No dia que nasci, minha
mãe me disse, quando ela ainda se lembrava disso, que chovia o dia todo, chuva
de janeiro, uma chuvinha fina, mas contínua. E nessa atmosfera entre dores,
força, bolsa de água se rompendo, confiança e quietude, minha mãe me dava à
luz.
E eu pela primeira vez
fazia força para o ar entrar no meu pequeno pulmão firmando e ocupando meu
espaço nesse mundo. Saí da água, respirei o ar e me coloquei nesse planeta para
cumprir a minha própria história.
Quando nasci, o mundo já
estava pronto para que eu pudesse usufruir de tudo. Gratidão profunda a esse
planeta que é todo formado, inclusive meu corpo, dos 5 elementos: espaço, ar,
fogo, água e terra.
Semana passada, numa
viagem de carro pude ver a represa de Atibaia onde, 20 anos atrás, eu brincava
de nadar e contemplava aquela imensidão de água do lado de pés de mexericas –
mexericas que são cheias de garrafinhas de água, como me ensinou Maria Preta.
Na verdade o que vi
agora foi uma faixa marrom de terra em torno de toda a represa. E onde fazemos
o retorno para voltar para Campinas pela D. Pedro, onde me surpreendia pelo
azul da água lá embaixo, o que vi foi uma grande cratera sem nenhum fio de
água... Senti uma dor profunda no peito, tudo parou, até o ar parou. Doía
dentro de mim, nas minhas entranhas, constatando que as coisas acabam, até as
represas acabam.
Dessa forma meio torta
percebi que não sou separada do universo, que aquela água, aquela cratera, tudo
faz parte de mim mesma. Somos de fato feito dos mesmos elementos. Por isso
sentia aquela dor cortante. A vida é tão abundante que me deu essa compreensão
de presente pelo meu aniversário, pelo meu esforço de nascer. Gratidão profunda ao universo que me dá tudo
o que preciso para me desenvolver física, emocional, mental e espiritualmente.
Sinto assim que o dia do
aniversário é o momento em que nos encontramos novamente com aquela força
dentro da gente, aquela mesma força que nos fez nascer e reconectar com aquilo
que já somos. A força da criação se estabelecendo e reconectando todos os fios
da existência.
Impossível agora usar
água sem sentir essa conexão comigo mesmo, sem lembrar de meu nascimento em um
dia chuvoso. Impossível não ficar um pouco mais consciente de como usar essa
água que dança e que me abençoa todos os dias e passa por mim, e volta para os rios e voa para os céus e
volta pra mim, pra dentro de mim, me mostrando que somos um só. Gratidão
profunda à vida que há na água, que há no planeta, que há em mim.
Não tenho nada a pedir a
não ser que eu seja abençoada com o conhecimento de quem eu sou. Parabéns à
vida.
A Horta de Nazaré com a represa abaixo |
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