Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

17 de maio de 2015

CRISES

Ainda sobre essa crise da água - e na verdade não é só esta crise que nos deixa de queixos caídos - se ficarmos vivendo nesse estilo de vida não sustentável e desconectado do todo, olhando para o que acontece a nossa volta com a lente da impotência, da raiva ou da negação continuaremos vivendo um mundo velho.

Mundo velho é aquele que segundo, Charles Eisentein no livro “The More Beautiful World Our Hearts Know is Possible”.

 Diz ele: “Vemo-nos como um indivíduo separado entre outros indivíduos separados em um universo que é separado de nós também. Somos um amontoado cartesiano de consciência olhando para fora pelos olhos de um robô feito de carne. Somos uma bolha de psicologia, uma mente separada de outras mentes e da matéria... Em algum nível, dentro de nós, sabemos que nossos sistemas de dinheiro, política, medicina, educação etc, não estão mais entregando os benefícios que um dia entregaram e, na verdade, estão retrocedendo a cada ano. Em algum nível sabemos que a vida era para ser mais alegre que isso, mais real, mais significativa. O mundo era para ser mais bonito e não era para a gente odiar segundas-feiras e viver pelos finais de semana e pelas férias. Não era para a gente ser mantido em quatro paredes num dia bonito, dia após dia, até que a aposentadoria chegue. Não era para milhões estarem morrendo de fome e não era para as florestas diminuírem, os peixes morrerem. Não era para ter problemas fragmentados a serem resolvidos como fatos infelizes ou serem simplesmente ignorados.” 

Com essa crise que estamos enfrentando da água e tantas outras crises, temos que mudar nossos hábitos que estão tão incorporados em nós. E quando começamos a fazer isso, descobrimos que não podemos mudar uma coisa sem mudar tudo, tanto no nível individual quanto no coletivo, pois as nossas instituições externas refletem nossas percepções básicas do mundo, nossas ideologias e sistemas de crenças.
Tudo parece insano quando vejo por exemplo quanto de água sai da máquina de lavar roupa e quanta coisa é possível fazer com ela. E toda água que usamos para lavar verduras, que poderia ser reaproveitada para molhar as plantas. E a água que gastamos ao escovar os dentes debaixo do chuveiro etc.  Quantos hábitos que nem notávamos. Aí vou lembrando de minha mãe lavando o quintal com a água da roupa lavada e o regador sendo enchido com a água dos pés de alface sendo lavados e ao enchê-lo regávamos as alfaces que estavam plantadas. Onde foi parar essa nossa sabedoria?

Outro dia no supermercado vi uma máquina de fazer café. Você coloca uma sachezinhos de pó de café e pronto, seu café está pronto. Aí a propaganda dizia “Compre 14 sachês por 17 reais cada e leve a máquina de graça.” No mesmo tempo lembrei de uma foto de minha amiga Nádia que decidiu ter uma casinha lá numa cidadezinha de Minas Gerais.

A foto era de um café sendo passado num coador de pano. Nossa, quase senti o cheiro do café e o gosto gostoso de ter pessoas por perto conversando enquanto o café saia fininho para a chaleira. Por que precisamos desse sachê que tem pó de café do Brasil e que vai até a Alemanha para eles transformarem em sachês para voltar pro Brasil? E ainda junto com mais um aparelho para eu nem saber onde guardar em minha cozinha, já que hoje os apartamentos são minúsculos?  Fiquei achando muito insano e me deu vontade de tomar um café da Nádia, mesmo não gostando de café.
Então repito: para onde foi nossa sabedoria?

Em algum nível sabemos a resposta. Ainda tirado do livro:

“O meu ser participa do seu ser e de todos os seres. Isso vai além de interdependência — a nossa própria existência é relacional, portanto, o que nós fazemos ao outro, fazemos a nós mesmos. Cada um de nós tem uma dádiva única e necessária a dar ao mundo e o propósito de vida é a expressão de nossas dádivas. Cada ato é significativo e tem um efeito no cosmos e toda pessoa que encontramos e toda experiência que temos espelha algo de dentro de nós mesmos. A humanidade é destinada a se juntar completamente à tribo de toda a vida na Terra, oferecendo nossas dádivas humanas únicas para o bem-estar e o desenvolvimento do todo.”