Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

20 de fevereiro de 2011

Se

Prof. Hermógenes
O Dr. Hermógenes (90 anos) é um dos maiores mestres do Yoga no Brasil há 50 anos. Sempre que alguém fala em envelhecer me lembro dele, mais do que isso, bebo de suas palavras tão sábias, tão profundas, como se fosse um farol a nos indicar um outro modo de ver a vida.

Diz ele numa entrevista para o "Planeta Sustentável", “...que a felicidade tem a ver com a aceitação do fluxo natural da vida e a maneira como encaramos os acontecimentos é o que faz a diferença."

"Eu respeito o tempo. O que o tempo me traz eu enfrento, e não me iludo com isso. Tenho saúde, felicidade e paz e aceito que o tempo passe. Todas as pessoas são formadas pelo corpo, mas também pelas energias, pelas emoções e pelos pensamentos. Precisamos nos reeducar para dar atenção a todos esses componentes. A cura do corpo é muito importante, mas não é o essencial. Infelizmente, até agora, a ciência ocidental insiste em tratar o iceberg como se fosse somente a parte de cima e nega a existência de toda a parte escondida. Se tratamos só do corpo físico, não alcançamos a saúde integral, completa. A Hatha Ioga tem promovido saúde para um número imenso de pessoas, que se curam de doenças físicas, melhoram psicologicamente e evoluem espiritualmente.

Tenho observado que, à medida que envelhecem, as pessoas se tornam mais próximas de seu lado espiritual. Elas se aproximam mais da essência. A gente vai se afastando na estrada por onde anda, olha para os obstáculos todos e tem outra visão do mundo. Aprende a amar, perdoar, ajudar e ser feliz.

Quando olho para a minha estrada, isso me deixa muito feliz e recompensado. Foi tão bom! Sair da “normose”, superar a tuberculose e viver uma vida mais risonha, suave, mais luminosa...

Estou em uma idade e com condições físicas em que posso sumir daqui a pouco, graças a Deus. A morte é um tempo de folga, de férias. Consiste em perder essa carne, esse corpo, mas, como não sou um corpo, a morte não me alcança, estou certo disso. Morte me lembra as palavras: “entregue, confie, aceite e agradeça”.

E aqui coloco uma poesia dele que gosto muito:

                  Se
Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia...

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...
Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser...

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo...
Se algum ressentimento,
Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou...

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio...

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu...

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia...

Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim...

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito...

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz...

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou...

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.
(Professor Hermógenes)

13 de fevereiro de 2011

Mudança

Coloco aqui um trechinho do post “Módulo”, do blog da Mirella “Nós pela Terra”. Ela está estudando Ciências Holísticas em Londres, no Schumacher College, (o endereço do blog está na lista de blogs lado direito).

(...) O módulo do curso que estou fazendo agora se chama Desenvolvimento Transformativo. No começo da semana tivemos aula com Ian Christie, que introduziu o assunto ressaltando o quanto os erros são importantes para o desenvolvimento, além de dizer que estamos numa época tão crítica que também representa a melhor oportunidade para a mudança ocorrer. Interessante também o relato de um estudo sobre o quanto casais que estão esperando o primeiro filho e pessoas recém-aposentadas vêem o mundo e têm expectativas diferentes da maioria, já que se encontram numa posição de esperança e de receptividade total à mudança...

Achei muito interessante e partilho dessa ideia de que os erros têm importante papel no nosso desenvolvimento, nos tornando mais cuidadosos, menos arrogantes, ampliando a nossa visão estreita e nos tornando mais resilientes. Se encararmos as mudanças de forma positiva, e se entendermos como os nossos sentimentos impactam essas situações, poderemos então tirar grande aprendizado dessas experiências que temos e que nos parecem tão dolorosas. Um componente importante aqui é o perdão, o perdão a si mesmo. Costumamos achar que errar significa fracasso, mas, como professora, vejo isso mais claramente. Errar é aprender, é a oportunidade de apagar e refazer, é se conscientizar de onde temos que colocar mais esforço, é integrar os bloqueios inconscientes e se sentir livres do que impede de seguir adiante.
Gosto muito da metáfora que existe no Jogo da Transformação (jogo desenvolvido na comunidade de Findhorn, na Escócia) que quando você tem dores pelo caminho da vida, você caminha mais devagar e só quando você integra essas dores e se conscientiza de suas virtudes é que tais dores são removidas. É a consciência de suas virtudes e dores que te movem para outro nível de consciência.

Uma vez sabendo quais são os nossos verdadeiros sentimentos em relação a uma situação, segundo Deepak Chopra, "temos uma escolha, ou várias escolhas. Podemos empurrar o sentimento de volta para dentro, podemos nos culpar por não sermos uma boa pessoa, lamentar ou se desculpar. Nenhuma dessas alternativas é produtiva, pois nos conduzem à nossa sombra, reforçando o sentimento indesejável. Até que você faça as pazes com seus sentimentos negativos, eles persistirão. Para isso você tem de sentí-los, escutar a história que eles contam, por exemplo: Não sou bom o suficiente, eles não gostam de mim; nunca consegui desenhar; não cuidei bem de minha irmãzinha...”

Depois de ouvir a história, Deepak sugere que "a gente seja receptivo a esta história e que isso foi criado no passado e que, naquele momento, você era criança e não tinha escolha porque o sentimento foi secretamente guardado e permaneceu ali escondido. Os sentimentos antigos ficaram por perto para protegê-lo de feri-lo. Agora faça as pazes com isso e você transformará algo negativo em positivo.

A última coisa que queremos é reciclar essas antigas emoções. Nenhum de nós precisa se proteger de uma infância que já passou há muito tempo. Há muitas razões para explicar a dificuldades que temos em abrir mão das nossas emoções negativas. Elas são a ponta do iceberg. Toda vez que elas aparecem significa que há muito mais desses sentimentos guardados na nossa sombra. Isso é um mecanismo de sobrevivência. Quando encontramos meios de desfazer esse grude da negatividade, seremos mais desprendidos.

Algumas afirmações funcionam para tentar desfazer esse grude:
- Posso passar por isso. Não vai durar para sempre.
- Já me senti assim antes. Consigo lidar com isso.
- Ninguém jamais ganha no jogo de colocar a culpa no outro.
- Não estou sozinho. Posso ligar para alguém que me ajude a passar por esse momento ruim.
- Sou muito mais que meus sentimentos.

Se você conseguir transformar qualquer uma dessas afirmações em realidade, estará acrescentando-as às suas habilidades para lidar com a situação. Como fazer para torná-las realidade? Querendo que elas sejam reais. Todo sentimento que você tem se desloca de maneira invisível, rumo ao ambiente, afetando as pessoas ao redor, a sociedade e o mundo."

Então, se queremos mudar o que está fora de nós, o nosso ambiente de trabalho, os nossos relacionamentos para outros mais produtivos, temos mesmo de assumir a responsabilidade de nossa sombra, aquele lugar onde vamos depositando todas as nossas emoções que, ao longo do tempo, fomos reprimindo. Temos de deixar que esses sentimentos venham à superfície, fazer a integração deles, desenvolver outros sentimentos e, como consequência, uma mudança plena acontecerá dentro e fora de nós.

Informações tiradas do livro “O Efeito Sombra”, de Deepak Chopra, Debbie Ford e Marianne Willianson.