Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

17 de junho de 2012

Impermanência

Em minhas práticas diárias de Yoga sempre me vêm alguns entendimentos que talvez eu levasse mais tempo para consegui-los se não praticasse Yoga. Vejo cada exercício como grandes e verdadeiras metáforas do que vivemos e, por isso, pra mim tudo faz muito sentido.

Por exemplo: no Yoga temos a permanência num exercício e nem sempre é fácil permanecermos em uma posição que não seja confortável. Assim como na vida, temos momentos que não conseguimos nos equilibrar naquela situação, queremos fugir, queremos desviar, mas a única solução é a permanência. Mesmo sabendo que não é pra sempre. No Yoga, o praticante deve se centrar entre seu corpo e sua mente, pois é aí que encontramos a nossa força de vontade.  Assim também acontece nessas situações diárias em que a única opção é a permanência. Vamos praticando de acordo com nossa capacidade, mas vamos tentando expandir um pouco mais.

Falando de uma outra coisa: E  lá vem o frio novamente - como escrevi o ano passado, o frio é algo desafiante pra mim. Ok, ok, já melhorei bastante. Tento não reclamar (isso parece um vício). Tento entender que assim como em toda natureza, há momentos de recolhimento, como se toda a natureza nesse lugar se recolhesse, para se aprofundar. Tento entrar nesse clima de recolhimento, de olhar mais pra dentro de mim e pra dentro das coisas que vão acontecendo. Presto mais atenção em minhas articulações que ficam mais duras, minha alergia teima em (re)aparecer e a pressão do meu ouvido me faz ficar mais quieta também. Tento então ficar mais atenta para outras belezas.

Tomar chá em uma de minhas canecas que vou colecionando é um ritual bem gostoso que acalma minha mente, esquenta meu corpo e relaxa os músculos. Existe algo de quietude em se observar a fumacinha sair de seu chá. O bolo de cenoura que o Edmilson faz é um casamento perfeito com o chá de menta ou erva doce que eu adoro. Tem gente que gosta de café com leite e isso me traz uma doce lembrança de meu pai, que experimenta outras experiências agora, mas que gostava muito de café com leite e da broa feita pela minha mãe. Essa também é uma lembrança que aquece o coração. A sopa de legume, colorida, que a vizinha me dá é também algo muito reconfortante após um dia de trabalho.

Não, não esqueci dos ipês que estão começando a dar o ar de da graça. Embelezam o dia e as ruas por onde eu dirijo. E lá vou eu permanecendo neste encantamento mesmo dirigindo. Também tem o banho quente antes de dormir. Meu corpo relaxa, alivia os músculos parados.

Às vezes, o sol aparece só pra dizer que nada é pra sempre, que os ciclos mudam sempre. Pensar nisso acalma minha mente e posso ficar na permanência deste “asana” (postura no Yoga) com mais consciência.

Bom, estou então aprendendo que, na vida, às vezes temos que viver alguma situação por um determinado tempo e não dá para fugir - e temos que nos concentrar e fazer o melhor que pudermos, sempre expandindo um pouco mais. Mas vejo também que mesmo nesses períodos de permanência, onde adquirimos força, há uma “impermanência” de tudo, pois tudo é transitório. O meu corpo, as minhas verdades, o meu ego, as minhas emoções – tudo é transitório. E isso me leva sempre àquela pergunta:
“Então o que é eterno em mim?”
Mas isso já é assunto para outro blog...