Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

24 de janeiro de 2012

PERMANÊNCIA

Quando penso em “permanência”, num primeiro momento me vem a ideia de algo constante, que não muda, que permanece do mesmo modo por um tempo maior.

Outro dia, na prática de Yoga, o professor nos conduziu a uma postura que não tenho tanta dificuldade em fazer, mas, nesse dia, tive a sensação de que o professor não ia nunca mais passar para outra posição, parecia que estava ali por 15 minutos, o que não era verdade. Sentia meus músculos arderem. Tentava respirar e focar nessa sensação, mas minha mente saltava pensando, “tá demorando muito, talvez tenha que desmontar a posição antes do comando do professor”. Não conseguia relaxar na posição e não entendia o motivo, pois tinha feito esta postura antes com mais facilidade. Uma certa irritabilidade apareceu mesmo que eu fizesse respirações. E ficou aí esse conteúdo para eu me pesquisar, observar e aprender.

Claro que na minha auto-observação juntei essa experiência ao que estou vivendo no momento: meu pai em coma há quase três meses no hospital. A irritabilidade no exercício da permanência estava então ligada à minha necessidade de vivenciar essa permanência dolorosa da minha vida sem que nada pudesse fazer para mudá-la.

Permanecer numa situação em que você nada pode fazer pode te levar para um único lugar: para dentro de você mesma. E de lá podem surgir muitos conteúdos que você tinha certeza que já estavam assimilados, mas restavam alguns resquícios esperando o momento de serem integrados. Mas é também, lá dentro de você, que estão as ferramentas para elaborar esses novos (ou velhos)conteúdos. É lá que temos a possibilidade de ressignificar nossas crenças. Confesso que nesse período me desfiz de algumas crenças vazias, validei outras e adquiri novas. A flexibilidade interna precisou ser acionada, não sem alguma dor.

Ficar na permanência aqui pra mim está simbolizando reflexão, observação de meus sentimentos, paciência, não julgamento de mim mesma e de pessoas à minha volta, perdoar a mim mesma e me equilibrar nessa postura tão diferente que estou. Respirar é a chave. Meditar é chave. “Entregar, confiar, aceitar e agradecer” é a chave. O trabalho é profundo e exige uma verdade e uma concentração interna.

Uma das condições para se fazer uma postura no Yoga é a permanência que nos coloca física e mentalmente na disposição para que a postura aconteça. Os músculos precisam estar passivos. Claro que nessas posturas nossos músculos são colocados numa situação diferente das situações do nosso dia a dia, onde eles são encurtados.

No Yoga eles se esticam, relaxam, abrindo mais espaços, determinando nosso grau de flexibilidade. Quando estamos perto de seus limites, eles se contraem como uma forma de se proteger e nesse momento podemos permitir que eles se relaxem se pusermos nossa intenção nisso.

A cada expiração, podemos alongar um pouco mais. Assim podemos ir um pouco mais além sem violência e sem nos machucarmos.

Assim também quero ir um pouco mais além internamente, para abrir mais espaços dentro de mim e permanecer nessa contínua impermanência da vida.

7 comentários:

  1. Lembrei da conversa de domingo...
    Bjinhos
    Lari

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  2. Que a flexibilidade e a verdade nos acompanhe.
    Um beijo grande

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  3. Paciência é a palavra, e é muitas vezes um exercício muito difícil de se colocar em prática. Somos imediatistas e queremos respostas e soluções rápidas, mas nem tudo é possível da forma como queremos.

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  4. “Entregar, confiar, aceitar e agradecer”.... palavras chave para o momento que estou vivendo!
    Grande beijo
    Telma

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  5. Oi Zezé, li o seu blog e cada vez mais fico encantada com a sua facilidade em escrever. Adorei.
    Também pelo blog soube do seu pai que está 3 meses em coma, sinto muito por vocês todos (família)... Estarei em oração pode ter certeza. Paz no seu coração.
    Bjs
    Roseli

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  6. Zezé,
    Que permaneçamos...mas sejamos também como os passaros que ao pousarem sobre galhos frágeis os sentem ceder mas não os temem. Eles sabem que possuem asas!
    Beijo,
    Adriana-Yoga

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  7. Adorei!!! Saudades Zezé... E um feliz 2012 com muitas permanências evolutivas!!!!
    Bjs.
    Rita.

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