Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

28 de abril de 2013

Buscas

Muito comum hoje em dia discutirmos sobre o objetivo - o nosso objetivo, aquele que reflete o que queremos para nós. Onde estou? O que estou buscando? Onde quero chegar? Todo processo de coaching se baseia nessas perguntas. O que difere uma pessoa da outra é essa análise do objetivo da vida. Na verdade, viver é o objetivo. Todo mundo vive o dia a dia, mas, mais do que viver esse dia a dia é viver como eu quero e dentro das condições que a vida apresenta para mim.

Até mesmo no mundo corporativo essas perguntas são formuladas para se conseguir melhores resultados. Se não soubermos responder essas perguntas sobre nós mesmos, dificilmente conseguiremos aplicá-las nas diferentes áreas de nossas vidas.

Ouvindo o CD de Glória Ariera (professora de Vedanta), de onde tiro alguns trechos, fui entendendo como esses objetivos mudam com o tempo ou dependendo das experiências que vamos tendo.

Num certo momento, e em grande parte de nossa vida, nosso objetivo é a pela segurança. Buscamos então uma casa, um emprego, uma situação onde possamos relaxar e nos sentirmos seguros. Quando alcançamos isso, nosso objetivo é então a busca pelo prazer, porque só conseguimos buscar o prazer quando estamos seguros.

E aí, pronto. Já me sinto realizada, e não quero mais nada, certo? Algumas pessoas param por aí, sim, e fica sendo esse o foco de suas vidas: a segurança e o prazer. E como fazer para conseguir isso? Muitas vezes não há nem esse questionamento. Outras vezes a resposta é: “Não importa, eu quero a segurança e o prazer e vou fazer o meu máximo para conseguir isso sem pestanejar”.

Vemos hoje muito claramente no mundo corporativo pessoas trabalhando mais de 8 horas por dia, nos finais de semana, sem tempo sequer para se questionar sobre elas mesmas. E no pouco tempo que resta fora do trabalho, elas ainda atendem a celulares e respondem e-mails relacionados ao trabalho que não acaba nunca, pois mesmo se entregando totalmente, nunca estão em dia com ele. O que gera uma grande frustação. Mas isso não importa. O importante é ter segurança e prazer. E está tudo muito bem, muito bom. Lutamos hoje em dia por segurança e prazer e muitas pessoas de fato conseguem esse objetivo. Que bom. É mesmo muito importante se sentir segura e sentir prazer. Isso nos dá um relaxamento interno para viver uma vida mais confortável.

Mas chega um momento que começamos a questionar: “Como é que estou conquistando essa segurança e esse prazer? Os meios que uso para chegar lá são adequados? Estou respeitando as outras pessoas? Estou me arrependendo do que estou fazendo? É adequado e transparente a maneira como estou conquistando essa segurança e prazer? Consigo isso sem pisar no outro, sem passar por cima de meus próprios valores? Consigo fazer as coisas com clareza, sem confusão?

É esse questionamento que nos leva ao amadurecimento emocional que é, também, um dos jargões mais utilizados no mundo corporativo. Às vezes podemos ver nas qualificações solicitadas para uma vaga esse item: maturidade emocional. Mas afinal o que seria essa maturidade? Maturidade emocional é a capacidade de segurar certos desejos em nome de algo maior do que o comando sobre mim mesma. E é a coerência na minha própria vida, no sentido de ter claro os valores universais. É essa coerência que vou usar quando analisar a minha vida, minhas ações e também a vida do outro. A maturidade emocional me capacita a olhar a situação de um modo abrangente onde eu faço parte. Se eu faço parte, qualquer coisa que acontece no todo me atinge. A alegria do grupo do qual faço parte, seja familiar, de trabalho, de amigos, de bairro, da cidade, do país me atinge. A dor do grupo também dói em mim.

E quando não conseguimos deixar de pensar nisso, de avaliar e questionar, é porque nossa maturidade emocional está se estabelecendo. Eu posso fazer coisas para me distrair deste desconforto de ter que pensar sobre isso, mas quando estiver comigo mesma, essas questões vão aparecer. E novas perguntas começam a surgir: estou agindo certo? Como posso agir melhor? Estou, através de minha necessidade de manter a segurança e o prazer, afetando a vida do outro de maneira negativa?

A minha busca única a qualquer preço por segurança e prazer começa a ser questionada e parece não ser mais suficiente para mim. E assim começo a pensar em outras direções. O mais importante agora é buscar uma forma coerente e transparente de viver para que eu me sinta confortável comigo mesma e que eu possa ter um relaxamento e assinar todos os meus atos. E aí sim estarei cumprindo meu papel e contribuindo para a sociedade. Nosso olhar então sai do próprio umbigo e se amplia para a sociedade. Assim, pensamos como podemos contribuir para que o grupo possa viver em harmonia, pois quando esse grupo está em paz, eu, que faço parte desse grupo, também estou em paz. Com certeza, o que esperamos das pessoas, elas também esperam de nós – a verdade, a compaixão, a sinceridade, a não violência etc.

Quando atingimos essa maturidade, temos que deixar de fazer coisas em que não acreditamos mais, para haver uma transformação realmente profunda. Deixamos o que não nos serve mais, abrindo espaços para novas crenças sobre mim mesma, sobre o outro e sobre o universo. O processo não é rápido. Temos de abandonar velhos conceitos, velhos hábitos e criar outros, e isso leva um tempinho. Por isso a necessidade de se questionar e de se conhecer usando, se preciso for, as ferramentas que temos hoje em dia como terapia, Yoga, coaching, grupos de estudos, conversas teraupêuticas, Satsangas e até mesmo certas religiões. Tudo isso são mapas que nos indicam um lugar um pouco mais alto da montanha. Podemos escolher qualquer um desses mapas ou tentar desenhar nosso próprio mapa.

O importante é saber que mudamos algo em nossas vidas não pelo “faça isso, não faça aquilo”. Não é no nível de uma ação que mudamos, mas sim no entendimento de que uma maneira mais sábia de fazer gera uma expansão. Então, quando a gente vê que algo é inútil, deixamos de lado. Respeitar as leis universais gera mais ganho e quando eu entendo isso, eu me modifico. É inútil dizer “não fale mentira, diga somente a verdade”.

Entender o que eu perco quando não falo a verdade é o ponto da mudança. A perda é que criamos duas pessoas dentro de nós, uma que pensa e outra que age diferente do que você pensou. Isso vai esgarçando sua identidade, você se perde de você mesmo e vai se tornando uma outra pessoa não confiável para os outros e para você mesma. Se eu sou coerente comigo mesmo no modo de pensar e no modo de agir, vou tendo uma valorização de mim mesma e, assim, acontece um relaxamento dessa coerência, dessa visão de quem eu sou. Não existe ganho maior do que o auto-respeito, a valorização de você mesma. Então a mudança só é sólida quando ela acontece a partir de um entendimento daquilo que tem valor e daquilo que não tem valor. E aí eu abandono o que não tem valor.

Assim, não tem nada de errado em trabalhar para segurança e prazer. Eu quero isso e então eu vou atrás. Mas com essa expansão de saber que não sou um só no universo, mas que pertenço a ele, percebo que o meu desejo maior, mais do que possuir coisas, o que eu realmente desejo é estar confortável comigo mesmo. Eu desejo a paz. A paz que eu já sou.