Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

10 de abril de 2016

FORMAS

Tantas são as filosofias, religiões, teorias e terapias sobre a espiritualidade e sobre o autoconhecimento que às vezes me pergunto o que é mesmo esse tal de autoconhecimento. Quem é esse eu que quero descobrir e quem é esse eu que pergunta isso? Tento elaborar isso sozinha no meu momento de quietude e de inquietação como se fosse um laboratório da minha convivência, com o mundo sem as pessoas. Mas o processo para eu entender a resposta exige outras pessoas, outras situações. E são nessas situações em que vivemos que existe um conjunto de coisas que precisamos passar para crescer. Todas as pessoas envolvidas fazem parte desse ritual de crescimento. Não há processo de autoconhecimento como algo independente da vida de uma pessoa.

Ultimamente tenho tido experiência com crianças e isso me faz pensar em tantas possibilidades metafóricas. Gosto de ver o tamanho das mãozinhas e pezinhos e boquinhas. Até mesmo quando eu olho meu retrato branco e preto de criança, me ponho a pensar: como assim eu cabia todinha nesse corpinho, com essas mãozinhas e pezinhos? E brincar com elas de “Peekaboo – I see you!” me faz pensar em tantas coisas...

Pensar que todos nós, as pessoas de todas as idades, que admiramos ou não, já tivemos algum dia aquele corpinho frágil, dependente e ao mesmo tempo tão cheio de sementes de vida pura por viver. Tudo por ser construído, tudo por ser explorado com uma alegria genuína, autêntica. Ali naquele corpinho está toda potencialidade física, trazendo já com ele todas as tendências emocionais, sensoriais e espirituais.  É incrível. Muito incrível mesmo.

Só pensar isso já traz um silêncio longo... mas vamos continuar esse post.

Esse corpinho vai durar alguns meses e outro corpinho aparecerá e depois outro mais crescido e mais outro.  Eu já mudei de corpos umas tantas vezes nesses quase 60 anos. Já mudei de conceitos, de ideias, de amores e de dores. Já mudei de desejos, de vontades. Já mudei de tamanho e de pele e de hormônios. E ainda assim eu continuo a ser eu mesma. Ops! Mas ao mesmo tempo eu já não sou a mesma de 30 anos atrás, 20 anos atrás, 5 anos... já não sou a mesma de ontem na hora do café da manhã.  E ainda assim continuo sendo eu mesma. É incrível. Muito incrível.

Quem é esse eu que não muda nunca?

Quando olho agora daqui da sala para minha mãezinha de 94 anos deitadinha lá na cama, lembro de todas essas formas diferentes que ela já vivenciou. Mesmo agora na forma frágil e esquecida das coisas e das histórias que vão se perdendo, ela continua lá sendo ela mesma desde o primeiro dia, desde sua primeira inspiração se estabelecendo nessa existência.

Da mesma forma que o bebê guarda nele toda a semente que irá desabrochar, minha mãe guarda nela a beleza da semente manifesta e a semente que tomará outras formas e ainda assim ela estará lá. 

Olho agora a foto de meu pai perto do relógio cujos ponteiros rodam, rodam, rodam naquele tic-tac quase ensurdecedor. Meu pai não tem mais todas aquelas formas que eu conheci desde que eu nasci. Mas sabe o quê? Ele também continua lá existindo naquela nova forma, descobrindo mais uma possibilidade de existência.

Olho agora para meu corpo e a semente vive em mim também mudando de formas tão rapidamente que, às vezes, me surpreendo com tantas nuanças de cores e texturas e flexibilidades e clareza mental e emocional.

A gente vai largando as formas como as borboletas fazem ao largar os casulos. A gente vai largando nossas crenças, nossas vontades de  estar certa, de ser perfeita, nosso autoritarismo. Vamos largando a nossa vontade de que as coisas sejam como achamos ser o certo. Vamos largando pessoas, amigos, nosso egoísmo, nossa tristeza, nossas verdades, nossas opiniões sobre tudo. Largamos nossos livros, nossos cds, nossas roupas. Vamos largando nossos julgamentos, nossas tolices. Largamos até mesmo nosso corpo. Nos desfazemos da nossa opinião sobre nós mesmos, de uma visão de nós mesmos de limitação. E corre a vida nos tic-tacs dos ponteiros do relógio nos dando todas essas infinitas possibilidade de se desfazer...

De verdade mesmo existe só um silêncio entre uma forma e outra. E é nesse silêncio que estou mergulhada nesse momento. Tic-tac, tic-tac.  As formas todas saem desse silêncio que abraça o bebê, que abraça a minha mãe, que abraça o meu pai e que abraça a mim mesma.

Lembro-me nas minhas brigas com Deus quando eu pedia uma resposta e não havia resposta  alguma. Um dia lembro-me de sair na sacada de madrugada, angustiada, me sentindo numa escuridão e lá embaixo na rua os carros não passavam, as árvores balançando na brisa e eu lá querendo uma resposta que nunca chegava. Decidi então que já que tudo lá fora era silêncio e que resposta nenhuma vinha, apesar de ter pedido tanto, então eu também ficaria em silêncio e pronto. E fiquei...  Não queria mais saber dessa história de pedir respostas... Entrei naquele silêncio e senti algo tão inexplicável...  e entendi, que se existisse mesmo um Deus, ele era esse silêncio. E isso preenchia e desmanchava todas as formas e esse silêncio era tudo. Tudo a minha volta era preenchido desse silêncio.

Minha mãe acordou e agora ela olha nossas fotos quando crianças por intermináveis minutos, fazendo perguntas como se fosse a primeira vez que estivesse olhando para aquelas formas diferentes de nós mesmos. Olha e pergunta, olha e pergunta, olha e pergunta...  Tic-tac, tic-tac...  E ela, que sabia de todas nossas histórias da família, adquire uma nova forma nos ensinando que apesar da forma, apesar do papel que estamos representando, estamos sempre lá. Esse eu que não morre nunca e que não muda, esse é o “eu” que estou interessada em conhecer. O autoconhecimento só pode ser desse “eu” que não muda nunca independente da forma.

A pessoa que era antes precisa crescer no entendimento da outra nova pessoa que, na verdade, ela sempre foi, mas não sabia. Assim, o autoconhecimento não é algo progressivo do tipo vou crescendo, vou crescendo até me tornar uma outra pessoa. Não, pois eu já sou esta pessoa. Se eu me considero algo que não sou, então o processo de crescimento é o processo de “se desfazer”. Eu vou me desfazendo da conclusão errada da pessoa que eu acho que sou para me tornar a pessoa que eu realmente sou.

Peekaboo! I see you!



27 de março de 2016

RELACIONAMENTO E LIBERDADE

Daqui desse lugar, vou olhando as montanhas e minha mente vai passando por tantas cenas cotidianas e brotando um mar de sensações e sentimentos.  Crianças de minhas alunas nascendo, nossas mães arrumando a malinha para viajar para outras experiências, casais amigos se separando, se descobrindo, alunos chorando, o dinheiro acabando, pessoas casando, outras se mudando para outro pais, outra cidade... Tantas cenas, tantos eventos... Mas quer saber?  Está tudo certo.

Como nada é coincidência, ouvir hoje a aula do Jonas (professor de Vedanta) foi como resumir tudo isso num entendimento maior de como funcionamos, de como o mundo funciona. Abaixo coloco as anotações que faço ao ouvi-lo.

O entendimento do objetivo humano é algo extremamente importante porque todo mundo, à medida que vai vivendo, tem questionamentos do tipo “qual é a minha missão? Para onde eu vou? O que eu vou fazer? Me sinto perdido, será que estou fazendo o que deveria estar fazendo? Não queria estar trabalhando com isso e sim com algo realmente relevante. Eu me sinto sozinho, as pessoas não sabem o que eu sinto, o que eu vivo. Eu não tenho amigos” etc.

Há 2 tipos de amigos que são legítimos:
1) aquele que está no mesmo vagão de trem. Enquanto estamos lá, existe uma troca, mas quando você desce desse vagão e vai para outra direção, os amigos desaparecem. Isso acontece até mesmo dentro de uma família, quando eles entram em vagões diferentes, mas nem sempre a amizade continua.
2) aquele que está fora do vagão que você está, mas que existe uma conexão por uma força muito mais profunda do que uma convivência.

Normalmente as pessoas se conectam pela convivência  e acabam sendo muletas umas das outras. Eu preciso ser capaz de curtir a felicidade do meu amigo dentro da felicidade dele e curtir a tristeza do meu amigo dentro da tristeza dele. Se não sentimos prazer em escutar a vida de uma pessoa que está triste, essa pessoa nunca vai sentir que você é amigo dela.  Ficamos triste também junto com a tristeza da outra pessoa, mas ao mesmo tempo estamos colaborando para a vida dela, participando de um momento íntimo. Se eu sou capaz de compartilhar dessas alegrias e tristezas, então eu tenho uma conexão, uma amizade. Isso é algo muito raro.

O que acontece é que às vezes a pessoa sai do vagão em que você está  e aí você acha que a pessoa brigou contigo e que não gosta mais de você – na verdade,  ela só está andando em outra direção.  Mas dentro de nossa mente criamos realidades sobre as  pessoas: “Ela me traiu”.  Não, ela não te traiu. Ela só está vivendo a vida dela, e na vida dela, você não é o centro das atenções – é ela. Na sua vida, o centro da atenção é você. Ninguém trai ninguém. Tudo está dentro das cabeças das pessoas.  Primeiro que para você ser traído, você tem que estar com a relação torta, ou seja, você está ali com uma pessoa que não quer estar com você e você está forçando a barra. Você lê os sinais.

Como se resolve uma traição? Você tem que pedir 2 perdões:  1) perdoar a pessoa por ter feito o que fez 2) se perdoar por ter deixado ela fazer o que fez com você. Você não pode achar que a culpa é dela. É o desejo dela, o egoísmo dela,  a necessidade dela de ser feliz, e você não é prioridade, assim como ninguém é prioridade na vida de ninguém.

A base de um relacionamento é a liberdade. Se eu dou liberdade para a outra pessoa que está comigo de ser ela mesma, como ela pode me trair? Quando? Se ela não quer ficar comigo, se ela se interessou por outra pessoa. Aí ela te traiu? Ela não te traiu. Você é que traiu um conceito que você tem em sua mente de que ela iria ficar com você para sempre e que nunca mais se interessaria por mais ninguém.  O estabelecimento dessa ideia é a fonte de sofrimento. Ninguém de verdade tem a capacidade de magoar ninguém. Só nos sentimos magoadas quando dentro de nossa mente está estabelecida uma espécie de fantasia a respeito da realidade e pouca liberdade.  Se há a liberdade você pode perguntar pra outra pessoa se ela quer ficar com você ou com a outra pessoa. Aí você se posiciona.  Dentro de um relacionamento com liberdade a pessoa vai descobrindo a outra porque ela também  está se descobrindo.
O conceito de fim de relacionamento não existe se há liberdade. A verdade é que toda vez que eu estabeleço relacionamento de qualquer tipo mas eu não estabeleço a liberdade das pessoas, o relacionamento está condenado.

A minha relação com cada um não pode ser estabelecida por um ideal de como eu acho que as coisas deveriam ser, mas para uma realidade de que as pessoas querem viver, das responsabilidades dela, dos compromissos dela. Se a liberdade está estabelecida na base dos relacionamentos, então ninguém trai ninguém.

O deslocamento emocional é o sintoma desse mal que a gente vê no mundo.  Às vezes as emoções são tão fortes que mesmo a pessoa entendendo o que sente, a mente volta no padrão anterior. A nossa mente tem por trás dela, uma espécie de funcionamento paralelo. As nossas emoções, nosso ciclo emocional não estão vinculados com o mundo do lado de fora.

As emoções só pegam do cardápio de opções de coisas do mundo o que elas quiserem apresentar hoje.
O que estou sentido, raiva, ansiedade, depressão, é só meu.  E uma vez que entendo que isso não pertence a ninguém, tendo a isolar as pessoas disso tentando resolver o problema sozinha, mas esse problema não será resolvido dessa maneira como imaginávamos.

Não vamos “evoluir espiritualmente” (e aí cabe estudar o que é evoluir espiritualmente) e acabar com a nossa raiva, ódio, medo, etc.  Esses sentimentos todos são a sua criança interior que você carrega em você. Existe uma configuração de emoções e comportamentos e ela nunca mudou e nunca vai mudar depois de qualquer meditação. Ela, a criança, não vai embora.  Ela fica lá esperando uma oportunidade de sair. Às vezes em terapia (instrumento importantíssimo) conseguimos identificar, analisar e aí tiramos aquela carga, o excesso, mas a base dos sentimentos continua ali.

As emoções não têm nada a ver com a nossa felicidade e é aí que está a chave da questão. Ou eu entendo isso e parto para uma outra solução, ou eu fico preso, tentando destruir o mal no mundo e me convencer que eu sou o problema e me chicoteio para resolver isso. Na verdade a solução não é a destruição de suas emoções ou a aniquilação de sua personalidade. Pra dizer a verdade não tem nada de errado em ter essas emoções. Todas as “desgraças” aparentes que aconteceram nas nossas vidas construíram o que somos hoje. O conceito de “mal” tem que ser desconstruído de nossa mente.  O universo o tempo todo coloca obstáculos, tira obstáculos.  Esses conceitos de que Deus premia uns e castiga outros, de que há pessoas, lugares especiais ou não especiais, tudo isso atrapalha uma mente sóbria de pensar sobre o mundo.

Nesse entendimento nosso coração fica em paz porque tudo está dentro de um plano. Não tem motivo para insegurança. Se você se coloca como você se sente, a outra pessoa também faz o mesmo. Só precisa estar preparadas para ouvir. E é nessa troca que existe uma oportunidade de crescimento.  A mãe perfeita não reside nas atitudes que ela tem de tomar, porque as atitudes estão sempre misturadas com ignorância e traumas. A mãe perfeita reside no amor constante que ela sentiu desde o primeiro momento que estava com a filha até mesmo quando essa filha fez algo que ela desaprovou ou quando vibrou por ela ter acertado. Esse amor é da mãe perfeita. Não é a pessoa. Essa pessoa  que está ali nunca vai ser perfeita. Esse sentimento é a mãe perfeita. Viver a vida tentando consertar a filha ou o outro é um estresse, pois nunca vamos conseguir consertar ninguém.  Todos têm seu tempo.

As pessoas nascem separadas. Enquanto o universo permite, ótimo, quando não, temos que saber dar adeus. Então precisamos começar a dar adeus antes. Você constrói esse adeus na liberdade durante todo o relacionamento.  Você constrói o “bem vindo” e você constrói também o adeus.


5 de dezembro de 2015

SER LIVRE

Outro dia olhava pela janela de meu apartamento - tudo quieto lá fora, as nuvens estão fazendo o meio-dia se tornar meia-noite. Uma quietude bem parecida com a que estou vivendo ultimamente por alguma necessidade interna.  De repente a condição de nossa mente muda e uma outra maturidade surge sem que forcemos nada. A mente funciona com orientação e condicionamento, então é preciso qualificá-la para que ela possa viver como se fosse livre, reconhecer que ela é livre.
      
Ainda ontem perguntava ao Edmilson, meu companheiro de experiências diárias, a razão de um dia antes eu estar tão triste e agora estar tão... tão....  Sem conseguir achar a palavra, ele disse: “Livre”.  Os eventos que me fizeram tristes no dia anterior continuavam os mesmos, então o que havia mudado?  E ele que nem é dado a filosofias ou estudos de Vedanta, me disse: “É porque essa é a natureza da mente – ser livre.”
                     
Fiquei ali quietinha tentando absorver essa compreensão e deixando me inundar por essa sensação de “ser livre”.  Desconfio que isso seja a felicidade que tanto buscamos.

Nossa mente é orientada desde sempre pela sociedade, família etc. para nos julgar e julgar o mundo. Olhamos para o mundo e não queremos que ele seja do jeito que ele é. Olhamos para nós mesmos não queremos ser do jeito que somos. Que grande infelicidade então, já que não temos nenhum controle quanto a isso, porque nossa mente estruturada com as experiências familiares, com os costumes da minha cultura, com o que aprendi nas escolas, no ambiente de trabalho, é assim que ela é. E ela vai reagir através desses condicionamentos e orientações. De uma certa forma, entregamos nossa mente às orientações equivocadas do mundo. E essa nossa mente e a sociedade nos dão a fantasia de como devemos ser.

O Swami Dayananda diz: Quando os valores sociais não correspondem aos valores universais (os eternos) é aí que começa o perigo, porque agora eu não posso mais sentir paz.”

Desejo tantas coisas e quando as tenho, ainda assim parece que não sou feliz. Tenho tantas verdades construídas por essa mente, por essa sociedade e quando começo a me relacionar com o mundo me vejo cheia de confusões, porque todas as coisas estão apontadas para nos fazer sair do nosso centro. Então o problema deve estar lá no outro. E mesmo pensando que o problema não está em mim, ainda assim não há paz.

Quando nossa mente é muito pequena, qualquer coisa é motivo para nosso sofrimento, nossos medos, angústias e frustrações.

Só nos resta então qualificar essa mente. Mas como criar uma estrutura de mente que me leve ao controle de mim mesma, a um certo relaxamento? Como qualificar essa mente cheia de desejos e confusões? Desconfio que tudo que nos acontece tem esse objetivo: preparar nossa mente e torná-la mais madura.

Precisamos então expandir essa nossa mente, nos aquietar e olhar para dentro, para nossas dificuldades e, ao invés de julgar, ter a capacidade de sentir e acolher o que se sente (a raiva, o medo etc.), acomodar o universo inteiro e não reagir a essas dificuldades automaticamente; deixar de lado certas coisas como apegos emocionais, ideias encapsuladas ou enrijecidas.

E, mais que isso, é preciso expandir a mente, olhar para o horizonte, perceber que existe uma ordem cósmica maior e que o mundo não é o meu problema, mas o que me perturba de fato é a visão que tenho do mundo e das coisas que estão acontecendo à minha volta. Eu gostaria que as coisas fossem diferentes – e é essa a parte que a gente tem que resolver, porque o mundo não é como gostaríamos que fosse.

Com uma mente mais expansiva e apreciando essa ordem cósmica maior eu me torno mais paciente, mais relaxada e assim posso pensar qual é o meu papel no mundo, como eu dou a minha contribuição e ao desempenhar esse papel eu sinto uma certa completude, sinto que sou livre.

Ao observar esse dia que virou noite lá fora e ao ver a água que cai e enche os rios e que essa mesma água vai correr e fluir dentro do meu corpo, me sinto tão abençoada pela vida! Percebo tão claramente essa ordem maior se descortinando na minha frente me dando esse sentimento de completude e pertencimento que desconfio então que isso é que me faz ter esse sentimento agora de ser livre. OM.

28 de junho de 2015

REFÚGIOS

Em nossa rotina, vamos nos deparando com tantos momentos de esperança, tristezas, alegrias e impotência com relação a nós mesmos, à nossa casa, à nossa cidade, ao nosso país, à humanidade. Ainda outro dia ouvia a  palestra na CPFL de Viviani Mosé, que falava sobre a gestão-de-si. E a pergunta que ficou foi: como podemos ter uma boa gestão de uma escola, de uma empresa, de um prédio, de uma família, de um país, se não temos uma boa gestão de nós mesmos?

Eu não sei como eu funciono nem física, emocional ou mentalmente e, portanto, a única coisa que consigo fazer é reagir através de minhas crenças e meus padrões criados desde quando criança. Nem a família, nem a escola nos têm ajudado e aí queremos ser gestores de pessoas. Pegamos formatos velhos e ultrapassados, não questionamos nada, porque também sobre mim eu não questiono e aplicamos esse formato a realidades tão diversas. Claro, não funciona. Não ousamos criar novos formatos nem fora de nós, nem dentro de nós mesmos. Continuamos pensando quadrado, apegados ao que já está aqui, dançando entre velhos paradigmas tanto na política quanto nas filosofias religiosas ou questões psicológicas ou da educação, mesmo que não funcionem mais.  Ficamos lá fazendo de conta que nos gerenciamos, que gerenciamos o nosso redor, sem ousar uma mudança interna, um olhar para dentro de nós mesmos, sem ver o mundo mais amplo e com mais generosidade.

Sem esse “conhecer-se”, sem esse saber de como funciono não há refúgios, só há confusão mental. Os refúgios são pontes que ligam o que vivo com aquilo que eu sou. É aquele momento em que você se sente completo, pleno e, por isso, surge aquele relaxamento interno. Às vezes experimentamos esse refúgio na natureza. Eu não me canso de olhar todas as árvores que me esperam todos os dias onde passo de carro indo para o trabalho, passando por Barão Geraldo ou andando nas ruas de Campinas. E também me lembro das árvores dos parques de Londres, de Findhorn, de Totnes. E também as árvores do bairro onde nasci e que todas as manhãs de sábado as reencontro enquanto caminho lentamente com minha mãe que não se cansa de admirá-las. E, de alguma maneira, me lembro das árvores das montanhas dos Himalaias, onde nunca fui. Elas estão sempre lá. E, conforme as estações passam, elas se vestem diferentes para celebrar as mudanças, a inconstância constante dentro do tempo e espaço. É o solo que segura as raízes por todo tempo que ela viver e, por isso, ela permanece forte e espalha os galhos para o céu, recebendo energia do sol, fazendo fotossíntese.

Como diz Satish Kumar, a generosidade do solo é infinita, pois ajuda uma simples semente a se multiplicar em milhares de outras sementes por centenas de anos, produzindo cor, aroma, sabor, alimentando pássaros, abelhas, outros animais e humanos. As árvores celebram a generosidade do solo, oferecendo seus frutos para quem precisar, sem condição, sem julgamento. A árvore dá madeira para a cadeira, dá o galho para o pássaro fazer seu ninho e o oxigênio para manter a vida. A generosidade do sol que queima para manter a vida e faz a Terra se mover e a colheita amadurecer para alimentar todos os seres; da lua que mantém o ciclo do tempo e sustenta a presença das mares, da chuva que emerge dos oceanos vindo das nuvens, se entregando a cada fazenda, campo, floresta, montanhas e humanos sem cobrar nada. A generosidade do ar, do espaço, da alma, da sociedade etc. O mundo é como o vemos e o que fazemos disso. Reconhecer esse refúgio, essa  generosidade do universo não é negar o lado sombrio, mas projetar nele o que queremos.

Tantos refúgios podemos vivenciar dentro de nós mesmos! A arte na expressão da música, das pinturas, da palavra, das ideias, da ação útil, da coerência com que pensamos, sentimos e agimos, com os valores universais atemporais. Também são refúgios os livros que nos preenchem, as ideias que nos conectam a nós mesmos, a quietude que nos faz saber o que estou fazendo aqui, o desejo de contribuir com o outro e com o mundo.

Todos esses refúgios são nossa base que precisamos identificar em nós e são construídos a partir dessa gestão de cada um de si mesmo, desse autoconhecimento que se desdobra todos os dias á medida que perguntamos: “A vida é isso? Ou tem algo mais que isso? E, se tem, eu quero descobrir o que é.

17 de maio de 2015

CRISES

Ainda sobre essa crise da água - e na verdade não é só esta crise que nos deixa de queixos caídos - se ficarmos vivendo nesse estilo de vida não sustentável e desconectado do todo, olhando para o que acontece a nossa volta com a lente da impotência, da raiva ou da negação continuaremos vivendo um mundo velho.

Mundo velho é aquele que segundo, Charles Eisentein no livro “The More Beautiful World Our Hearts Know is Possible”.

 Diz ele: “Vemo-nos como um indivíduo separado entre outros indivíduos separados em um universo que é separado de nós também. Somos um amontoado cartesiano de consciência olhando para fora pelos olhos de um robô feito de carne. Somos uma bolha de psicologia, uma mente separada de outras mentes e da matéria... Em algum nível, dentro de nós, sabemos que nossos sistemas de dinheiro, política, medicina, educação etc, não estão mais entregando os benefícios que um dia entregaram e, na verdade, estão retrocedendo a cada ano. Em algum nível sabemos que a vida era para ser mais alegre que isso, mais real, mais significativa. O mundo era para ser mais bonito e não era para a gente odiar segundas-feiras e viver pelos finais de semana e pelas férias. Não era para a gente ser mantido em quatro paredes num dia bonito, dia após dia, até que a aposentadoria chegue. Não era para milhões estarem morrendo de fome e não era para as florestas diminuírem, os peixes morrerem. Não era para ter problemas fragmentados a serem resolvidos como fatos infelizes ou serem simplesmente ignorados.” 

Com essa crise que estamos enfrentando da água e tantas outras crises, temos que mudar nossos hábitos que estão tão incorporados em nós. E quando começamos a fazer isso, descobrimos que não podemos mudar uma coisa sem mudar tudo, tanto no nível individual quanto no coletivo, pois as nossas instituições externas refletem nossas percepções básicas do mundo, nossas ideologias e sistemas de crenças.
Tudo parece insano quando vejo por exemplo quanto de água sai da máquina de lavar roupa e quanta coisa é possível fazer com ela. E toda água que usamos para lavar verduras, que poderia ser reaproveitada para molhar as plantas. E a água que gastamos ao escovar os dentes debaixo do chuveiro etc.  Quantos hábitos que nem notávamos. Aí vou lembrando de minha mãe lavando o quintal com a água da roupa lavada e o regador sendo enchido com a água dos pés de alface sendo lavados e ao enchê-lo regávamos as alfaces que estavam plantadas. Onde foi parar essa nossa sabedoria?

Outro dia no supermercado vi uma máquina de fazer café. Você coloca uma sachezinhos de pó de café e pronto, seu café está pronto. Aí a propaganda dizia “Compre 14 sachês por 17 reais cada e leve a máquina de graça.” No mesmo tempo lembrei de uma foto de minha amiga Nádia que decidiu ter uma casinha lá numa cidadezinha de Minas Gerais.

A foto era de um café sendo passado num coador de pano. Nossa, quase senti o cheiro do café e o gosto gostoso de ter pessoas por perto conversando enquanto o café saia fininho para a chaleira. Por que precisamos desse sachê que tem pó de café do Brasil e que vai até a Alemanha para eles transformarem em sachês para voltar pro Brasil? E ainda junto com mais um aparelho para eu nem saber onde guardar em minha cozinha, já que hoje os apartamentos são minúsculos?  Fiquei achando muito insano e me deu vontade de tomar um café da Nádia, mesmo não gostando de café.
Então repito: para onde foi nossa sabedoria?

Em algum nível sabemos a resposta. Ainda tirado do livro:

“O meu ser participa do seu ser e de todos os seres. Isso vai além de interdependência — a nossa própria existência é relacional, portanto, o que nós fazemos ao outro, fazemos a nós mesmos. Cada um de nós tem uma dádiva única e necessária a dar ao mundo e o propósito de vida é a expressão de nossas dádivas. Cada ato é significativo e tem um efeito no cosmos e toda pessoa que encontramos e toda experiência que temos espelha algo de dentro de nós mesmos. A humanidade é destinada a se juntar completamente à tribo de toda a vida na Terra, oferecendo nossas dádivas humanas únicas para o bem-estar e o desenvolvimento do todo.”

15 de janeiro de 2015

ÁGUA E ANIVERSÁRIO

O que tem a ver o meu aniversário no dia 19 de janeiro com a água que não enche a represa do Atibaia?  Fazer 58 anos significa alguma coisa. Ninguém vive esses anos sem que alguma coisa seja alterada em seu jeito de viver, de pensar. Nesse dia penso presentear não a mim mesma, mas a minha mãe que emprestou seu corpo para que eu pudesse ter essa oportunidade de experimentar tantas sensações através de meus sentidos perfeitos, de meu corpo perfeito. Gratidão profunda a ela e a todas as mulheres que vieram antes de mim através de tantas gerações doando seus corpos para o nascimento de outros seres.
 
No dia que nasci, minha mãe me disse, quando ela ainda se lembrava disso, que chovia o dia todo, chuva de janeiro, uma chuvinha fina, mas contínua. E nessa atmosfera entre dores, força, bolsa de água se rompendo, confiança e quietude, minha mãe me dava à luz. 
 
E eu pela primeira vez fazia força para o ar entrar no meu pequeno pulmão firmando e ocupando meu espaço nesse mundo. Saí da água, respirei o ar e me coloquei nesse planeta para cumprir a minha própria história.
 
Quando nasci, o mundo já estava pronto para que eu pudesse usufruir de tudo. Gratidão profunda a esse planeta que é todo formado, inclusive meu corpo, dos 5 elementos: espaço, ar, fogo, água e terra.
 
Semana passada, numa viagem de carro pude ver a represa de Atibaia onde, 20 anos atrás, eu brincava de nadar e contemplava aquela imensidão de água do lado de pés de mexericas – mexericas que são cheias de garrafinhas de água, como me ensinou Maria Preta. 
 
Na verdade o que vi agora foi uma faixa marrom de terra em torno de toda a represa. E onde fazemos o retorno para voltar para Campinas pela D. Pedro, onde me surpreendia pelo azul da água lá embaixo, o que vi foi uma grande cratera sem nenhum fio de água... Senti uma dor profunda no peito, tudo parou, até o ar parou. Doía dentro de mim, nas minhas entranhas, constatando que as coisas acabam, até as represas acabam.
 
Dessa forma meio torta percebi que não sou separada do universo, que aquela água, aquela cratera, tudo faz parte de mim mesma. Somos de fato feito dos mesmos elementos. Por isso sentia aquela dor cortante. A vida é tão abundante que me deu essa compreensão de presente pelo meu aniversário, pelo meu esforço de nascer.  Gratidão profunda ao universo que me dá tudo o que preciso para me desenvolver física, emocional, mental e espiritualmente.
 
Sinto assim que o dia do aniversário é o momento em que nos encontramos novamente com aquela força dentro da gente, aquela mesma força que nos fez nascer e reconectar com aquilo que já somos. A força da criação se estabelecendo e reconectando todos os fios da existência.
 
Impossível agora usar água sem sentir essa conexão comigo mesmo, sem lembrar de meu nascimento em um dia chuvoso. Impossível não ficar um pouco mais consciente de como usar essa água que dança e que me abençoa todos os dias e passa por mim,  e volta para os rios e voa para os céus e volta pra mim, pra dentro de mim, me mostrando que somos um só. Gratidão profunda à vida que há na água, que há no planeta, que há em mim. 
 
Não tenho nada a pedir a não ser que eu seja abençoada com o conhecimento de quem eu sou. Parabéns à vida.


A Horta de Nazaré com a represa abaixo
Descendo para a Horta de Nazaré



30 de dezembro de 2014

2015


Ok, ok, mais um ano se foi e o ano novo começa. Mas no fundo no fundo não é um dia que faz com que a gente mude de postura diante da própria vida, que renove propósitos, que atualize sentimentos, que perdoe  pessoas e a nós mesmos e que se livre de velhos hábitos. Tudo isso é um processo que precisa de uma determinação e permanência na postura. 

E por que queremos mudar alguma coisa em nós ou em nossa vida?  Muitas vezes buscamos segurança, uma casa, um emprego etc e esse desejo toma uma grande parte de nosso tempo e nos dá a sensação de estarmos protegido.

Buscar condições para viver a sua missão, ajudar sua família, a sociedade é um ato muito importante, mas quando conseguimos isso percebemos que ainda não estamos assim tão felizes e fica faltando algo mais. E, porque estamos seguros, começamos então a buscar prazer, desejo, divertimento, a realização dos sentidos. E isso também é muito importante. Mas ao colocar o foco da vida nesses dois pilares – segurança e prazer - chega um dia que questionamos o nosso comportamento para a aquisição disso e ainda assim há uma espécie de vazio que vamos camuflando, tentando conseguir mais segurança e mais prazer e tendo como resultado mais insatisfação.  Por que será?  Conquistamos tudo que pretendíamos, adquirimos tudo que sonhamos e ainda assim, um vazio permeia nosso ser.

Acho que nesse momento entra o dia do ano novo, quando fazemos um balanço de como estamos vivendo nossas vidas e achamos que precisamos mudar. Pensamos se as nossas atitudes para adquirir segurança e prazer são adequadas, se não ferimos nós mesmos e/ou outras pessoas, se não roubamos todo nosso tempo focando só esses dois pilares, se conseguimos olhar para outras facetas da vida, para nosso corpo físico, nossa área familiar, psicológica, intelectual, social, íntima, espiritual. Começamos a questionar os valores universais – aqueles que são verdades aqui, na China ou no Himalaia hoje, ontem e amanhã.

A coerência com que usamos esses valores e as ações em nossas vidas é a mesma quando analisamos a vida dos outros? Será que a vida que levamos está fazendo sentido neste momento? Com certeza, o que esperamos das pessoas, elas também esperam de nós. A vida, a nossa maneira de ser é adequada com a nossa história,  nossas experiências, com a estrutura onde vivemos? Há ferramentas dentro de nós para que possamos mudar alguma coisa? 

Esses são os questionamentos que, geralmente, aparecem neste último dia do ano. Mas isso não quer dizer mudança e sim uma constatação de que se sentir insatisfeito com a nossa vida não é o resultado que queremos nem para o final do ano, nem para o início do ano e nem para o resto de nossas vidas.

Então como começar esse processo de entendimento de mim mesma para que o se sentir satisfeito aconteça naturalmente? Não dá pra forçar estar satisfeito, ser completo, ter novos hábitos, perdoar etc.  Isso tudo é consequência de um entendimento de como funcionamos e que sistemas de crenças estão por trás de comportamentos inadequados que afloram tanta dor. 

É preciso entender como nossa mente funciona, como eu reajo quando as coisas não acontecem como minha mente gostaria e como reajo quando acontecem exatamente como ela queria.

Algumas coisas podemos mudar, outras precisamos ainda ganhar maturidade. E maturidade é quando eu percebo que não sou o centro precisando de todo mundo o tempo todo para que eu me sinta amada e aceita. Maturidade é quando eu adquiro capacidade de contribuir. Só nos tornamos uma pessoa completa quando contribuímos, saindo um pouco de nós mesmos e das nossas necessidades e olhando para a outra pessoa, não pelo que eu quero dessa relação, mas por quanto eu posso contribuir, o quanto posso acomodar essa pessoa dentro de mim.

Dessa forma, entendemos que fazemos parte de um todo. A pessoa inteira que eu sou, eu acolho. O que puder transformar, eu transformo. Mas, antes de transformar, a primeira coisa que faço é modificar a minha mente que é a causadora dos problemas. Mas é ela também que vai nos levar a compreensão do que é o Real, o Absoluto ou seja lá que nome damos àquilo que fundamentalmente você é.

A compreensão de como nossa mente funciona e a percepção de que algo mais  envolve tudo o que somos é que transforma completamente nossa vida. A gente não se vê isolado mas, sim, encaixado numa ordem cósmica completa onde temos um papel a cumprir.

O que faz nossa vida significativa é apreciar o melhor de nós mesmos, aceitando a pessoa que somos e transformarmos nossa mente no que for possível.  Assim, a transformação não se faz em um dia. O que pode haver é sim uma intenção e, a partir daí, um processo intenso de determinação e de amor.

Desejo para 2015 e sempre que todos os seres sejam felizes.

Desejo a você
Márcio Assumpção

Desejo a você
que seu “ancoramento” seja maior que a distração
que sua coragem seja maior que o medo
que sua iniciativa seja maior que a inércia. 
Desejo que os seus sentimentos sejam baseados no amor
que haja mais compreensão do que críticas
que haja mais entrega do que egoísmo.
Desejo que sua força para mante e construir qualquer coisa
seja maior que a fraqueza para destruir
e mesmo que destruam o que você construiu
que sua força para recomeçar seja maior que a mágoa.
Desejo que a sua busca por autoconhecimento
seja maior do que o medo de se olhar
que a fé  seja maior que a crença
que a compaixão seja maior que a pena.
Desejo que o seu escutar seja maior que o falar
que o seu cantar seja maior que o gritar
que o silêncio o conduza ao encontro do Absoluto.
Desejo a você
que tenha desapego para deixar o passado passar
que tenha calma para deixar o futuro chegar
e que tenha sabedoria para viver o presente.
Desejo que o seu maior “desejo”
Seja o de se libertar do egoísmo e se abrir para a luz interior.
Om Tat Sat.

23 de dezembro de 2014

CELEBRAÇÃO

Aqui estamos novamente vivendo o “dezembrite” que escrevi o ano passado. Agitação física, emocional, mental. Adoro o mês de dezembro, mas corro desse tipo de agitação. 

Lembro-me de natais na casa de minha avó em Americana onde a grande alegria era o encontro de pessoas que não se viam há tanto tempo. Quando chegávamos na cidade, meu avó nos pegava na estação de charrete. Para mim era esse o trenó do Papai Noel. Atravessávamos a cidade naquela música do trotar do cavalo e, ao chegar, minha avozinha nos esperava com muita alegria.  Não, não tinha presentes, amigos-secretos, era só mesmo a alegria do encontro. 

Eu gostava e gosto dessas coisas simples e tão simbólicas. A arte do encontro.  Hoje com tanta agitação, muitos presentes e pouco encontro, vamos nos perdendo na nossa própria ignorância, no nosso esquecimento e ocupando nossa mente e nosso tempo fazendo as mesmas coisas de todos os natais e, depois, colocamos fotos no Facebook para compartilhar nossa felicidade com pessoas que quase esquecemos que existem.

Claro que não é sempre assim. Claro que celebramos o Natal como podemos, como imaginamos e com quem quisermos.  Eu quero viver esse momento não esquecendo do ensinamento de amor que recebemos através dos tempos, e através de pessoas chaves que tivemos no nosso caminho. Pessoas que nos marcaram de alguma forma porque olharam para você de forma especial, conseguiram ver em você aquilo de melhor que você expressa.

Quando olho, vejo muitas pessoas assim pelo caminho da minha vida. Ainda essa semana encontrei uma amiga de faculdade – a Ester – após 30 anos.  Muita de minha base espiritual eu ouvi pela primeira vez dessa menina doce e alegre nos seus 20 anos. Confesso que não entendia muito bem, mas como semente ficou ali para florescer muitos anos depois. Que coisa incrível! Fiquei tão feliz de encontrá-la e poder dizer “muito obrigada”– foi um grande presente de Natal.

Também celebrei esse Natal com um lindo Satsanga lá no Instituto de Yogaterapia, tendo oportunidade de, além de encontrar pessoas que comungam as mesmas ideias, refletir sobre os nossos cinco sentidos como uma graça recebida para podemos nos expressar e observar o mundo.

Também tive um outro encontro, que fazemos todo ano, com amigas de longa data onde trocamos boas risadas e oferendas simples e sublimes.

Como parte dessas celebrações também incluiria o Jogo da Transformação, que facilitei esse mês, tendo oportunidade de compartilhar nossas experiências. Nesse pacote incluo, claro, minha formação em Findhorn, na Escócia, e minha viagem para Totnes na Inglaterra. 

O último dia de aula de inglês de todos os alunos, quando eles tiram as cartas de “anjos” para o ano seguinte, também é bem especial para mim. É como se fosse um fechamento integral de conhecimento e de trocas de vivências. 

Meus encontros com minha mãe aos sábados, onde aprofundo nossas intimidades, me fizeram  um bem enorme esse ano porque acabo liberando dores familiares que já não preciso mais, além de exercitar novas expressões de amor.

Viver um ano de paz, apoio, leveza e boas risadas com o Edmilson também é um presente de Natal todos os dias.

Tudo isso coroado de boa música na Lagoa do Taquaral com coral de crianças cantando “Noite Feliz” e uma soprano cantando “Ave Maria” em meio a chuviscos de verão abençoando tudo, foi uma emoção de vibrar o coração.

Estou pensando aqui que o Natal não é só em dezembro, ele se espalha por todo o ano.  A todo tempo temos momentos que nos marcam e que nos proporcionam uma abertura no coração e que nos protegem de nossa própria ignorância.

Acho que celebração então é isso. É marcar com alegria e expansão no coração momentos e vivências que nos fizeram aprofundar e nos conhecer melhor.  Ao celebrar, registramos na alma essa experiência da abundância que nos dá uma sensação de pertencimento, de conexão.

Que o ano que se inicia seja de inspiração para todos nós para reconhecermos esse espírito de amor em cada dia, em cada situação, a cada encontro. Que possamos sair do nosso mundinho pequeno e olhar para a imensidão dessa bênção recebida que é a nossa própria vida e que, à medida que olharmos para dentro, possamos tirar a nuvem que cobre nossos olhos e obstrui o nosso caminhar, olharmos somente para o essencial. 

Abaixo uma poesia/oração de Márcio Assunção lida no Satsanga.

 Oração de Gratidão

Pai,
Ensina-me a nada pedir e a ser grato por tudo
Gratidão
Pelo meu nascimento, pelas condições em que nasci e pela minha família.
Gratidão
Pela minha infância. Hoje eu sei que tive o que precisei para traçar a trajetória da minha vida.
Gratidão
Pela minha juventude. Hoje eu sei o quanto ser jovem me ensinou a ter coragem, arriscar e seguir em frente.
Gratidão
Pelos desafios da vida adulta. Estou aprendendo que cada obstáculo é uma lição para meu crescimento.
Gratidão
Pelos sucessos e pelos acertos. Estou aprendendo que é preciso ter humildade para acolher os bons frutos.
Gratidão também
Pelos insucessos e pelos erros não intencionais. Estou aprendendo que a Vida é dual e também é preciso ter humildades para colher as ações que plantei no passado.
Gratidão
Pelas pessoas que me querem bem, pois me ensinam a amar e me motivam a seguir em frente.
Gratidão ainda maior
Pelas pessoas que me veem como desafeto e criam obstáculos na minha vida, pois são essas pessoas que me impulsionam mudanças e transformações profundas.
Gratidão
Pela minha velhice, presente ou futura. Estou aprendendo que envelhecer me prepara para a grande passagem e me torna maduro e quem sabe, mais sábio.
O que pedir quando reconhecemos que tudo respeita uma ordem Universal?

Não tenho mais nada a pedir.        
Só tenho a agradecer e reconhecer.
Pai, muito obrigada.