Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

22 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo

 
Como vimos, o mundo não acabou. Desde os anos 70 ouço falar que o mundo vai acabar em alguma data. Espalha-se o medo. Lembro-me quando morei na comunidade de Nazaré: muitas pessoas querendo ficar lá nos 3 dias de escuridão que aconteceriam antes do fim do mundo. Nosso papel ali era retirar o medo, renovar a fé e esperança no Criador e mudar o foco para a luz.
 
Podemos, se quisermos, sair desse paradigma velho de destruição, virar o olhar para o que está surgindo de novo no mundo através de pessoas em todas as áreas - na ecologia, na conscientização do consumo, na reutilização dos bens, no querer se conhecer, principalmente em momentos de estresse, nos professores especiais de artes, de filosofia, nos professores especiais de crianças e adultos, na conscientização do que comemos e para que comemos, do que falamos e do que escutamos, na vontade de acertar e de respirar, no desejo e disciplina com relação à ética, no trabalho incessante pela paz interna e mundial, no trabalho de humanização das empresas para que elas sejam integradas à sociedade prestando serviços de qualidade.
 
Há muito sendo feito no mundo para que ele se transforme e cabe a nós escolhermos direcionar a nossa mente para esse novo que se vislumbra, que não separa, que integra, que respira num mesmo ritmo. E isso só é possível a partir de um ponto dentro de nós. É dentro de nós que nasce a centelha de vida que podemos manifestar no mundo, é lá que moram todas as possibilidades.
 
É assim que quero começar esse ano: depositando ainda mais minha certeza de que tudo está sob uma ordem cósmica inteligente.
 
 
Esse vídeo traz uma música tão linda que me emocionou e, por isso, coloco aqui para finalizar o ano com um momento que eleva nosso espírito.

Também deixo uma dica de um CD que traz uma delicadeza suave e bela com as músicas dos Beatles tocadas por instrumentos feitos por um dos integrantes do grupo que sabe como ninguém trazer o que há de sublime para embelezar o mundo.   -   Uakti - Beatles

 
 Não tenho nada a pedir a não ser que todos nós sejamos abençoados com o conhecimento, para nos afastarmos da ignorância e desejando que “todos os seres sejam felizes e vivam em paz para sempre” (da música de Márcio Assumpção).
 
 

16 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL



E assim estamos, então, perto de mais um Natal. Não entro nada nesse clima de compras e presentes, mas o clima está aí. Procuro fazer outras coisas que gosto muito e que dá aquele ar de leveza e abertura de coração. Outro dia fui a uma meditação de Natal, tão singela que é impossível não aquietar o coração. Almoçar com aquelas amigas que combinamos todo ano também é um bem enorme. Fui ver o Coral numa igreja de Campinas construída há 149 anos, que fica dentro do Hospital Santa Casa atrás da Prefeitura, que nem sabia que existia. Foi muito legal e tudo tinha um som de alegria.
 
E na Catedral de Campinas fui ver a Orquestra Sinfônica que tocou a beleza do silêncio. Também fui ao Satsanga do Instituto de Yoga. O tema esse ano foi a Gratidão. No fim foi lido um texto do Márcio Assumpção que coloco a seguir por partilhar essa onda de gratidão. E desejando que todos os seres sejam felizes no dia de Natal - e sempre.

 

Oração de Gratidão 

Pai,
Ensina-me a nada pedir e a ser grato por tudo
Gratidão
Pelo meu nascimento, pelas condições em que nasci e pela minha família.
Gratidão
Pela minha infância. Hoje eu sei que tive o que precisei para traçar a trajetória da minha vida.
Gratidão
Pela minha juventude. Hoje eu sei o quanto ser jovem me ensinou a ter coragem, arriscar e seguir em frente.
Gratidão
Pelos desafios da vida adulta. Estou aprendendo que cada obstáculo é uma lição para meu crescimento.
Gratidão
Pelos sucessos e pelos acertos. Estou aprendendo que é preciso ter humildade para acolher os bons frutos.
Gratidão também
Pelos insucessos e pelos erros não intencionais. Estou aprendendo que a Vida é dual e também é preciso ter humildades para colher as ações que plantei no passado.
Gratidão
Pelas pessoas que me querem bem, pois me ensinam a amar e me motivam a seguir em frente.
Gratidão ainda maior
Pelas pessoas que me veem como desafeto e criam obstáculos na minha vida, pois são essas pessoas que me impulsionam mudanças e transformações profundas.
Gratidão
Pela minha velhice, presente ou futura. Estou aprendendo que envelhecer me prepara para a grande passagem e me torna maduro e quem sabe, mais sábio.
O que pedir quando reconhecemos que tudo respeita uma ordem Universal?
Não tenho mais nada a pedir.
Só tenho a agradecer e reconhecer.
Pai, muito obrigada.
                                                                                      NAMASTÊ

13 de dezembro de 2012

Soltar


No livro “Meditando com os Anjos” escrito por Sonia Café, a Neide Inneco desenhou o Anjo do Desapego, sem asas, representando o desapego até mesmo de sua poderosa ferramenta que o fazia voar.

Porque a palavra desapego nos remete a algo pesado, quase impossível de se realizar?

Como desapegar de coisas que nos sustentam? Meu carro, minha blusa vermelha, meus cds, meu celular. Quando meu carro foi levado por duas pessoas que me deixaram ali literalmente “sem lenço, sem documento”, como diz Caetano, entrei em contato com esse desapegar. Por incrível que pareça, passado o susto e mais um tempinho para eu conseguir sair à rua normalmente, o que mais me fazia lembrar da perda eram meus livros que tinham ficado no carro. Era meu material de trabalho. Eu dava aulas com eles. Talvez eles simbolizassem para mim o conhecimento, aquilo que eu aprendera e que tentava ensinar para meus alunos. Mas isso nem aquelas duas pessoas e nem ninguém conseguem tirar de mim. Então, para que desaquietar minha mente com esses pensamentos?

Desapego então é descongestionar a mente, é deixá-la livre. Tudo aquilo que agita a mente é de certa forma um apego. Desapego tem um gosto de adeus, adeus aos objetos, às pessoas, aos velhos e improdutivos conceitos e às ineficientes formas de pensar.

Quantas vezes estamos vivendo um momento novo e não conseguimos deixar o momento velho ir embora, não conseguimos nos desapegar dele e ficamos com a energia estagnada de algo que já morreu, sem termos consciência que, se soltarmos o que não precisamos mais, isso significa justamente nossa libertação?

O desapego pode ser analisado de uma forma bem mais profunda. Seguramos, em nossa mente, mágoa de alguém por meses, anos, vidas. Não abrimos mão de nossos “achismos”. Não queremos ouvir o que o outro tem a dizer por medo de que ele nos convença que temos velhos pensamentos sobre o que é a vida. Não pensamos na possibilidade de que possamos estar errados e nos apegamos à nossa verdade, às nossas crenças. Apegamo-nos aos nossos julgamentos considerando que se o outro não pensa como eu, então sou melhor e ele tem de se modificar. Quantas vezes lemos alguma frase ou lemos algum livro e achamos que quem precisa daquilo é o outro?

Desapegar é deixar partir aquilo que não nos serve mais. Abrir espaços internos para o que já está vindo de novo. Desapegar é sair da posição de vítima, é parar de reclamar e se apropriar de sua própria vida, não deixando para o outro essa decisão. Desapegar é assumir-se como cocriador dos eventos que te acontecem e buscar a profunda compreensão deles, nos permitindo ver através das ilusões, através da dualidade de todas as coisas.

Bom, olhando para aquele anjo que a Neide, desapegando da imagem original do Jogo da Transformação e criando este, sem asas, pude constatar quanto ele é livre porque, uma vez assimilando esse valor, já não precisamos mais de recursos externos, porque aprendemos que dentro de nós já existem todas as possibilidades, todo o silêncio necessário para termos o desapego daquilo que não nos permite viver a paz mental que já está lá.

30 de novembro de 2012

Lua


Ontem às 4horas da manhã, ouvi alguém me chamando claramente: “Zezé!” Acordei pensando que alguém estava no meu quarto. Não havia ninguém. Como estava calor, abri a janela do meu quarto que dá pra sacada. Saí na sacada e não acreditei na lua que se despontava no céu.  Fiquei ali por alguns instantes eternos. Um momento daqueles em que nada mais existe a não ser aquela sensação de expansão. Não pensava nada, não elaborava nada. Era só aquela cor prata visitando um silêncio que estava fora e dentro de mim. Não sei por que acordei com alguém me chamando tão nitidamente, talvez alguma parte de mim mesma, minha própria alma.  Depois dessa eternidade voltei pro meu quarto e dormi profundamente.

Hoje fiquei com vontade de ouvir essa música.
 

 Oh Lua.
Oh Lua, eu Vos agradeço por este luar criador
Em troca Vos ofereço esta canção com amor
Vós mais o meu Sol Dourado que embeleza o céu
São que nos dão este conforto aqui, doce como mel
Dou viva ao Sol e à Lua a às Estrelas também
A terra, a floresta e o mar o vento e a todo além.
 

23 de novembro de 2012

Expressão


"O serviço se transforma em autorrealização
quando você descobre o lugar em que sua alegria
 profunda e a fome do mundo se encontram"
(Frederick Buechner)

 
Tenho ouvido de alguns adolescentes palavras de angústias porque não sabem o que querem fazer, não sabem nem mesmo que curso universitário escolher, porque não sabem nem mesmo do que gostam. Algo bem compreensível ao pensar que a escola ensina coisas dizendo que saber aquilo que ensinam vai ser bom porque vai cair no vestibular. Pensei que o que aprendemos deveria ser bom para a vida, para eu me conhecer melhor, para eu saber como posso contribuir no mundo em que eu e minha espécie moramos temporariamente. Ao invés disso nosso ensino empobrece dizendo todos os anos que o que estudamos é para ir bem no vestibular.
 
Mas nesse mundo atual, em que os valores estão mais ligados ao ter e não ao ser, vamos nos perdendo porque nos identificamos com as coisas que temos e depositamos nelas todas as nossas fichas para a nossa felicidade. E como podemos contribuir para a sociedade se não sabemos nem mesmo quais são os valores que dão suporte à nossa existência? 
 
Acabamos vivendo as coisas comuns, tendo ideias comuns, trabalhando em coisas que não nos satisfazem. 
 
E lá pelos 50 anos começamos a segunda versão da adolescência, com as mesmas perguntas: o que vou fazer agora? E ficamos agora com mais tempo pensando qual seria nossa vocação. Como podemos nos expressar no mundo? É um momento muito intenso onde podemos ser o que quisermos. É como se descobríssemos que temos todas as potencialidades dentro de nós e só precisamos descobrir onde usá-las.
 
No livro A Prática de Vida Integral, os autores dizem que para encontrar a nossa vocação, temos que atender aos chamados que a vida vai fazendo. Dizem eles:
 
"Às vezes, a vida nos manda sinais. Como parte do processo de crescimento, você vai aprender a reconhecê-los. Quando você percebe que está sempre envolvido na mesma dinâmica, seja no trabalho seja nos relacionamentos, é bom ficar atento. Você pode estar recebendo um chamado para aprender lições profundas e importantes. Sonhos recorrentes podem conter mensagens ocultas. Estranhas coincidências podem indicar passagens inesperadas para um novo terreno. Palavras ou músicas que ressoam muito profundamente e o acompanham podem conter indícios. Essas indicações podem ajudá-lo a elucidar uma escolha fundamental ou apontar para uma dimensão do seu ser que precisa se revelar.
 
Às vezes, o chamado pode desafiá-lo com mais vigor, exigindo que você reavalie o significado e a direção da sua vida. Você pode perder o emprego ou o relacionamento. Inversamente pode receber uma oferta de um emprego inesperada e importante ou deparar com outra oportunidade positiva capaz de mudar a sua vida. A morte de alguém ou um acidente podem mudar curso da nossa vida. Assim como um caso de amor ou um súbito golpe de sorte.
 
Tudo que você pode fazer é prestar atenção e estar disposto a atender ao chamado quando a vida lhe fala. Algumas dessas lições podem ser brutais. Outras podem ser estranhamente delicadas. Cada instrução o prepara de maneira especial para o que está por vir. Cada experiência desempenha um papel no processo de moldar a forma única da sua contribuição para o Kosmos e para a sua comunidade.
 
Quando definir qual é o seu serviço, você não terá outra escolha além de realizá-lo . Há uma vitalidade, uma força vital, uma energia que por meio de você se transforma em ação, e como você é único em todos os tempos, essa expressão é única. Se você a reprimir, ela nunca existirá através de outro meio e se perderá. O mundo não a terá.
 
 

18 de novembro de 2012

Música


A música sempre fez parte de minha vida. Como não tínhamos televisão – sim jovens, houve um tempo na humanidade em que muita gente não tinha televisão, ela só apareceu em casa quando eu tinha 12 anos e uma das primeiras coisas que assisti foi o homem pisando na lua dizendo: “Esse é um pequeno passo para um homem e um grande salto para a humanidade” eu nem entendia muito o que isso queria dizer, mas me lembro de meu pai pensando que aquilo só podia ser uma montagem. Não era. Lá estávamos nós alcançando nosso satélite e eu aqui na terra fazendo minhas descobertas internas que me impactavam muito mais. Como não tínhamos televisão, repito, a gente ouvia música no rádio.

Ainda me lembro que foi num balanço no quintal de minha casa, no Parque Industrial, quando o rádio de casa tocava uma música do Trio Esperança, de repente percebi, nos meus 10 anos de idade que aquela música não era só um amontoado de palavras, as palavras contavam uma história! Corri para dentro de casa, subi em uma cadeira e comecei a virar o botão do rádio que ficava em cima da geladeira. Mais música e mais histórias dentro da música, outra estação, outra música com histórias e mais e mais. Definitivamente tinha descoberto ali a poesia dentro da música.

E a partir daí um mundo mais intenso e vibrante se descortinava dentro de mim. Entrei para o “Canto Orfeônico” no grupo escolar que ficava a duas quadras de casa. Lembro que, além do Hino Nacional, do Hino da Bandeira, do Hino do Índio, também cantávamos Roda Viva de Chico Buarque e eu me imaginava na roda gigante do parque de diversão que ficava na outra esquina da rua de casa. E amava cantar mesmo que ainda não alcançasse a outra roda gigante de que Chico falava. Em casa todos gostavam de cantar. Minha irmã Nadir cantava no Circo Irmãos Almeida e ganhava prêmios. Aos domingos ela ia ver o Renato e seus Blue Caps na rádio e me levava. Eu amava. No ginásio (equivalente hoje ao período do 6º ao 9º ano), eu e minhas amigas tentávamos tirar a letra, ouvindo no rádio, de todas as músicas de Raul Seixas e, depois, íamos comparando pra ver se tínhamos pegado a música certinha. E fazíamos isso com Chico Buarque e dávamos para a professora de Português, porque já que era inevitável ter que fazer exercícios de análise sintática, então que fosse nas letras de gênio Chico Buarque. E a professora vez ou outra aceitava nossos apelos.

E foi nos anos 80 que entrei para o Coral de Campinas – Coca, e como era bom cantar. E cantamos, entre tantas outras, a Nona Sinfonia de Beethoven.

Até hoje descubro muita coisa boa. Música alimenta a alma, descansa os músculos, deixa a mente serena.

E nesse fim de semana fomos até Belo Horizonte ver o show do Uakti tocando Beatles. Que coisa linda! Com seus instrumentos próprios, todos construídos pelo meu amigo Marco Antonio Guimarães, um gênio. Eles conseguem tirar a essência das músicas, mesmo dessas que já foram tocadas indefinidamente e com tantos arranjos diferentes por músicos de todas as nacionalidades. Tanta sensibilidade nas delicadas notas retiradas daqueles instrumentos estranhos, me envolveu demais. Causa surpresa como eles conseguem tirar de algo como madeira, vidro, água, tubos de PVC e outros materiais tanta poesia, mostrando que, sim, a música, o som está contido em tudo nesse universo e talvez para além desse universo. E eles tiram o excesso de todas as coisas e só deixam a música, pura.

Eu me senti no balanço do quintal de casa, fazendo descobertas em mim mesma, ampliando minha sensibilidade, expandindo meus ouvidos e abrindo meu coração. Obrigado Uakti.
 
 

10 de novembro de 2012

Mudanças

Ufa que calor!  Não só o do tempo, mas também aquele que vem com o tempo. Isso me lembra minha mãe que se abanava mesmo quando não era calor e eu não entendia muito bem o motivo. E aqui estou eu sentindo as famosas ondas de calor – “hot flash”, em inglês, assim elas parecem soar mais simpáticas.

Estive estudando um pouco sobre essa fase por não querer acreditar no que a sociedade diz sobre ela e sobre as mulheres que a ela chegam – de que algo acabou, de que estamos perdendo alguma coisa, de que estamos envelhecendo e que os sintomas são quase uma punição.

De repente, você abre os olhos e lá está você vivendo uma fase que é diferente de todas as outras. Os hormônios na adolescência modificam seu corpo, lhe dão novos sentimentos e a sociedade lhe aplaude, porque você está passando para a fase adulta, a fase de “mulher” e sua pele está brilhante e toda uma força invade seu ser e você, na sua imaturidade, não sabe muito bem o que fazer com tudo o que está acontecendo interna e externamente. Mas tudo se estabiliza em algum momento.

Nessa segunda adolescência acontecem muitas mudanças também, mas, do mesmo modo que antes, a estabilidade virá.

“Seus ovários e a glândula pituitária entram numa dança alternadamente suave e lírica ou frenética e descontrolada. Cansados de produzir óvulos, os ovários querem se aposentar e deixar a produção de hormônios por conta das supra-renais e de outros órgãos. Preferem a valsa – lenta e suave – que vai entrando, pouco a pouco, em um ritmo cada vez mais sonolento. A glândula pituitária, por outro lado, quer se manter ativa e para que tudo continue funcionando, envia quantidades ainda maiores de hormônio folículo – estimulante (FSH) e de hormônio luteinizante (LH) para tirar os ovários da fossa, estimulando-os a produzir mais estrogênio e progesterona.

Entrar na menopausa com uma atitude saudável a respeito de si mesma faz uma enorme diferença. No Ocidente, as mulheres sofrem muito mais do que nas culturas em que a beleza e a sabedoria das mais velhas é celebrada. Se a cultura ocidental apoiasse as mulheres na transição dos anos férteis para os anos sábios, você sentiria o aumento de temperatura como uma onda de poder e acharia reconfortante ter cabelo grisalho e uma cintura maior.

A yoga pode ajudá-la a prestar atenção naquilo que o corpo e suas mudanças têm a lhe dizer. Ela redireciona seu foco para dentro, ensinando-a a amar o processo que está atravessando à medida que ele se desenrola. Modificar a dieta, a rotina de exercícios e o estilo de vida ajuda o corpo a se ajustar às mudanças.” (Texto do livro “O Livro de Yoga e Saúde para a Mulher -  Linda Sparrowe e Patrícia Walden).

Cito agora um outro texto do livro de Márcia De Luca - “A idade do poder – transformação, saúde e beleza para a mulher, por expressar uma outra visão mais expansiva de uma fase tão importante na vida de uma mulher, resgatando a beleza do feminino.

 A meia-idade é a fase ideal para a pessoa transformar tudo aquilo que era puro potencial em poder pleno. É a oportunidade de reunir a sabedoria acumulada a partir de diferentes fontes, e de colocar todo esse repertório a serviço do próprio bem-estar e da própria evolução. Nesse período, a tendência é de fazer o balanço da vida, com suas perdas e seus ganhos. Surge um sentimento de urgência para respostas às questões que incomodam o ser humano desde sempre: quem sou eu, por que estou aqui, para onde vou. Podem aparecer também, alguns problemas orgânicos (e junto com eles uma vontade de revisar hábitos e estilo de vida) e uma autopercepção mais profunda. Nada disso se dá por acaso. Os apelos do mundo externo foram perdendo um pouco da importância ao longo dos anos, o que força a pessoa a investigar-se com mais honestidade e a encarar potenciais que foram esquecidos ou sabotados. As modificações e limitações físicas são como faróis, sinalizando para ela a temporalidade do corpo, ajudando-a a prestar atenção no que é eterno, e não no que é finito.
 
É um ciclo de amadurecimento espiritual, propício à busca da essência e ao encontro com a verdade. Não uma verdade distante, não uma verdade dos outros, mas uma verdade de dentro. A maturidade nos deixa mais próximos de nosso mestre interno, a grande fonte do poder real.
 
Quando a pessoa acessa esse deus interno, ela conquista a espontaneidade, ganha coragem e energia suficientes para ser e fazer o que quiser. Isso sim é que é poder.
 
O corpo físico amadureceu nas primeiras duas décadas de vida. Entre os 20 e os 40 anos, a psique foi fortalecida. A partir daí, as pessoas precisam desenvolver sua autenticidade, uma autenticidade que vem do espírito, para entrar no período de puro desfrute, pura colheita, pura inspiração divina.
 
Não é à toa que dois terços das grandes obras, seja na literatura, na ciência, na música ou nas artes plásticas, foram feitas por pessoas maduras. A idade do poder é o melhor tempo da vida, porque é o tempo da emancipação e da criatividade.
 
Não é assim, infelizmente, que a maioria vê essa transição. Falo de um processo que não tem um início preciso assinalado no calendário, mas que normalmente dá sinais a partir dos 40 e poucos, 50 anos. Os clichês como “ A vida começa aos 40” ou “é hora de trocar a mulher por duas de 20” traduzem verdades e preconceitos, e quase sempre são ditos em tom de piadas ou, pior, de prêmio de consolação para a “vítima” que está envelhecendo.
 
Quem envelhece não precisa de consolo, mas de conhecimento. A mulher, em geral tão presa à própria aparência e tão identificada às suas funções biológicas, faz essa passagem em meio a grande desconforto e vai precisar de muito autoestudo para entender a menopausa não como perda, mas como marco evolutivo.
 
Grande parte da cultura ocidental idolatra a juventude como se só essa breve fase da vida fosse produtiva e importante. É comum a mulher de meia-idade sentir-se frágil e angustiada, quando tem tudo para sentir-se pronta a abraçar os desafios de outra etapa da existência. Tradições antigas, como as de povos indígenas e culturas orientais, sempre respeitaram a experiência e o poder das mais velhas.
 
O mundo de hoje, ao contrário, trata aparência como se fosse essência e valoriza um padrão de beleza cada vez mais desumano, feito de rostos e corpos plastificados, robóticos, sem marcas. Como se sente a mulher, de carne, osso e alma diante de tantas criaturas “perfeitas”, exibidas na mídia como exemplo feminino? Como se sente a mulher com décadas de vida, rugas arduamente conquistadas e alguma gordura extra, diante dessas bonecas sexys que o jornalista Arnaldo Jabor – numa crônica antológica do nosso tempo – apelidou apropriadamente de “pós-mulher”?
 
Não é fácil, reconheço, ignorar os padrões culturais. A tábua de leis da modernidade está em todo lugar, decretando: seja jovem, seja magra, faça isto, faça aquilo.”
 
Ela sugere afastar-se daquilo que está fora de nós, desligar-nos dos valores e cobranças sociais, culturais, “dos outros”. Sugere também reconhecer aquilo que já sabíamos e esquecemos, aquele conhecimento que sempre esteve dentro de nós. Diz ainda que é preciso deslocar o ponto de referencia do mundo externo para o mundo interno para a busca do poder sobre nós mesmas. 
 
Ir para dentro significa não se identificar tanto com as mudanças no espelho. Significa libertar-se da necessidade de aprovação alheia, compreendendo que as transformações do corpo são só uma parte de todo o processo. Significa dedicar atenção ao milagre que o universo prepara para o espírito, exatamente nessa fase da vida (quando digo “o universo”, você lê Deus, a natureza, a inteligência cósmica, o que você quiser). Se a beleza física declina na maturidade, a alma começa seu movimento para cima e o potencial espiritual emerge. Não há motivo para medo. É mais um ciclo, mais um dos movimentos da alma que começam desde a concepção, quando o espírito se fundiu ao corpo físico. O nascimento marcou outra transição, outro movimento, e cada movimento marca o começo de um ciclo que terá um fim.
 
Perguntaram ao grande poeta persa Rumi, criador das bases do sufismo, se ele não tinha medo de morrer. “Estou morrendo desde que nasci, por que haveria de temer o último passo?”, foi a resposta. Se as crianças crescessem com essa consciência, o envelhecimento seria naturalmente aceito e não existiria a crise da meia-idade. É hora de desapegar da vida, antes que a vida se desapegue de nós.
 
Eu vejo o nascimento como o auge da juventude e a meia-idade como uma oportunidade de renascimento. É o momento perfeito para desatar os nós da vida, jogar fora o que já não serve ao resto da viagem. É a etapa em que a vida trama para que a mulher se livre de papeis, máscaras e se dê ao luxo de –finalmente- ser autêntica. É hora de fulminar a mártir, essa sim, velha e inútil, que se instalou tanto tempo dentro de cada uma de nós. É o momento perfeito para promover a transformação, a renovação.
 
O envelhecimento é normal e é preciso abraçá-lo como consequência da vida. A vida humana segue a natureza. Como as estações do ano, é preciso saber, no outono, que o inverno vai chegar. A mulher deve se preparar para envelhecer com charme, de maneira jovem.
 
Há muitos caminhos para fazer essa passagem, vivendo de forma plena a idade do poder.
 
Que possamos então celebrar mais esse momento de descobertas onde o nosso potencial pleno está sendo manifestado, deixando que o feminino se revele em nós. 
 


17 de setembro de 2012

Saúde

“No Mud, No Lotus"   -   Thich Nhat Hanh
O corpo está o tempo todo se reorganizando e se equilibrando para ter saúde. Qualquer manifestação de doença é o corpo tentando se equilibrar de nossas desarmonias físicas, mentais, emocionais e espirituais. Podemos usar os momentos de doença como algo assustador e desânimo ou podemos nos aquietar, e olhar para isso como uma oportunidade de saber mais sobre nós mesmos e sobre como estamos vivendo, como estamos pensando, como estamos nos nutrindo, como estamos sentindo.

Bri Maya Tiwari fala em seu livro “O Caminho da Prática”:

“À medida que descobrimos mais sobre nós mesmos, sobre nossas forças e fraquezas, também aprendemos mais sobre o corpo, a mente e o espírito, e seu poder. Percebemos nossa capacidade inata de cura. Adotamos a convicção de que a doença se origina dentro de nós e, portanto a cura deve vir do mesmo lugar. A falta de paz, o desconforto ou a doença são razões suficientes para penetrarmos mais fundo dentro de nós mesmos, examinando onde é preciso fazer alterações para curar nossos corpos, nossos sentimentos ou nossas vidas.
 
Aceitamos a dor ou o desconforto como um trabalho a ser feito. Cada um de nós é um ser único, ninguém pode fazer o dever de casa em nosso lugar. Não podemos sequer depender da benevolência do universo para nos salvar. Ele nos dará apoio, nos fará enxergar onde foi que nós saímos do ponto de equilíbrio e sempre nos permitirá o realinhamento com esse ponto. Mas é preciso fazermos o trabalho de autoquestionamento e de cura apropriado para a nossa vida interior e exterior. Toda dor é um lembrete de que nos afastamos dos ritmos naturais da vida. Os obstáculos e desafios da vida cotidiana são oportunidades para aprender mais sobre você mesmo e seus pontos forte.”
 
Estive nesses últimos meses com problemas no meu ouvido o que me levou a ficar quieta, pois não podia ler ou ficar muito tempo no computador, não podia fazer certos movimentos e, portanto minha prática diária de Yoga teve que ser diferente, enfim estava vivendo uma limitação intensa e precisei respeitar isso. Então o jeito era me aquietar. 
 
Como me ensinou minha amiga Cristina, o jeito é a gente sentar na beira do rio e observá-lo correndo, ao invés de nos jogarmos na correnteza e nos perdermos. E assim fiquei, ouvindo o barulho do rio, pensando que a cura estava em mim mesma e que meu corpo estava mesmo se esforçando para voltar ao equilíbrio, mesmo que os remédios que eu tomava não davam nenhuma melhora.
Apesar disso durar 3 meses - e tinha dia que isso parecia ser infinito - eu sempre pensava que um dia isso ia passar, assim como tudo na vida.
 
Lembrei-me das várias vezes em que fiquei doente quando era criança. Primeiro eu nasci com um olho que lagrimejava e com um mês de idade o médico disse a minha mãe que faria uma pequena operação. Isso foi numa segunda-feira. No sábado, minha mãe foi à igreja Sta. Luzia e pediu por mim. Resultado, o médico no dia da cirurgia disse que não entendia, mas o problema tinha desaparecido. Depois, minha infância foi marcada de crises de bronquites e remédios. Minha mãe sempre me ensinou como viver uma crise. Pedia pra me acalmar e perceber que o remédio, o chá e a comida estavam entrando na corrente sanguínea e que a partir daí o corpo ia entender que era pra melhorar. E melhorava! Eu ficava quietinha na cama esperando a cura e ela sempre veio.
 
E eu acho que foi aí que entendi que nas horas que estamos doentes, precisamos nos aquietar, nos acolher. É um momento que podemos parar e pensar no que estamos comendo, no que estamos pensando, como estamos respirando, qual a qualidade de vida que estamos levando, que sentimentos estamos cultivando em nós. O que é mesmo essencial na vida é perceber se estamos vivendo em harmonia com a natureza.
 
“Quando permanecemos atentos a cada instante preenchendo nossos dias com as práticas nutrientes que regeneram o corpo, a mente e o espírito, curamos a nós mesmos e ajudamos os outros a se curarem.”

27 de agosto de 2012

Despertar

"Ou você representa esse amor que trouxe das estrelas para esse mundo físico, ou você se tornou tão programado com medo de todas as coisas que as instituições colocaram em cima de você e tudo que tem em sua mente do medo, dos julgamentos das reclamações - esses barulhos são tão alto - que você não ouve mais  a voz sutil do seu coração.
O despertar é um processo individual onde você começa a aprender de você ser um ser humano. Quando você vai um pouco mais profundamente e se conecta com seus sentimentos, aí você tem uma visão diferente da vida."

20 minutos - vale a pena ouvir Robert Happé falando sobre o despertar.


5 de agosto de 2012

Conhecimento

Ação é aquilo que se faz para produzir um resultado específico, é um instrumento para produzir algo novo. Se eu desejo aquietar minha mente, eu posso ter uma ação para isso. Conhecimento não produz nada novo, ele revela algo que já existe e eu não sabia, ele revela o eu fundamental, o eu livre de limitações que ainda não reconheço em mim. A meditação é um instrumento que nos ajuda a esse reconhecer-se”.
Foi assim que  Gloria Ariera começou a plestra tão profunda neste sábado. E escrevo a seguir mais ou menos o que eu aprendi desse momento.

Usamos tanto a palavra autoconhecimento de uma forma tão genérica que perdemos a profundidade de seu sentido. Todo workshop, todo curso hoje em dia oferece o autoconhecimento. O que afinal é esse tal de autoconhecimento? O que é que posso descobrir em mim que eu ainda não saiba? O que é que eu faço para adquiri-lo? E quando eu o adquiro, eu adquiro o quê exatamente? Podemos então usar a ação e escolher fazer algo, por exemplo, a meditação. E aí surge então mais dúvidas sobre o que seja a meditação, palavra tão usada em tantos contextos. E, afinal, o que é meditar?

Não sabemos quase nada de nós mesmos. Não sabemos como reagimos a diferentes situações, não sabemos de onde vem exatamente aquela raiva que sentimos, aquele ciúme, prazer, aquela satisfação, aquela alegria, aquela frustração, aquela depressão. Muitas vezes nem sabemos o que sentimos exatamente e nem a causa desses sentimentos. Chegamos até mesmo a pensar que isso não é importante e nem temos tempo para pensar sobre isso porque o trabalho toma 10 horas do nosso dia e depois estamos esgotados mentalmente e temos de dormir porque o dia seguinte vai exigir muito mais e aí... não conseguimos dormir direito e o dia amanhece e vamos ao trabalho e todos os  e-mails estão lá para serem lidos e todas as decisões para serem tomadas e todos os sentimentos passam pelo sistema nervoso e nossas células são acionadas sem que saibamos, sem que tenhamos tempo para parar 15 minutos para nos checar, nos acolher, nos acomodar dentro de nós mesmos.

Uma mente agitada, se agita, se dispersa e se frustra. Não há espaço para estarmos consciente de nossas limitações, competências e sentimentos. Não há espaço e tempo para nos escutar, refletir, trazer esse conhecimento para o dia a dia e praticar para termos novos registros mentais.

Sem isso, continuamos vivendo a repetição da superficialidade das experiências.
A mente é estruturada para trazer a experiência para nosso conhecimento e se não nos aprofundamos em nós mesmos, não amadurecemos. Perdemo-nos nos eventos do dia a dia e somente reagimos a ele sempre da mesma maneira, e isso não traz nenhum conhecimento.

Só quando sei como eu funciono internamente é que surge a chance de transformação. Não olhamos mais para o “problema”, mas acolhemos as coisas positivas e negativas e acomodamos essa minha pessoa nessa mente maior. Se eu sei que essa mente maior está lá, então o meu foco não é no problema, no evento, mas o foco é na paz, no silêncio que eu já sou.

“É possível, sentada no silêncio que eu já sou, enxergar a “raiva” que sinto e então essa raiva se acalma e sai de mansinho. Minha mente pode estar concentrada em um trabalho que estou fazendo, mas o meu foco é o silêncio, o silêncio que é a base de minha mente que sou eu”.

 *EU SOU O SILÊNCIO*

Gosto da imagem do rio que nasce e vem descendo, encontrando obstáculos grandes e pequenos e continua indo como se tivesse uma ideia fixa até se unir com o oceano e quando se une... tudo vira oceano.  Contornando os obstáculos, o rio não se desvia de sua meta maior que é se entregar ao oceano.



 

 

 

“Água vem, água vem

O coração é o oceano

Eu estou em paz.

Eu sou a paz”