Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

31 de julho de 2011

Sorte ou Azar?

Algumas vezes ficamos pensando porque é que está dando tudo errado na nossa vida, ou admiramos como estamos com sorte e tudo se encaixa tão bem. Ficamos imaginamos que é algo acontecendo fora de nós e nos admiramos com isso. Todo mundo já teve essa sensação de que quando algo positivo acontece, outras coisas começam a acontecer também positivamente e, ao contrário, quando algo limitante acontece, outros eventos “ruins” também começam a acontecer.

De fato, isso é uma verdade, mas nada vem do acaso e nem depende de termos sorte ou azar. O que acontece é que atraímos o que acreditamos, o que falamos e o que pensamos. Não somos vítimas e sim co-criadores de nossa própria vida: somos responsáveis por todos os eventos e todas as histórias que vivemos, sejam aquelas prazerosas ou aquelas doloridas.

Recentemente o cientista Mark Comings afirmou sobre o mar de possibilidades que temos: “Nossas crenças são o mais importante fator que constrói a realidade em nossas vidas. Apesar de vivermos em um oceano de abundância, se nós não pudermos crer nele, então não podemos experimentar esta abundância. Nossas crenças têm o poder de bloquear-nos e evitar que acessemos esses campos infinitos; mas se conseguirmos crer que estamos conectados a esta fonte infinita de amor, compaixão e abundância, descobriremos que, de fato, realmente estamos e será possível, para nós, aproveitar e canalizar esta energia infinita em nossas vidas”.

Sabemos que 90% da matéria é feita de espaço vazio, o que Einstein definiu de energia e 10% é formado de não vazio. Todas as pessoas têm, portanto, um campo eletromagnético que diferencia em formato. Já existem câmaras especiais que fotografaram o campo eletromagnético e através delas fazem estudos de seu comportamento. Nesses estudos constataram que:

O TAMANHO DO MEU CAMPO ELETROMAGNÉTICO
       =   O QUE EU PENSO   +   O QUE EU SINTO

Atraímos as situações em nossa vida de acordo com o que possuímos no nosso campo eletromagnético e não de acordo com o que “queremos”. Na verdade atraio situações em minha vida para validar aquilo que penso e sinto. Somos portanto responsáveis pelo que atraímos. Eu emito energia com uma frequência específica e eu atraio algo da mesma frequência.

Para nos ajudar a entender porque atraio determinada situação ou determinada pessoa seria ideal mapearmos as ações/atitudes que drenam energia ou acumulam energia. Quanto mais acúmulo energético a pessoa consegue, mais ela se torna atrativa. São aquelas pessoas que atraem mais facilmente os que chamamos de coincidência, sorte, oportunidades. Se houver uma insatisfação na vida ou uma falta de resolução aparecerão buracos no campo eletromagnético por onde haverá vazamento de energia.

Então como tampar o buraco eletromagnético? Aumentando a satisfação na vida, aumentando aquilo que nos dá energia e removendo aquilo que drena e desvia a nossa energia de construção e crescimento e que enfraquece nossas capacidades de receber o que é nosso, nos tornando a melhor pessoa que podemos ser hoje.

Somos pessoas de sucesso absoluto, pois somos e nossa vida é exatamente o que acreditamos ser.

Minha amiga Cristina me fala hoje de um filme que acabei de assistir e acho que cabe aqui indicar, pela leveza e beleza da mensagem e pela  "coincidência". O filme é The Shift.

30 de julho de 2011

Circo "Irmãos Almeida"

Circo Irmãos Almeida












Este é um banho quente de esperança e ansiedade.  Inconscientemente vejo meu pulmão se expandindo e a bronquite triste e cansada dá lugar a uma refrescante felicidade. Minha mãe traz o vestido de chita barata, ainda tirando a última linha com os dentes orgulhosos. Sacode-o, dando assim o último e definitivo retoque. Eu já enxuta no corpo fraco e magro, quase não caibo no vestido engomado de alegria.

O sol estala um cheiro de domingo! Meu pai, enorme, tira-me de seus bolsos longos da calça com vinco alguns trocados. Lá vou eu atravessar sozinha aquelas duas avenidas movimentadas. Enquanto caminho, meus ouvidos levam até meu coração, agora meio descompassado, a música daquele mundo cheio de brilho cores e irmãos.  Lá está a placa toda pomposa dizendo: “Circo Irmãos Almeida”.

Nem sei se o vermelho de meu rosto vai me impedir de entrar. Tantas pessoas! Tantas crianças a correr por baixo da lona e a pegar o melhor e mais alto lugar nas arquibancadas. E pensar que na noite anterior minha irmã Nadir ganhara o concurso de cantora....

Para refrescar minha emoção, vou ao menino de calças curtas com a cabeça escondida no boné que vende sorvete de palito para conseguir algum trocado para ir ao circo. O menino Maurício que hoje é o Squarisi, continua dando movimento as imagens paradas.

Ah! Mas eu gosto de ir devagarzinho, deixando meus pés cheirar a grama do chão. Ao entrar, meu coração arregala os olhos e engole aquela imensidão redonda, como se pudesse absorver de todo o universo, a beleza.

Maçã-do-Amor? É linda, mas não há magia. É sem graça. Pipoca? Gosto mais quando minha mãe faz dizendo: “Rebenta Pipoca Maria Sororoca”. E tem de ser três vezes.  Amendoim enroladinho? Tem no bar do seu Abílio, perto de minha casa, em frente ao circo no Parque Industrial. Mas aquela “sombrinha” colorida e cheia de balas dentro de cada gomo.... Ah! Esta sim me faz ser gente grande, me estufa o peito e o enche de ar.

Não entendo porque a maioria das crianças prefere a maçã-do-amor. Que amor pode haver numa bola que não cabe em sua boca e suja seu nariz?  A “sombrinha” não. É colorida, criativa, não toma chuva. Dá surpresas. Que prazer poder saborear o que lá dentro se esconde! Um mistério de delícias, sabor de circo.

Quanta gente está entrando! Preferia estar nas cadeiras lá em baixo. Ficam quase todas vazias. A Ritinha senta lá. A mãe dela dá aula no Grupo Escolar Felipe Cantúsio e ela estuda lá. Esses meninos correm muito para pegar o melhor lugar e eu fico pulando sentada na arquibancada como as pipocas de minha mãe. Tenho medo de cair. Menino é fogo! Atrapalha todas as brincadeiras e corre sobre as arquibancadas. Será que vou cair lá em baixo, no meio daquela serragem? Até hoje sinto o cheiro delas.

Os papéis de bala não jogo não. Vou usá-los para embrulhar pedrinhas e deixar a surpresa onde estava, dentro de cada gomo, e lá em casa vou brincar de ser vendedora de surpresas de circo.

O circo está cheio, como minha boca cheia de balas. Tudo em mim se esquece. Só há um acontecer de vidas, histórias e fantasias. Eu sou aquela história.

O Fredô e a Nhá-Tica com suas sardas e marias-chiquinhas chegam irreverentes, pulando alegres e me dizem: “Boa tarde, criançada!” e me faz rir e chorar. É que gritam muito suas alegrias e me dá medo.

De repente eles vão embora, dançando as nossas palmas e tudo vai ficando escuro para meus olhos começarem a ascender luzes coloridas que piscam e chamuscam todo o circo. E alguém diz: “E agora com vocês, aquela que canta e encanta...” Será que ela é mesmo uma mulher, ou um anjo dourado? Seu corpo brilha, voa, dança.   Ela canta para mim. Acho que gosta de mim. Joga-me uma flor. E ao tentar ir ao encontro dela, na confusão de todas as mãos e todos os gritos, não só não consigo o prêmio pessoal como despenco arquibancada abaixo como uma manga madura. O brilho acaba à medida que todas as luzes são acesas e as palmas com cheiro de serragem ecoam nos meus ouvidos.  O show acabou.

Os meninos começam a descer daquela cela de arquibancadas como se fossem patas de cavalos em cima de mim. Ninguém me vê lá embaixo assustada e com medo de me machucar. Como vou sair daqui?  A “sombrinha” quebrou, como vou poder brincar de vendedora de circo?

Pouco a pouco aquela bola azul vai se aquietando e meu medo aumentando. Alguém ouve uma criança chorando e vem me salvar do triste acontecido. Meu espanto vê o Fredô e a Nhá-Tica que quando não são o que são, são vendedores de surpresa.  Não sabia que se podia ser mais que uma só coisa.

Há um sabor de decepção ao vê-los humanos e inteligentes e uma vontade de correr e brincar nos bastidores de minha fantasia.

Surpresa, surpresa...  “Compre uma “sombrinha” cheinha de surpresas”!

Para compensar a decepção reveladora, me dão balas que não são surpresas e me fazem perguntas de gente grande. Me levam para casa. Atravessam-me a rua de volta.

Perdi a surpresa.  E o palhaço que mora dentro de mim, agora chora. Mas ganhei um ingresso. Domingo que vem tem mais.

25 de julho de 2011

Coexist


Delicadeza também faz parte das "Coisas da Vida"
                                              

23 de julho de 2011

Parar

Lembrei de mim criança brincando lá no quintal que parecia enorme da casa de minha mãe, debaixo da sombra arejada da parreira. Lá eu organizava umas latinhas ou caixinhas ou tampinhas de garrafas que serviam de pratinhos para bonecas feitas de sabugo de milho. Era um mundo de imaginação e criação com uma dimensão temporal totalmente diferente. As tardes eram longas e demoravam muito a passar, até que era chamada para tomar banho e jantar, lá pelas 6 horas da tarde. Tudo tinha ciclos. Era a parte da manhã na escola, depois o almoço com a família, depois o “arrumar a cozinha”, depois a lição de casa e depois toda uma eternidade debaixo da parreira. Daí vinha o banho, o jantar, a televisão era com a família, até o sono chegar. “Bença” mãe, bença pai”. “Deus te bençõe”. E a noite era longa.

Lá pelas tantas o galo cantava anunciando a manhã e a vida recomeçava preguiçosamente, com uma xícara de café com leite e pão e manteiga. E lá ia eu com minha malinha de couro com um caderno, um estojo e a cartilha Caminho Suave para o Grupo Escolar Felipe Cantúsio. E assim eu ia me transformando, fazendo perguntas e tendo algumas poucas respostas, insuficientes saciar toda a minha curiosidade em relação ao mundo e à vida.

Essa divagação toda foi para entender porque hoje o tempo parece correr tanto, porque todos estamos correndo, correndo, sem tempo para quase nada. Quantas pessoas que trabalham em empresas estão trabalhando mais do que as 8 horas firmadas no contrato, principalmente os mais jovens, que estão em suas melhores condições físicas, mentais e energéticas. Depositam no trabalho todo seu potencial e, muitas vezes, se frustram por não ter tempo para fazer outras coisas, coisas simples como, por exemplo, ver o pôr-do-sol ou ver o filho dançar na escola.

Nada de errado em trabalhar bastante desenvolvendo projetos que nos dão satisfação e desenvolvimento. Isso também nos energiza, nos dá vida quando sabemos que o que fazemos está em um contexto maior, que o que eu desenvolvo no meu dia-a-dia faz diferença para o planeta em que eu vivo, para a cidade em que eu moro, para meus companheiros de trabalho, para a minha família e para mim mesmo porque tudo está alinhado com meus valores.

Mesmo nesse contexto mais positivo, ainda assim, há que se refletir sobre a importância de parar. M. Scott Peck diz:
“Eu levo uma vida muito cheia e atarefada, e de vez em quando me perguntam:
Scotty, como é que você consegue fazer tudo o que faz?
A melhor resposta que posso dar é: passando pelo menos duas horas por dia sem fazer nada.”

Segundo o livro A Essencial Arte de Parar, “não se deve confundir ficar sem fazer nada com uma falta total de atividade. Não fazer nada é permitir que a vida aconteça – a sua vida. O objetivo de parar é avançar na direção que queremos, escolhendo o que é melhor para nós. Parar nos ajuda a ficar atentos à nossa vida e tomar consciência dos eventos que estamos vivendo. Ao parar nos acalmamos, principalmente quando nos sentimos sobrecarregados, sem saída. Parar não é fugir da vida nem evitar responsabilidades. É entrar na vida de maneira nova. É ter coragem de ir justamente onde estão nossos significados e valores e passar um tempo lá. Parar faz você ficar desperto e consciente do momento presente. Ajuda-o a recordar quem você é, de onde vem, para onde está indo e onde quer ir. Ajuda a recordar seus objetivos, ideais e sonhos originais.

Mesmo que você não obtenha respostas claras para muitas de suas grandes perguntas da vida, é vital continuar a recordar quais são as suas perguntas. Perder as suas perguntas é certamente se perder no caminho.

Uma vida excessivamente atarefada, distraída e dispersa também mata o poder da imaginação. Durante a pausa, a vida acontece, o valor e o significado adquirem forma, a alma aprofunda o seu alcance.”

Diz ele ainda que cada pessoa pode desenvolver seu próprio estilo de parar, podemos parar de diferentes modos e em diferentes momentos. “Algumas pessoas escolherão pausas breves como uma respiração, um momento a sós – que são ótimas e podem ser feitas em qualquer lugar e a toda hora, outras escolherão ir para uma partida de golfe, ou para a igreja, outras pelos momentos sabáticos que envolve olhar para a nossa competência, descobrir caminhos”.

Sabático é o afastamento do trabalho inspirado por uma motivação interna, objetivando uma revisão da vida pessoal ou profissional. Não importa a duração, se é de meses ou anos, nem o formato. Pode ser uma viagem de turismo, um curso no exterior, na verdade o que caracteriza um período sabático é o afastamento da rotina para verificar nossos recursos internos."

O importante então é estar consciente de que a vida é criada por causa das pausas. Existimos por causa das pausas. Se não houvesse pausas entre uma inspiração e outras nos sufocaríamos. “Parar então é importante para adquirirmos uma consciência mais elevada daquilo que nos cerca tanto perto quanto longe”.

E aqui eu fui longe... Ao tentar falar da importância de parar, no sentido de recuperar nossa própria vida, fui fazer uma pausa lá na linda parreira arejada no quintal de minha mãe no tempo em que eu era criança.

Chico Xavier certa feita foi consultado sobre como é que ele conseguia autografar mais de 2000 livros por noite,
depois das sessões habituais no Centro Espírita em que atuava, em Uberaba.
Com naturalidade, ele respondeu:
"Simplesmente vou autografando, de um em um..."

18 de julho de 2011

Frio e Ipês

Faz um tempo que não escrevo e descobri, vejam vocês, que existem mais de 5 leitores que frequentam esse blog. Confesso que fiquei feliz.

Não existe nenhuma razão para eu ficar esse tempo sem escrever nem falta de tempo, nem falta de assunto... nada. Simplesmente aconteceu. Mas, fazendo um autoestudo percebo algumas situações que mudam meu ritmo, como por exemplo o frio.

Quando o frio começou este ano resolvi vivê-lo de modo diferente, tentando atualizar minha crença em relação a ele. Normalmente é um período que fico meio hibernada, meu corpo, por não fazer os movimentos necessários, fica espremido e os músculos doloridos. Meu ânimo também muda e fica difícil criar qualquer coisa.

Bom, esse ano resolvi fazer alguma coisa para me sentir melhor nesse período. Primeiro e o mais importante, foram os exercícios diários de Yoga para alongar os músculos, usando a respiração e concentrando no meu corpo mesmo quando sentia frio. Outra coisa foi não reclamar e, ao contrário, compreender que o frio é um período do ritmo da natureza tão necessário quanto o calor. A outra coisa era colocar em dia todos os livros não lidos ou inacabados e fazer coisas que o frio não me impedisse de fazê-las. Aproveitei para ler os 8 livros que o curso de Yoga nos dá para fazer as resenhas e isso me empolgou muito porque um novo olhar se abriu para as “coisas da vida”, nome desse blog.

Aprendi desde a história da antiga civilização indiana pré-ariana (3.000 anos antes de Cristo), passando pelos ensinamentos dos yogues, onde deparei com conteúdos novos como, por exemplo, a formação de nosso universo, do nosso planeta e de nossa espécie e de como o amor e a reverência a esse amor fizeram com que tudo estivesse preparado para que eu entrasse nessa existência, para simplesmente experimentar as possibilidades de expansão, aprender que sou conectada ao Todo, de saber da minha origem e responder à pergunta do por que estou aqui, qual é a minha missão e quais ferramentas tenho para alcançar a meta de simplesmente me tornar quem eu sou.

Fui fazendo essa viagem de lá de minha cama no meio dos edredons e chás quentes, sentindo muita gratidão por essa possibilidade de aquecer minha alma no frio com tanto ensinamento.

Quando dirigia o carro para o trabalho pude ver dias absurdamente lindos e dourados e os Ipês, que eu tanto amo, se abrindo na estrada para a Unicamp, fazendo um arco que desconfiei que era “de propósito” para eu passar, e essa paisagem só dá pra ver no frio.

Ah, ok, o frio tem lá seus encantos. É uma xícara de chá feito no fogão e seu aroma perfumando minha casa, é o banho quente renovador, é a conversa agradável com amigos. Domingo fez quase calor e andar na Lagoa do Taquaral sem blusa de frio para mim foi um prazer silencioso indescritível.

Novamente meu laptop está no conserto e por isso o acesso é mais restrito, desconfio que ele também não gosta muito do frio.  Ok, trabalhamos nossa paciência olhando para outras paragens. E nesse domingo usando um outro laptop descobri que algumas pessoas perguntavam se eu não iria escrever mais no blog e me espantei de perceber que havia um tempão não escrevia. Pois bem, acho que retornei do frio sem ter “sofrido tanto” e com mais coisas para partilhar com vocês, meus amigos, amigos-alunos, família e talvez outros que eu nem saiba que frequentam esse blog.
           
Às vezes você sofre,
às vezes você é feliz.
Mas debaixo de tudo isso
a perfeição inata da sua vida se manifesta.
Dan Millman