Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

24 de março de 2012

Saúde Integral

Hoje, sem desconsiderar toda a importância das descobertas feitas pelos cientistas, vivemos em um mundo recortado por áreas e disciplinas, separado por especialistas, numa abordagem cartesiana e que influenciou nossa visão de mundo, vendo-nos como centro do universo sem nenhuma correlação com o Todo. Sem essa consciência do Todo, não percebemos a relação entre as coisas e as nossas atitudes. A nossa busca real é ir além da dualidade e de tudo que limita e que fragmenta. A meta não se destina a reduzir o sofrimento a dimensões normais, mas transcender o sofrimento.
Entrar em contato com os sentimentos de alguém é de pouco valor, se tais sentimentos sombrios não são transformados, resgatando assim a possibilidade de criarmos com consciência a nossa ação no mundo, através das escolhas, não mais como vítimas, mas como agentes de transformação.


Uma amiga me enviou hoje uma entrevista com o Dr. Jorge Carvajal, médico cirurgião da Universidade de Andaluzia, Espanha, pioneiro da Medicina Bioenergética que coloco abaixo.

É interessante uma visão de alguém que está totalmente envolvido com a ciência ocidental e que nem por isso nega que somos constituídos de algo mais. 

“A alma não pode adoecer, porque é o que há de perfeito em ti, a alma evolui, aprende... Quando nossa personalidade resiste aos desígnios da alma, adoecemos.

70 por cento das enfermidades do ser humano vêm do campo da consciência emocional. As doenças muitas vezes procedem de emoções não processadas, não expressadas, reprimidas. O medo, que é a ausência de amor, é a grande enfermidade... Quando o temor se congela, afeta os rins, as glândulas suprarrenais, os ossos, a energia vital, e pode converter-se em pânico... Tens que cuidar de ti. Tens teus limites, não vás além. Tens que reconhecer quais são os teus limites e superá-los, pois, se não os reconheceres, vais destruir teu corpo.

A raiva é santa, é sagrada, é uma emoção positiva, porque te leva à auto-afirmação, à busca do teu  território, a defender o que é teu, o que é justo. Porém, quando a raiva se torna irritabilidade, agressividade, ressentimento, ódio, ela se volta contra ti e afeta o fígado, a digestão, o sistema imunológico.

A alegria é a mais bela das emoções, porque é a emoção da inocência, do coração e é a mais curativa de todas, porque não é contrária a nenhuma outra. Um pouquinho de tristeza com alegria escreve poemas. A alegria com medo leva-nos a contextualizar o medo e a não lhe darmos tanta importância.

A alegria suaviza todas as outras emoções, porque nos permite processá-las a partir da inocência. A alegria põe as outras emoções em contato com o coração e dá-lhes um sentido ascendente. Canaliza-as para que cheguem ao mundo da mente.

A tristeza é um sentimento que pode te levar à depressão quando te deixas envolver por ela e não a expressas, porém ela também pode te ajudar. A tristeza te leva a contatares contigo mesmo e a restaurares o controle interno. Todas as emoções negativas têm seu próprio aspecto positivo. Tornamo-las negativas quando as reprimimos.

...Quando se aceitam (as emoções negativas), elas fluem, e já não se estancam e podem se transmutar. Temos de as canalizar para que cheguem à cabeça a partir do coração. Realmente as emoções básica são o amor e o medo (que é ausência de amor), de modo que tudo que existe é amor, por excesso ou deficiência. Construtivo ou destrutivo. Porque também existe o amor que se aferra, o amor que superprotege, o amor tóxico, destrutivo.

Como prevenir a enfermidade?
Somos criadores, portanto creio que a melhor forma é criarmos saúde. E, se criarmos saúde, não teremos que prevenir nem combater a enfermidade, porque seremos saúde.


E se aparecer a doença?
Teremos, pois, de aceitá-la, porque somos humanos. Krishnamurti também adoeceu de um câncer de pâncreas e ele não era alguém que levasse uma vida desregrada. Muita gente espiritualmente muito valiosa já adoeceu. Devemos explicar isso para aqueles que creem que adoecer é fracassar.


O fracasso e o êxito são dois mestres e nada mais. E, quando tu és o aprendiz, tens que aceitar e incorporar a lição da enfermidade em tua vida... Cada vez mais as pessoas sofrem de ansiedade. A ansiedade é um sentimento de vazio, que às vezes se torna um oco no estômago, uma sensação de falta de ar. É um vazio existencial que surge quando buscamos fora em vez de buscarmos dentro. Surge quando buscamos nos acontecimentos externos, quando buscamos muleta, apoios externos, quando não temos a solidez da busca interior. Se não aceitarmos a solidão e não nos tornarmos nossa própria companhia, sentiremos esse vazio e tentaremos preenchê-lo com coisas e posses. Porém, como não pode ser preenchido de coisas, cada vez mais o vazio aumenta.

Então, o que podemos fazer para nos libertarmos dessa angústia?
Não podemos fazer passar a angústia comendo chocolate ou com mais calorias, ou buscando um príncipe fora. Só passa a angústia quando entras em teu interior, te aceitas como és e te reconcilias contigo mesmo. A angústia vem de que não somos o que queremos ser, muito menos o que somos, de modo que ficamos no "deveria ser", e não somos nem uma coisa nem outra. O stress é outro dos males de nossa época. O stress vem da competitividade, de que quero ser perfeito, quero ser melhor, quero ter uma aparência que não é minha, quero imitar. E realmente só podes competir quando decides ser um competidor de ti mesmo, ou seja, quando queres ser único, original, autêntico e não uma fotocópia de ninguém. O stress destrutivo prejudica o sistema imunológico. Porém, um bom stress é uma maravilha, porque te permite estar alerta e desperto nas crises e poder aproveitá-las como oportunidades para emergir a um novo nível de consciência.


O que nos recomendaria para nos sentirmos melhor com nós mesmos?
A solidão. Estar consigo mesmo todos os dias é maravilhoso. Passar 20 minutos consigo mesmo é o começo da meditação, é estender uma ponte para a verdadeira saúde, é aceder o altar interior, o ser interior. Minha recomendação é que a gente ponha o relógio para despertar 20 minutos antes, para não tomar o tempo de nossas ocupações. Se dedicares, não o tempo que te sobra, mas esses primeiros minutos da manhã, quando estás rejuvenescido e descansado, para meditar, essa pausa vai te recarregar, porque na pausa habita o potencial da alma.


O que é para você a felicidade?
É a essência da vida. É o próprio sentido da vida. Estamos aqui para sermos felizes, não para outra coisa. Porém, felicidade não é prazer, é integridade. Quando todos os sentidos se consagram ao ser, podemos ser felizes. Somos felizes quando cremos em nós mesmos, quando confiamos em nós, quando nos empenhamos transpessoalmente a um nível que transcende o pequeno eu ou o pequeno ego. Somos felizes quando temos um sentido que vai mais além da vida cotidiana, quando não adiamos a vida, quando não nos alienamos de nós mesmos, quando estamos em paz e a salvo com a vida e com nossa consciência. Viver o Presente.


Deixamos ir-se o passado e não hipotecamos a vida às expectativas do futuro quando nos ancoramos no ser e não no ter, ou a algo ou alguém fora. Eu digo que a felicidade tem a ver com a realização, e esta com a capacidade de habitarmos a realidade. E viver em realidade é sairmos do mundo da confusão. Temos três ilusões enormes que nos confundem:

Primeiro: cremos que somos um corpo e não uma alma, quando o corpo é o instrumento da vida e se acaba com a morte.

Segundo: cremos que o sentido da vida é o prazer, porém com mais prazer não há mais felicidade, senão mais dependência... Prazer e felicidade não são o mesmo. Há que se consagrar o prazer à vida e não a vida ao prazer.

Terceiro: ilusão é o poder; desejamos o poder infinito de viver no mundo.. E do que realmente necessitamos para viver? Será de amor, por acaso?

O amor, tão trazido e tão levado, e tão caluniado, é uma força renovadora. O amor é magnífico porque cria coesão. No amor tudo está vivo, como um rio que se renova a si mesmo. No amor a gente sempre pode renovar-se, porque ordena tudo. No amor não há usurpação, não há transferência, não há medo, não há ressentimento, porque quando tu te ordenas, porque vives o amor, cada coisa ocupa o seu lugar, e então se restaura a harmonia. Agora, pela perspectiva humana, nós o assimilamos com a fraqueza, porém o amor não é fraco. Enfraquece-nos quando entendemos que alguém a quem amamos não nos ama. Há uma grande confusão na nossa cultura. Cremos que sofremos por amor, porém não é por amor, é por paixão, que é uma variação do apego. O que habitualmente chamamos de amor é uma droga. Tal qual se depende da cocaína, da maconha ou da morfina, também se depende da paixão. É uma muleta para apoiar-se, em vez de levar alguém no meu coração para libertá-lo e libertar-me. O verdadeiro amor tem uma essência fundamental que é a liberdade, e sempre conduz à liberdade. Mas às vezes nos sentimos atados a um amor. Se o amor conduz à dependência é Eros. Eros é um fósforo, e quando o acendes ele se consome rapidamente em dois minutos e já te queima o dedo. Há amores que são assim, pura chispa. Embora essa chispa possa servir para acender a lenha do verdadeiro amor. Quando a lenha está acesa, produz fogo. Esse é o amor impessoal, que produz luz e calor.

Pode nos dar algum conselho para alcançarmos o amor verdadeiro?
Somente a verdade. Confia na verdade; não tens que ser como a princesa dos sonhos do outro, não tens que ser nem mais nem menos do que és. Tens um direito sagrado, que é o direito de errar; tens outro, que é o direito de perdoar, porque o erro é teu mestre. Ama-te, sê sincero contigo mesmo e leva-te em consideração. Se tu não te queres, não vais encontrar ninguém que possa te querer. Amor produz amor. Se te amas, vais encontrar amor. Se não, vazio. Porém nunca busques migalhas, isso é indigno de ti. A chave então é amar-se a si mesmo. E ao próximo como a ti mesmo. Se não te amas a ti, não amas a Deus, nem a teu filho, porque estás apenas te apegando, estás condicionando o outro. Aceita-te como és; não podemos transformar o que não aceitamos, e a vida é uma corrente permanente de transformações.
Prof. Dr. Maurício Paes Landim
Professor Adjunto de Cardiologia UFPI/UESPI
Mestre em Medicina
Doutor em Cardiologia

4 de março de 2012

Atitude

Ontem saí do curso que estou fazendo com a professora de Vedanta, Glória Ariera, com muita coisa a pensar e a refletir, tamanha a capacidade de clareza que ela tem ao discorrer sobre e os ensinamentos dos vedas sobre a vida real.

Confesso que me surpreendi com a possibilidade de poder beber de uma fonte tão antiga ensinamentos que são tão presentes em nossa vida hoje.

Fiquei fazendo um paralelo com tudo que tenho aprendido.

Quando começamos a fazer um trabalho de Coaching, por exemplo, falamos em meta, falamos em competência, falamos sobre nossos valores e nossa missão. Pesquisamos nossas crenças e tentamos ser congruentes em todas as nossas facetas da vida. Ao entendermos como funcionamos, colocamos em prática essa nova maneira de pensar e observamos como isso vai acontecendo.

Se só entendermos como funcionamos e não colocarmos em prática não temos ganho algum, será um ato vazio. Se agimos sem ter a atitude da mudança também não há ganho algum, continuaremos fazendo a mesma coisa e teremos, portanto, as mesmas respostas da vida. Não adianta reclamar que a vida da gente não muda se eu não mudo minha atitude. Se tivermos a atitude e não manifestá-la em ato, também não há nada a ganhar. É inútil.

O significado das experiências que temos depende do entendimento que temos sobre nós mesmos, sobre o outro e sobre como eu me relaciono comigo e com o mundo. A mesma experiência pra mim pode ser dolorosa, carregada de sofrimento ou pode ser carregada de abertura, de expansão. Isso depende da nossa escolha.

Quando entramos nessa aventura do autoconhecimento, nos observamos e nos vemos, muitas vezes, repetindo os mesmos padrões. Tudo bem, esse é o início do processo. Precisamos de um tempo para, após o entendimento, nutrir o significado da ação.

Quando nos conhecemos melhor podemos também ter melhores escolhas. Claro que sempre temos como objetivo a satisfação, satisfazer nossos desejos, nossos anseios. Se tudo à nossa volta funciona como eu acho que deve funcionar, estão eu fico satisfeita. Mas nem sempre isso é possível. E se a minha satisfação destrói o outro, não podemos ir por esse caminho. E por quê? Porque sabemos o que é certo, porque temos a nós mesmos como padrão, ou seja, não faço ao outro o que eu não gostaria que fizesse comigo.

Maturidade emocional é quando não fazemos o que não é certo, é quando temos a capacidade de escolher não satisfazer nossos desejos em primeiro lugar, mas fazer o que é adequado. Do contrário ficaremos emocionalmente mimados, infantis. Muitas vezes enfrentamos situações onde há algo que devemos fazer, mas isso não bate com os meus valores mais internos. Há então um conflito. Cria-se uma divisão e a mente não se aprofunda, porque o contato com você mesmo é doloroso, porque neste contato você tem que lidar com a sua incoerência. Se você for congruente, a mente se tranquiliza e você fica em paz com seus valores.

O mundo não é só do jeito que a gente quer. Então como busco a satisfação? A minha felicidade não pode depender de eu organizar o mundo à minha visão, de mudar as pessoas e situações. Deve haver outra maneira de ser feliz. A única maneira eficaz é olhar o mundo por outra perspectiva. A solução que, até então, eu buscava fora, já não me serve mais. Ela precisa ser vasculhada dentro de mim mesma e isso exige um espaço na nossa mente para poder pensar diferente e esse espaço só vai existir se tivermos paz interna. Esse sim é o nosso grande e verdadeiro objetivo a ser alcançado. Para isso temos que trabalhar a auto-observação em todas as áreas de nossa vida.

Isso foi um pouco do que ouvi no curso e fiquei aqui pensando que nossa vida é algo valioso demais para ficarmos repetindo as mesmas coisas todos os dias, usando as mesmas técnicas de comportamento, as mesmas crenças limitantes que não nos fazem sair do lugar. Só posso saber disso se me auto-observo e se eu tenho a disponibilidade interna de mudar dentro de mim e ainda me colocar no mundo como uma pessoa mais refinada, mas íntegra, mais honesta, mais verdadeira.

Se, ao acabar meu dia, me olho e vejo que repeti ações inadequadas, que caí nas mesmas armadilhas emocionais, então eu tenho a escolha de mudar e tomar uma atitude que me transforme naquilo que realmente eu sou para contribuir com minha família, meus amigos, companheiros de trabalho, a humanidade e o universo. De outra maneira, seguiremos nossa vida sem alcançarmos a nossa meta maior.