Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

30 de dezembro de 2014

2015


Ok, ok, mais um ano se foi e o ano novo começa. Mas no fundo no fundo não é um dia que faz com que a gente mude de postura diante da própria vida, que renove propósitos, que atualize sentimentos, que perdoe  pessoas e a nós mesmos e que se livre de velhos hábitos. Tudo isso é um processo que precisa de uma determinação e permanência na postura. 

E por que queremos mudar alguma coisa em nós ou em nossa vida?  Muitas vezes buscamos segurança, uma casa, um emprego etc e esse desejo toma uma grande parte de nosso tempo e nos dá a sensação de estarmos protegido.

Buscar condições para viver a sua missão, ajudar sua família, a sociedade é um ato muito importante, mas quando conseguimos isso percebemos que ainda não estamos assim tão felizes e fica faltando algo mais. E, porque estamos seguros, começamos então a buscar prazer, desejo, divertimento, a realização dos sentidos. E isso também é muito importante. Mas ao colocar o foco da vida nesses dois pilares – segurança e prazer - chega um dia que questionamos o nosso comportamento para a aquisição disso e ainda assim há uma espécie de vazio que vamos camuflando, tentando conseguir mais segurança e mais prazer e tendo como resultado mais insatisfação.  Por que será?  Conquistamos tudo que pretendíamos, adquirimos tudo que sonhamos e ainda assim, um vazio permeia nosso ser.

Acho que nesse momento entra o dia do ano novo, quando fazemos um balanço de como estamos vivendo nossas vidas e achamos que precisamos mudar. Pensamos se as nossas atitudes para adquirir segurança e prazer são adequadas, se não ferimos nós mesmos e/ou outras pessoas, se não roubamos todo nosso tempo focando só esses dois pilares, se conseguimos olhar para outras facetas da vida, para nosso corpo físico, nossa área familiar, psicológica, intelectual, social, íntima, espiritual. Começamos a questionar os valores universais – aqueles que são verdades aqui, na China ou no Himalaia hoje, ontem e amanhã.

A coerência com que usamos esses valores e as ações em nossas vidas é a mesma quando analisamos a vida dos outros? Será que a vida que levamos está fazendo sentido neste momento? Com certeza, o que esperamos das pessoas, elas também esperam de nós. A vida, a nossa maneira de ser é adequada com a nossa história,  nossas experiências, com a estrutura onde vivemos? Há ferramentas dentro de nós para que possamos mudar alguma coisa? 

Esses são os questionamentos que, geralmente, aparecem neste último dia do ano. Mas isso não quer dizer mudança e sim uma constatação de que se sentir insatisfeito com a nossa vida não é o resultado que queremos nem para o final do ano, nem para o início do ano e nem para o resto de nossas vidas.

Então como começar esse processo de entendimento de mim mesma para que o se sentir satisfeito aconteça naturalmente? Não dá pra forçar estar satisfeito, ser completo, ter novos hábitos, perdoar etc.  Isso tudo é consequência de um entendimento de como funcionamos e que sistemas de crenças estão por trás de comportamentos inadequados que afloram tanta dor. 

É preciso entender como nossa mente funciona, como eu reajo quando as coisas não acontecem como minha mente gostaria e como reajo quando acontecem exatamente como ela queria.

Algumas coisas podemos mudar, outras precisamos ainda ganhar maturidade. E maturidade é quando eu percebo que não sou o centro precisando de todo mundo o tempo todo para que eu me sinta amada e aceita. Maturidade é quando eu adquiro capacidade de contribuir. Só nos tornamos uma pessoa completa quando contribuímos, saindo um pouco de nós mesmos e das nossas necessidades e olhando para a outra pessoa, não pelo que eu quero dessa relação, mas por quanto eu posso contribuir, o quanto posso acomodar essa pessoa dentro de mim.

Dessa forma, entendemos que fazemos parte de um todo. A pessoa inteira que eu sou, eu acolho. O que puder transformar, eu transformo. Mas, antes de transformar, a primeira coisa que faço é modificar a minha mente que é a causadora dos problemas. Mas é ela também que vai nos levar a compreensão do que é o Real, o Absoluto ou seja lá que nome damos àquilo que fundamentalmente você é.

A compreensão de como nossa mente funciona e a percepção de que algo mais  envolve tudo o que somos é que transforma completamente nossa vida. A gente não se vê isolado mas, sim, encaixado numa ordem cósmica completa onde temos um papel a cumprir.

O que faz nossa vida significativa é apreciar o melhor de nós mesmos, aceitando a pessoa que somos e transformarmos nossa mente no que for possível.  Assim, a transformação não se faz em um dia. O que pode haver é sim uma intenção e, a partir daí, um processo intenso de determinação e de amor.

Desejo para 2015 e sempre que todos os seres sejam felizes.

Desejo a você
Márcio Assumpção

Desejo a você
que seu “ancoramento” seja maior que a distração
que sua coragem seja maior que o medo
que sua iniciativa seja maior que a inércia. 
Desejo que os seus sentimentos sejam baseados no amor
que haja mais compreensão do que críticas
que haja mais entrega do que egoísmo.
Desejo que sua força para mante e construir qualquer coisa
seja maior que a fraqueza para destruir
e mesmo que destruam o que você construiu
que sua força para recomeçar seja maior que a mágoa.
Desejo que a sua busca por autoconhecimento
seja maior do que o medo de se olhar
que a fé  seja maior que a crença
que a compaixão seja maior que a pena.
Desejo que o seu escutar seja maior que o falar
que o seu cantar seja maior que o gritar
que o silêncio o conduza ao encontro do Absoluto.
Desejo a você
que tenha desapego para deixar o passado passar
que tenha calma para deixar o futuro chegar
e que tenha sabedoria para viver o presente.
Desejo que o seu maior “desejo”
Seja o de se libertar do egoísmo e se abrir para a luz interior.
Om Tat Sat.

23 de dezembro de 2014

CELEBRAÇÃO

Aqui estamos novamente vivendo o “dezembrite” que escrevi o ano passado. Agitação física, emocional, mental. Adoro o mês de dezembro, mas corro desse tipo de agitação. 

Lembro-me de natais na casa de minha avó em Americana onde a grande alegria era o encontro de pessoas que não se viam há tanto tempo. Quando chegávamos na cidade, meu avó nos pegava na estação de charrete. Para mim era esse o trenó do Papai Noel. Atravessávamos a cidade naquela música do trotar do cavalo e, ao chegar, minha avozinha nos esperava com muita alegria.  Não, não tinha presentes, amigos-secretos, era só mesmo a alegria do encontro. 

Eu gostava e gosto dessas coisas simples e tão simbólicas. A arte do encontro.  Hoje com tanta agitação, muitos presentes e pouco encontro, vamos nos perdendo na nossa própria ignorância, no nosso esquecimento e ocupando nossa mente e nosso tempo fazendo as mesmas coisas de todos os natais e, depois, colocamos fotos no Facebook para compartilhar nossa felicidade com pessoas que quase esquecemos que existem.

Claro que não é sempre assim. Claro que celebramos o Natal como podemos, como imaginamos e com quem quisermos.  Eu quero viver esse momento não esquecendo do ensinamento de amor que recebemos através dos tempos, e através de pessoas chaves que tivemos no nosso caminho. Pessoas que nos marcaram de alguma forma porque olharam para você de forma especial, conseguiram ver em você aquilo de melhor que você expressa.

Quando olho, vejo muitas pessoas assim pelo caminho da minha vida. Ainda essa semana encontrei uma amiga de faculdade – a Ester – após 30 anos.  Muita de minha base espiritual eu ouvi pela primeira vez dessa menina doce e alegre nos seus 20 anos. Confesso que não entendia muito bem, mas como semente ficou ali para florescer muitos anos depois. Que coisa incrível! Fiquei tão feliz de encontrá-la e poder dizer “muito obrigada”– foi um grande presente de Natal.

Também celebrei esse Natal com um lindo Satsanga lá no Instituto de Yogaterapia, tendo oportunidade de, além de encontrar pessoas que comungam as mesmas ideias, refletir sobre os nossos cinco sentidos como uma graça recebida para podemos nos expressar e observar o mundo.

Também tive um outro encontro, que fazemos todo ano, com amigas de longa data onde trocamos boas risadas e oferendas simples e sublimes.

Como parte dessas celebrações também incluiria o Jogo da Transformação, que facilitei esse mês, tendo oportunidade de compartilhar nossas experiências. Nesse pacote incluo, claro, minha formação em Findhorn, na Escócia, e minha viagem para Totnes na Inglaterra. 

O último dia de aula de inglês de todos os alunos, quando eles tiram as cartas de “anjos” para o ano seguinte, também é bem especial para mim. É como se fosse um fechamento integral de conhecimento e de trocas de vivências. 

Meus encontros com minha mãe aos sábados, onde aprofundo nossas intimidades, me fizeram  um bem enorme esse ano porque acabo liberando dores familiares que já não preciso mais, além de exercitar novas expressões de amor.

Viver um ano de paz, apoio, leveza e boas risadas com o Edmilson também é um presente de Natal todos os dias.

Tudo isso coroado de boa música na Lagoa do Taquaral com coral de crianças cantando “Noite Feliz” e uma soprano cantando “Ave Maria” em meio a chuviscos de verão abençoando tudo, foi uma emoção de vibrar o coração.

Estou pensando aqui que o Natal não é só em dezembro, ele se espalha por todo o ano.  A todo tempo temos momentos que nos marcam e que nos proporcionam uma abertura no coração e que nos protegem de nossa própria ignorância.

Acho que celebração então é isso. É marcar com alegria e expansão no coração momentos e vivências que nos fizeram aprofundar e nos conhecer melhor.  Ao celebrar, registramos na alma essa experiência da abundância que nos dá uma sensação de pertencimento, de conexão.

Que o ano que se inicia seja de inspiração para todos nós para reconhecermos esse espírito de amor em cada dia, em cada situação, a cada encontro. Que possamos sair do nosso mundinho pequeno e olhar para a imensidão dessa bênção recebida que é a nossa própria vida e que, à medida que olharmos para dentro, possamos tirar a nuvem que cobre nossos olhos e obstrui o nosso caminhar, olharmos somente para o essencial. 

Abaixo uma poesia/oração de Márcio Assunção lida no Satsanga.

 Oração de Gratidão

Pai,
Ensina-me a nada pedir e a ser grato por tudo
Gratidão
Pelo meu nascimento, pelas condições em que nasci e pela minha família.
Gratidão
Pela minha infância. Hoje eu sei que tive o que precisei para traçar a trajetória da minha vida.
Gratidão
Pela minha juventude. Hoje eu sei o quanto ser jovem me ensinou a ter coragem, arriscar e seguir em frente.
Gratidão
Pelos desafios da vida adulta. Estou aprendendo que cada obstáculo é uma lição para meu crescimento.
Gratidão
Pelos sucessos e pelos acertos. Estou aprendendo que é preciso ter humildade para acolher os bons frutos.
Gratidão também
Pelos insucessos e pelos erros não intencionais. Estou aprendendo que a Vida é dual e também é preciso ter humildades para colher as ações que plantei no passado.
Gratidão
Pelas pessoas que me querem bem, pois me ensinam a amar e me motivam a seguir em frente.
Gratidão ainda maior
Pelas pessoas que me veem como desafeto e criam obstáculos na minha vida, pois são essas pessoas que me impulsionam mudanças e transformações profundas.
Gratidão
Pela minha velhice, presente ou futura. Estou aprendendo que envelhecer me prepara para a grande passagem e me torna maduro e quem sabe, mais sábio.
O que pedir quando reconhecemos que tudo respeita uma ordem Universal?

Não tenho mais nada a pedir.        
Só tenho a agradecer e reconhecer.
Pai, muito obrigada.