Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

13 de janeiro de 2013

Tempo de aniversário

O tempo passa e os eventos vão nos preenchendo de um jeito ou do outro. Começa janeiro e no dia 19 eu já me “desfaço” de mais um ano. Ao contrário de muitas pessoas, eu acho o dia de aniversário cada vez mais alegre e já não tenho aquele medo de que as pessoas não se lembrem dele. A vida lembra, sempre lembra, todos os dias, todos os momentos que cada dia é uma outra possibilidade de se desfazer do que foi e de se maravilhar com o que está vindo. O dia de meu aniversário me faz lembrar o primeiro dia que, ao inspirar pela primeira vez, eu me colocava neste planeta para experimentar, compreender e despertar. Acho que foi por isso que sempre tive tanta curiosidade em saber como tudo funciona fora e dentro de mim e qual a ligação entre tudo e o porquê de tanta fascinação quando consigo ver lampejos de mim mesma em momentos raros.
 
Já passei meu aniversário em muitos lugares diferentes. Na praia de Mucogê, em Trancoso na Bahia com minha amiga Meire; em casa com família; com amigos; com a notícia da morte de Elis Regina; sozinha; em Londres com a querida Christine, em cuja casa eu morei por um ano; em bares com amigos; só com o Ed no nosso terracinho encantado; trabalhando num dia normal; nas montanhas; no hospital com meu pai; na comunidade de Nazaré com bolos deliciosos da Paula e oferendas dos hóspedes em minha porta.
 
Mas é nessa época que aproveito também para me desfazer de coisas que não preciso mais, limpando e desobstruindo gavetas externas e internas. E celebro cada detalhe que vai aparecendo neste dia como um presente.
 
 Olhando em uma das gavetas encontrei todas as minhas agendas onde anoto as aulas que dou durante o ano. Só faltava a primeira. Olhando uma a uma vou relembrando alunos que tive, que ainda tenho, que pararam um tempo e retornaram. E sinto profundo agradecimento a todos eles que tanto me ensinaram com relação à vida mesmo, de forma tão carinhosa. Quantas histórias pude conhecer através deles e em quantos momentos percebi que também vivia ou tinha vivido aquelas mesmas histórias. Quanto de mim descobri através de todos eles! Bom, continuo descobrindo, aprendendo e me divertindo.
 
Também nas agendas fui recordando momentos importantes anotados ali, quando conheci o Ed, quando compramos nosso apartamento, idas a hospitais, nossas viagens inesquecíveis, aniversários de amigos (antes de facebook), quando dei aula em uma firma ou outra, eleição de presidente e prefeito, primeiro dia de escola de meu sobrinho, mais alunos, menos alunos, encontros com amigos em happy hour, menopausa, shows em São Paulo, morte de meu pai, aulas de Yoga, cursos e mais cursos, pintura de apartamento, visitas a Nazaré e amigos que moram por perto, aposentadoria, aniversário de 90 anos de minha mãe, sobrinha neta que nasceu... e por aí vai. E por aí vai continuar. As experiências são muitas e todas elas causam um grande impacto interno.
 
Essas mesmas agendas e o “desfazer de anos” me fizeram girar pelo tempo tão relativo que é passado e está presente. Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem? (Confúcio)
  
Tempo Rei! Oh Tempo Rei! Oh Tempo Rei!
Transformai as velhas formas do viver.
Ensinai-me oh Pai, o que eu ainda não sei 
(Gilberto Gil)

10 de janeiro de 2013

Ritmo

Férias, aquelas em que a gente não viaja para os lugares lotados, cheio de turistas, congestionamento de carros, filas em padarias, som alto nos carros de pessoas que nem se importam com as outras, são bem mais prazerosas. Férias que você fica em casa e se envolve com a rotina diária, mas sem compromissos com horários e atrasos, fazendo um ritmo próprio mais harmônico trazem um grande bem-estar, físico e mental.
 
Hoje por exemplo, escolhi andar nas ruas do Cambuí antes mesmo das lojas abrirem. Sem carro, por favor, saí de casa a pé e fui me embrenhando por ruazinhas calmas e observando as casas que ainda resistem às invasões das imobiliárias ávidas por um pedaço de terra onde possam construir um prédio enorme com apartamentos minúsculos. Ah, mas tem o tão propagandeado espaço “gourmet”, como se isso nos devolvesse aquele quintalzinho que apanhávamos um chá ou uma fruta para o café da manhã, ou onde pudéssemos aguar a planta com o regador num momento de profunda meditação.

Fui andando, pensando essas coisas e lembrando de minha infância e do quintal de casa que parecia enorme, pois lá cabiam todos os meus sonhos e toda minha criatividade e, por isso, nem precisava de brinquedos, pois esse quintal me dava todos que eu queria.

Que longa distância do meu quintal com o tal espaço “gourmet”. Mas o Cambuí tem espaços incríveis que a gente só descobre se for caminhando. Na volta pra casa subo minha rua que mais parece um tobogã de 3 lances. Ufa, com uma rua dessa nem é preciso ir a academia.

Outra coisa boas desse tipo de férias é cozinhar sua comida com arte, ou ir à feira de rua mais próxima de sua casa e encontrar legumes frescos e saudáveis, sem aquela cor artificial de supermercados. Ou então ir à Botica Silvestre e ter uma ótima conversa com a atendente; ler livros que estavam te esperando; fazer seus exercícios de yoga sem pensar no relógio; ter tempo para conversar com sua amiga lá pelas três da tarde tomando um suco de laranja; ir ao cinema à tarde e assistir a um filme que não tem “fast-imagens” e nem sons de tiros, nem violência, como o filme “A Filha do Pai” que é bem tocante e você se delicia nas imagens calmas e significativas. 

Essa liberdade de ação no tempo é a melhor sensação que este tipo de férias traz. Voltar a trabalhar não é ruim. Já faz muito tempo que não tenho essa divisão entre trabalho e vida particular. Não tenho aquela nostalgia de domingo à noite e segunda de manhã. Consigo encontrar prazer em ambas as situações. Na verdade não separo as duas, integro-as.

O ponto é que, nas férias, você fica livre de horários e você consegue fazer um ritmo mais orgânico, mas integrado com o seu corpo. Você presta mais atenção em suas sensações, emoções e pensamentos. Você tem tempo para prestar mais atenção a tudo que está à sua volta. É um estar aqui e não ter nada de errado em não se fazer nada e não há nada de errado em fazer qualquer coisa, seja lá o que for. É como se nos libertássemos dos “devo” e dos “não devo”. Cultivamos a capacidade de nos maravilhar.

O ritmo é algo que acabamos perdendo em nosso dia a dia, ou até criamos um outro ritmo mais intenso sem muitas paradas para observar os detalhes. Mas é nos detalhes que está a brisa que refresca nossa mente, que acalenta nossa alma e nos faz lembrar de nossa humanidade. 

 
“Só há duas formas de viver a vida:
Uma é como se nada fosse um milagre
A outra é como se tudo fosse um milagre .”
Albert Einstein