Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

15 de janeiro de 2015

ÁGUA E ANIVERSÁRIO

O que tem a ver o meu aniversário no dia 19 de janeiro com a água que não enche a represa do Atibaia?  Fazer 58 anos significa alguma coisa. Ninguém vive esses anos sem que alguma coisa seja alterada em seu jeito de viver, de pensar. Nesse dia penso presentear não a mim mesma, mas a minha mãe que emprestou seu corpo para que eu pudesse ter essa oportunidade de experimentar tantas sensações através de meus sentidos perfeitos, de meu corpo perfeito. Gratidão profunda a ela e a todas as mulheres que vieram antes de mim através de tantas gerações doando seus corpos para o nascimento de outros seres.
 
No dia que nasci, minha mãe me disse, quando ela ainda se lembrava disso, que chovia o dia todo, chuva de janeiro, uma chuvinha fina, mas contínua. E nessa atmosfera entre dores, força, bolsa de água se rompendo, confiança e quietude, minha mãe me dava à luz. 
 
E eu pela primeira vez fazia força para o ar entrar no meu pequeno pulmão firmando e ocupando meu espaço nesse mundo. Saí da água, respirei o ar e me coloquei nesse planeta para cumprir a minha própria história.
 
Quando nasci, o mundo já estava pronto para que eu pudesse usufruir de tudo. Gratidão profunda a esse planeta que é todo formado, inclusive meu corpo, dos 5 elementos: espaço, ar, fogo, água e terra.
 
Semana passada, numa viagem de carro pude ver a represa de Atibaia onde, 20 anos atrás, eu brincava de nadar e contemplava aquela imensidão de água do lado de pés de mexericas – mexericas que são cheias de garrafinhas de água, como me ensinou Maria Preta. 
 
Na verdade o que vi agora foi uma faixa marrom de terra em torno de toda a represa. E onde fazemos o retorno para voltar para Campinas pela D. Pedro, onde me surpreendia pelo azul da água lá embaixo, o que vi foi uma grande cratera sem nenhum fio de água... Senti uma dor profunda no peito, tudo parou, até o ar parou. Doía dentro de mim, nas minhas entranhas, constatando que as coisas acabam, até as represas acabam.
 
Dessa forma meio torta percebi que não sou separada do universo, que aquela água, aquela cratera, tudo faz parte de mim mesma. Somos de fato feito dos mesmos elementos. Por isso sentia aquela dor cortante. A vida é tão abundante que me deu essa compreensão de presente pelo meu aniversário, pelo meu esforço de nascer.  Gratidão profunda ao universo que me dá tudo o que preciso para me desenvolver física, emocional, mental e espiritualmente.
 
Sinto assim que o dia do aniversário é o momento em que nos encontramos novamente com aquela força dentro da gente, aquela mesma força que nos fez nascer e reconectar com aquilo que já somos. A força da criação se estabelecendo e reconectando todos os fios da existência.
 
Impossível agora usar água sem sentir essa conexão comigo mesmo, sem lembrar de meu nascimento em um dia chuvoso. Impossível não ficar um pouco mais consciente de como usar essa água que dança e que me abençoa todos os dias e passa por mim,  e volta para os rios e voa para os céus e volta pra mim, pra dentro de mim, me mostrando que somos um só. Gratidão profunda à vida que há na água, que há no planeta, que há em mim. 
 
Não tenho nada a pedir a não ser que eu seja abençoada com o conhecimento de quem eu sou. Parabéns à vida.


A Horta de Nazaré com a represa abaixo
Descendo para a Horta de Nazaré