Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

11 de setembro de 2010

O Terracinho

O Edmilson, meu companheiro de jornada, me surpreendeu esses dias dizendo que eu nunca tinha falado dele no blog. Fiquei pensando sobre o que escrever já que não tenho tanta facilidade como ele de misturar palavras e sentimentos numa boa gramática. Muita coisa linda aconteceu nestes quase 15 anos juntos que nos fizeram crescer, rir, e até nos estranhar de vez em quando. Quando ele trabalhava no jornal, ele escrevia uma crônica toda semana. E uma das que mais gostei foi “Terracinho”, que dá o tom de nosso relacionamento. Então resolvi colocar aqui.

Terracinho
Quando Zezé e eu entramos no apartamento, há cerca de 11 anos, cada um tomou um rumo: ela olhou a sala, quis ver o quarto, reparou na pintura, sei lá. Eu sei que fui direto para o terraço. Ali, uma vista na qual eu nunca tinha botado os olhos se apresentava com toda luz de uma tarde de céu limpo de dezembro. Do décimo segundo andar de um prédio localizado numa região alta, dava para ver longe. Zezé chegou logo depois e também ficou encantada. Na verdade, era um terracinho, menos de metro e meio de largura e uns três de comprimento. Mas foi ele, praticamente, que nos fez fazer a loucura de comprar, em 1997, um apartamento que tinha um preço que não estava nos nossos planos...

Mudamos para lá em janeiro e o terracinho passou a ser o ponto do Verão, mais precisamente para as noites de Verão. Duas cadeiras e uma mesinha eram suficientes para transformar o espaço numa espécie de praia noturna com serviço de bordo. Um vinho rosé gelado, um queijinho camembert deixavam a noite deslizar até a entrada da madrugada entre papos e silêncios...

Ali planejamos várias viagens (muito mais do que as realmente realizadas), sonhamos o que fazer com o dinheiro da Mega-Sena que não ganhamos, contamos lembranças de infância, de juventude e algumas estrelas devidamente observadas quando o céu se arreganhava naquele escuro infinito.

Dia desses, chegando a pé em casa, Zezé e eu passamos sob a mangueira que alguém plantou e conservou numa rua pertinho do prédio. Olhei para seus galhos e lá estavam algumas pequenas pencas de mangas. Ôba!, disse eu. Zezé, que sabe que não sou muito chegado a mangas, estranhou. Expliquei: é que quando a mangueira começa a dar frutos, é início de Verão e estão chegando as noites pra gente ficar no terracinho jogando conversa fora. Mangas para mim são só o anúncio do prazer. Zezé, disse: Ah, bom.
Ed no terracinho olhando as estrelas no céu

4 comentários:

  1. que delícia de descrição das coisas simples da vida! :) e são elas, no final das contas, que nos completam!
    beijos

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  2. Oi Zezé,

    Dê um beijão no Edmilson....

    Maurício / Beth

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  3. O terraço pode ser pequeno, mas o pasto pras vistas é graaaande. As vistas não se importam de saltar do décimo segundo andar! Elas até preferem.
    Abs!

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