Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

26 de fevereiro de 2012

Cozinhar

Às vezes eu me aventuro na cozinha e se não surgem grandes pratos e se não me fixo no resultado, confesso que é uma atividade de muito relaxamento. A expectativa do resultado gera ansiedade e nos faz ficar fora do presente, no momento da execução de todo processo. As cores me deliciam, bem como os perfumes, texturas de todos os ingredientes. Lembro da minha admiração e encantamento quando minha mãe pediu para eu cortar um mamão pela metade e percebi alí o desenho de uma estrela! Lembro de Maria Preta quando vejo as garrafinhascheias de água dentro das mixiricas e não me canso de ver aquele vermelho da beterraba e a cor da abóbora e a delicadeza das flores de brócolis. Como pode haver sabores tão diferentes em folhas verdes vindo do mesmo quintal generoso, onde minha mãe plantava e eu regava toda tarde? Ainda ouço o som do feijão na peneira de minha mãe, e o cheiro do cural que vinha do som do debulhar do milho. Eram sons que, por harmonizarem com nosso som interno, nos relaxavam.

A planta com toda sua variedade é o ancestral da humanidade mais antigo e nelas provavelmente estão contidas todas as memórias do universo.

Claro que, hoje, parte do processo de cozinhar já vem pronta, mas mesmo assim, brinco na cozinha com essas cores, som, texturas contidas no alimento que dão vida a cada uma de nossas células.

Somos ligados a todos os seres humanos através dessa alimentação que vem da mesma origem, com as mesmas substâncias.

Comer é um ato divino e alquímico. Trazemos para nossas células todo nutriente que precisamos para viver e, nesse sentido, também pode ser um ato de cura, se tivermos consciência do que comemos, de quanto comemos e do por que comemos.

No livro O Caminho da prática” a autora cita T. Upanishad  que diz:
“A essência de todas as coisas aqui é a Terra.
A essência da Terra é a água.
A essência da água são as plantas.
A essência das plantas é uma pessoa.”

Diz autora: “Vamos levar este texto adiante e perguntar a nós mesmos: o que é a essência de uma pessoa? Eu acho que é aquela natureza fundamental que pertence exclusivamente a nós, e que nos conecta com o universo. Estamos todos em uma busca de consciência, que é encontrada quando se cultiva a atenção – um conhecimento interno que depende totalmente de uma relação harmoniosa com a natureza. A prática alimentar restaura nossa memória cognitiva e nossa capacidade de nos curarmos das doenças físicas e das feridas emocionais. Abra seu coração para a sabedoria da Mãe Natureza, banqueteie-se em sua mesa, e você nunca passará fome.”

Hoje fiz um Bolo Indiano e deixo aqui a receita para brincarmos em nossas cozinhas.

Bolo Indiano
½ kg açúcar mascavo
1 xíc. (chá) água
1 xic. (chá) leite
½  xíc. (chá) margarina
½ colher (sopa) canela em pó
½ colher (chá) noz moscada
½ colher (chá gengibre em pó
Pitada de sal
1 colher (sopa) fermento
2 colheres (sopa) farinha de linhaça
Farinha de trigo branca
1 prato fundo de nozes, maça, damasco, uva passas, linhaça, ameixa e castanhas
Coloque o açúcar mascavo numa panela, adicione água e leite e leve ao fogo até ferver. Desligue o fogo e passe a mistura para outro recipiente (peneirando) e adicione a margarina. Adicione as especiarias, farinho de linhaça e trigo para dar consistência. Misture bem e coloque o fermento. Finalize acrescentando as frutas secas e leve ao forma (45min).

10 de fevereiro de 2012

Jardim Botânico

“Sensibilizar pessoas para a importância da conservação das plantas e para o uso parcimonioso dos recursos ambientais”.
    Essa é a missão do Jardim Botânico de Nova Odessa.
 
 
Uma grande surpresa para mim. Ao entrar nesse jardim, meu coração se abriu a essa paisagem deslumbrante, cheia de canteiros de flores, ervas, árvores, vitórias-régias, tudo identificado com o nome científico e sua origem.

Gostosa manhã de domingo, quando meus olhos se encheram de uma beleza que há muito estavam precisando.


                                                                                                                                                            
                                                                               
                                                                                 
                                                                                
                                                                                 
                                                                                  
                                                                               

8 de fevereiro de 2012

Inutilidades


Para mim parece que o ano está começando agora. E nada melhor do que fazer aquelas limpezas de gavetas. Só que desta vez estou fazendo a limpeza das gavetas internas.

Depois de ter vivido esse período de 93 dias de coma de meu pai e sua morte serena na semana passada, fico aqui sentada no terraço do meu apartamento pensando em quantas inutilidades nós nos apropriamos. Como enchemos nossas gavetas internas com coisas que não nos servem para nada. Quer coisa mais inútil do que a mágoa? Sentir mágoa ou ressentimento não serve pra nada e nem pra ninguém. Julgar o outro e a si mesmo, que serventia tem isso? Fazer fofoca das pessoas que estão à nossa volta traz algum benefício? A culpa é outra coisa nas listas das inutilidades. E a lista pode ser grande.

Ao me deparar com esse evento tão forte neste momento de minha vida, entrei num mundo que desconhecia, um mundo cheio de hospitais, remédios, médicos, enfermeiras e pacientes em condições diferentes e ao mesmo tempo iguais. Mas também, neste mundo tão triste, tive contato com verdadeiros anjos no papel de enfermeiros, sem contar todas as pessoas que fui encontrando nos corredores do hospital e que também vivenciavam experiências profundas e que ainda eram capazes de aquecer meu coração com uma palavra, com uma história. A profundidade destes gestos nos faz expandir e vivenciar então o que é realmente importante e nos faz lembrar por que estamos aqui nessa existência.  E, portanto, tudo aquilo que me faz esquecer isso é pura inutilidade.

Quando deparamos com a vida e a morte numa linha divisória tão tênue, percebemos que a vida é muito mais do que todas essas inutilidades. Desapegar delas é o nosso grande trabalho para que possamos nos expandir para o que é realmente real, que é a consciência espiritual que faz com que a gente se perceba não como se fôssemos separados de tudo. A vida está sempre em transformação. Tudo é impermanente. Assim, por sermos parte disso tudo, também estamos em transformação. Se não nos desfizermos dessas inutilidades, as nossas gavetas ficarão abarrotadas de coisas que não precisamos mais e aí, não abrimos espaço para coisas novas. E tudo que não muda fica estagnado. Um ensinamento do Yoga é que o mundo com suas riquezas e pobrezas, alegrias e tristezas, bondades e maldades, se for visto realmente como ele é, não mais irá nos perturbar, pois tudo é transitório e passageiro.

E o desencarne de meu pai me fez vivenciar isso com muita profundidade. Já falei dele algumas vezes aqui nos posts: 90 anos - 05/03/2011, João - 08/09/2011, Meu pai - 07/08/2010. Ele viveu uma vida cheia de integridade, de honestidade, de dignidade, de respeito ao próximo e sempre estava de bom humor. E essa lembrança é o que traz paz para mim e minha família. Qualquer outra coisa que nos tire essa paz é inutilidade.

Registro aqui meu profundo agradecimento à vida por me ter dado oportunidade de ter uma pessoa como essa ao meu lado no papel de meu pai. E essa experiência me deixou a certeza de que estamos unidos pela nossa eternidade.