Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

11 de janeiro de 2014

FÉRIAS

Estou de férias. E as pessoas perguntam: E aí? Vai viajar? Não, não vou. Recuso a participar da loucura do trânsito do fim de ano para praia, por exemplo. Então gosto de ficar aqui em casa nesse fim de dezembro e começo de janeiro. Entre outras coisas gosto de ficar no terraço de meu apartamento. De lá, vejo coisas incríveis. Sentamos lá quase todos os dias eu e o Ed para contemplar o pôr-do-sol, um mais maravilhoso que o outro e, pouco depois, a lua meio que se misturando naquele colorido do sol com as nuvens.

Eu e Ed vamos achando formas nas nuvens que contam histórias. Chuvas fortes, fracas, todas lindas. E as estrelas, o planeta Vênus sempre primeiro, aparecem para enfeitar o céu.





 


 O Ed sempre acompanha essa beleza com uma taça de vinho quase como querendo brindar um sentimento e se encanta com os milhões de anos luz de toda a história do universo.


Também sento lá sozinha e, naquela amplidão, fico filosofando sobre a imensidão desse universo e onde é que eu me encaixo nele. Agora mesmo depois de uma leve chuva estou aqui sentada e sentindo me misturar com a brisa suave da tarde, quase que me dando a resposta de onde é mesmo que me encaixo no universo.Então é quase como se minha mente estivesse em férias e saísse daquele pensar contínuo do dia a dia e pudesse contemplar coisas que não conseguimos fazer na correria da vida e que faz muita diferença para o nosso equilíbrio mental. Então, acho que dei férias para minha mente.

 Coincidentemente, nas palestras da Glória Ariera sobre a Gita (um dos maiores clássicos de filosofia e espiritualidade do mundo) ela fala da importância de ter uma mente tranquila, com mais objetividade, uma mente que pode viver o aqui/agora, encarar a situação conforme ela está acontecendo sem ficar dependurado no passado e no futuro. Essa mente mais simples e objetiva traz a capacidade de aceitação de mim mesma, do universo e das pessoas.
 
E como tranquilizar nossa mente mesmo quando não estamos em férias? Ficando consciente de algumas coisas que agitam nossa mente e tentar reverter isso através da observação e do conhecimento de como funcionamos.
 
O que agita nossa mente é, por exemplo, esperar e necessitar o reconhecimento das pessoas por uma qualidade que possuímos. O reconhecimento é muito bom. Quando recebemos um elogio a gente relaxa, mas passa um tempo e lá estamos esperando, esperando um novo reconhecimento. Para sentir esse relaxamento acabamos fazendo várias pequenas ações para que isso aconteça, ocupando a mente desnecessariamente.
 
Outra coisa que agita a mente é querer que o mundo perceba uma qualidade que não temos, porque eu mesmo não aceito que eu não tenha. Imagine quantas manobras mentais temos que fazer para atingir isso.
 
Agredir o outro com palavras, reações, olhar crítico fazendo o outro se sentir acuado também agita nossa mente porque temos que fazer várias coisas para estar no comando, pois não aceitamos que as coisas sejam do jeito que as outras pessoas querem. As pessoas têm o direito de ser o que elas escolheram ser e nós podemos escolher conviver com elas ou não.
 
O desalinhamento com relação ao que você fala, faz e sente também agita sua mente. A incoerência rouba grandes momentos de sua vida. A desorganização da casa, das suas tarefas, da sua vida, da parte financeira, dos  relacionamentos, a não clareza de até onde eu posso ir, até onde eu permito que a outra pessoa vá, a incapacidade de decisões assertivas sobre mim mesma... tudo isso são agitações na nossa mente.
 
Então, há várias áreas que temos que descobrir onde é que está a agitação de minha mente. E para isso eu tenho que ter tempo de pensar sobre isso, analisar para poder mudar o rumo de minha vida e clarear os valores que eu quero ter. Se eu sei claramente quais são esses valores, a vida se torna mais clara e mais fácil e eu tenho a possibilidade de usar a minha mente para coisas que são muito mais profundas, de uma realidade maior do que simplesmente as coisas do dia-a-dia. 
 
Isso ajuda a ter uma mente alerta, uma mente que está consigo mesma, sossegada e que tem um certo silêncio de forma que eu possa descobrir que eu já sou esta paz que fico buscando a todo momento. Com essa mente silenciosa sentimos que encaixamos perfeitamente nesse universo todo que contemplo no terraço do meu apartamento.