Em nossa rotina, vamos
nos deparando com tantos momentos de esperança, tristezas, alegrias e
impotência com relação a nós mesmos, à nossa casa, à nossa cidade, ao nosso
país, à humanidade. Ainda outro dia ouvia a
palestra na CPFL de Viviani Mosé, que falava sobre a gestão-de-si. E a
pergunta que ficou foi: como podemos ter uma boa gestão de uma escola, de uma
empresa, de um prédio, de uma família, de um país, se não temos uma boa gestão
de nós mesmos?
Eu não sei como eu funciono
nem física, emocional ou mentalmente e, portanto, a única coisa que consigo
fazer é reagir através de minhas crenças e meus padrões criados desde quando
criança. Nem a família, nem a escola nos têm ajudado e aí queremos ser gestores
de pessoas. Pegamos formatos velhos e ultrapassados, não questionamos nada,
porque também sobre mim eu não questiono e aplicamos esse formato a realidades
tão diversas. Claro, não funciona. Não ousamos criar novos formatos nem fora de
nós, nem dentro de nós mesmos. Continuamos pensando quadrado, apegados ao que
já está aqui, dançando entre velhos paradigmas tanto na política quanto nas
filosofias religiosas ou questões psicológicas ou da educação, mesmo que não
funcionem mais. Ficamos lá fazendo de
conta que nos gerenciamos, que gerenciamos o nosso redor, sem ousar uma mudança
interna, um olhar para dentro de nós mesmos, sem ver o mundo mais amplo e com mais
generosidade.
Sem esse “conhecer-se”,
sem esse saber de como funciono não há refúgios, só há confusão mental. Os
refúgios são pontes que ligam o que vivo com aquilo que eu sou. É aquele
momento em que você se sente completo, pleno e, por isso, surge aquele
relaxamento interno. Às vezes experimentamos esse refúgio na natureza. Eu não
me canso de olhar todas as árvores que me esperam todos os dias onde passo de
carro indo para o trabalho, passando por Barão Geraldo ou andando nas ruas de
Campinas. E também me lembro das árvores dos parques de Londres, de Findhorn,
de Totnes. E também as árvores do bairro onde nasci e que todas as manhãs de
sábado as reencontro enquanto caminho lentamente com minha mãe que não se
cansa de admirá-las. E, de alguma maneira, me lembro das árvores das montanhas
dos Himalaias, onde nunca fui. Elas estão sempre lá. E, conforme as estações
passam, elas se vestem diferentes para celebrar as mudanças, a inconstância
constante dentro do tempo e espaço. É o solo que segura as raízes por todo
tempo que ela viver e, por isso, ela permanece forte e espalha os galhos para o
céu, recebendo energia do sol, fazendo fotossíntese.
Como diz Satish Kumar, a
generosidade do solo é infinita, pois ajuda uma simples semente a se multiplicar em
milhares de outras sementes por centenas de anos, produzindo cor, aroma, sabor,
alimentando pássaros, abelhas, outros animais e humanos. As árvores celebram a
generosidade do solo, oferecendo seus frutos para quem precisar, sem condição,
sem julgamento. A árvore dá madeira para a cadeira, dá o galho para o pássaro
fazer seu ninho e o oxigênio para manter a vida. A generosidade do sol que queima para manter
a vida e faz a Terra se mover e a colheita amadurecer para alimentar todos os
seres; da lua que mantém o ciclo do tempo e sustenta a presença das mares, da
chuva que emerge dos oceanos vindo das nuvens, se entregando a cada fazenda,
campo, floresta, montanhas e humanos sem cobrar nada. A generosidade do ar, do espaço, da alma, da
sociedade etc. O mundo é como o vemos e o que fazemos disso. Reconhecer esse
refúgio, essa generosidade do universo
não é negar o lado sombrio, mas projetar nele o que queremos.
Tantos refúgios podemos
vivenciar dentro de nós mesmos! A arte na expressão da música, das pinturas, da
palavra, das ideias, da ação útil, da coerência com que pensamos, sentimos e
agimos, com os valores universais atemporais. Também são refúgios os livros que
nos preenchem, as ideias que nos conectam a nós mesmos, a quietude que nos faz
saber o que estou fazendo aqui, o desejo de contribuir com o outro e com o
mundo.
Todos esses refúgios são nossa base que precisamos identificar em nós e são construídos a partir dessa gestão de cada um de si mesmo, desse autoconhecimento que se desdobra todos os dias á medida que perguntamos: “A vida é isso? Ou tem algo mais que isso? E, se tem, eu quero descobrir o que é.
Todos esses refúgios são nossa base que precisamos identificar em nós e são construídos a partir dessa gestão de cada um de si mesmo, desse autoconhecimento que se desdobra todos os dias á medida que perguntamos: “A vida é isso? Ou tem algo mais que isso? E, se tem, eu quero descobrir o que é.