheia de coragem, vida
tira a mancha que há no meu ser
te quero ver
te quero ser
alma

Viajar nessa procura toda
de me lapidar
neste momento agora de me recriar
de me gratificar
de busto, alma, eu sei
casa aberta
onde mora o mestre, o mago da luz
onde se encontra o templo que inventa a cor
Animará o amor
Onde se esquece a paz

Alma, vai além de tudo
o que o nosso mundo ousa perceber
casa cheia de coragem, vida
todo o afeto que há no meu ser
te quero ver, te quero ser
alma

5 de março de 2011

90 ANOS


Meu pai, cheio de bom humor
Hoje meu pai fez 90 anos.
Nós (filhos, netos, bisnetos e agregados) celebramos esse dia, afinal não é sempre que temos alguém fazendo 90 anos, com um um filme contanto sua vida desde quando nasceu. Muita emoção para ele e para todos os familiares.

Meu pai chegou aos 90 com dignidade, com bom humor e com uma sabedoria que foi adquirindo durante esses anos, enfrentando cada evento do dia-a-dia sem fraquejar. Por não reclamar de nada, apesar de suas dificuldades de ouvir e andar, tem uma energia boa e todas as pessoas gostam de estar a seu lado. Conta suas histórias, às vezes repetidas, com tanta graça e humor que rimos delas novamente.

O humor e o não reclamar fazem parte de nossa cura interna. Ao reclamar, esvaziamos nossa energia e abrimos espaço para que a negatividade se instale. Às vezes temos o vício de reclamar e não conseguimos abrir espaços para que a alegria apareça. Ficamos presos ao passado, a algum sentimento que não precisamos mais. E meu pai, com seu exemplo de vida, me inspira a agradecer, ao invés de reclamar.

Agradecer meu corpo, esse instrumento perfeito que tem uma inteligência curadora, regulando todo esse sistema.
Agradecer o ar que ao entrar e sair me proporciona tranqüilidade, relaxamento.
Agradecer a vida que pulsa em mim, em todas as pessoas e em todo o Universo.
Agradecer por poder celebrar os 90 anos de vida de meu pai.

Meu pai e minha mãe assistindo o filme de suas vidas