Você já se perguntou
qual a nossa capacidade de acomodar a adversidade dentro de nós? Como eu
acomodo o frio, o calor, os momentos de alegrias, os sofrimentos etc.? Não é um
“aguentar”, mas um acomodar. Como eu acomodo minha vida e tudo que nela
acontece dentro de mim? Para uma flor se acomodar em minha mão, a flor tem de
ser menor que a mão. Tem que haver um espaço ou ela não consegue se acomodar
ali.
Estamos o tempo todo
vivendo experiências agradáveis que combinam com a nossa expectativa, outras
serão desagradáveis, mas, raramente, temos uma situação perfeita. Isso é
normal, é inevitável.
Reclamamos o tempo todo:
“Ai que frio; “ai que calor”; “meu chefe tem mau humor”; “que droga de
trânsito”; “não gosto de chuva”; “não gosto de tempo seco”, etc. etc. Você tem
como mudar isso?
Se não existe nenhuma
ação a ser feita nestes casos, o ponto então é como eu acomodo todas essas
adversidades dentro de mim, porque afinal, meu coração é maior do que todas as
situações.
Se acomodamos essas
pequenas situações inevitáveis dentro de nós, sobrará mais espaço para
pensarmos em coisas maiores, para pensarmos em como estou levando a minha vida,
que coisas queremos mudar e como fazer isso?
Quem sou eu, quais são os meus valores, por que estou neste trabalho,
nesta vida? A lista de questionamento sobre nós mesmos é imensa, então porque
sobrecarregar o espaço de nossa mente com coisas que são inevitáveis?
Nós temos a escolha de
deixar essas pequenas situações inevitáveis nos afetarem. Quanto mais a gente
se irrita com um tipo de pessoa, mais poder ela ganha de tirar do meu
equilíbrio. Portanto, somos nós mesmos os responsáveis de sair do equilíbrio e
não o outro. A única maneira de acomodar essa pessoa internamente é dando o
direito dela ser como ela é. Mas insistimos em querer mudar as pessoas, mudar
as situações que são inevitáveis. Como posso querer que a temperatura do dia
seja a que eu espero? Como querer que o meu chefe seja dessa maneira e não
daquela? Essa é uma armadilha para que a gente não olhe para o foco que está
dentro de nós mesmos. Eu dou o direito do outro ser como ele é e esqueço. Não
fico pensando que ele podia ser diferente etc. Eu acomodo essa situação dentro
de mim.
Tudo que pensamos e
sentimos ficam dependurados na nossa mente. A fofoca é também algo que fica lá
e vai aumentando à medida que outras pessoas vão validando aquilo que você diz.
Às vezes as pessoas se justificam dizendo que estão falando de uma outra pessoa
para desabafar. Ora, desabafar seria então se libertar daquele sentimento asfixiante
que a mente carrega. Na verdade essa é uma desculpa bonitinha que arrumamos
para justificar tal atitude. Ao fazer a fofoca, ao falar do outro a gente quer
mesmo que o ouvinte nos valide. E ao ser validado, o sentimento aumenta e não
nos livramos dele.
Não existe um coração que acomoda todas as
pessoas, o que existe é “eu acomodo essa pessoa que eu já sei que me irrita.”
Então eu acomodo essa pessoa que eu sei que me irrita. Na hora que ela faz algo
que me irrita, nesse momento eu dou o direito de ser quem ela é, e deixo a
situação de lado. Assim, a cada situação difícil que me incomoda, arrumamos um
espaço dentro de nós para não nos sentirmos incomodados por essas adversidades,
pois são inevitáveis.
O nosso intelecto,
aquele que pensa, raciocina e tem lógica é o que ilumina a mente agitada e as
emoções. E quem ilumina nosso intelecto é a consciência. Podemos usar todos
esses instrumentos porque todos nós fomos abençoados com eles.
(Alguns trechos e ideias desse texto foram
inspirados nas palestras de Gloria Arieira)
Se a gente cresce com os golpes duros da vida,
também pode crescer com os toques suaves na
alma.
Nada faz sentido neste mundo se não tocamos o
coração de uma pessoa
(Dalai Lama).