Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

10 de novembro de 2012

Mudanças

Ufa que calor!  Não só o do tempo, mas também aquele que vem com o tempo. Isso me lembra minha mãe que se abanava mesmo quando não era calor e eu não entendia muito bem o motivo. E aqui estou eu sentindo as famosas ondas de calor – “hot flash”, em inglês, assim elas parecem soar mais simpáticas.

Estive estudando um pouco sobre essa fase por não querer acreditar no que a sociedade diz sobre ela e sobre as mulheres que a ela chegam – de que algo acabou, de que estamos perdendo alguma coisa, de que estamos envelhecendo e que os sintomas são quase uma punição.

De repente, você abre os olhos e lá está você vivendo uma fase que é diferente de todas as outras. Os hormônios na adolescência modificam seu corpo, lhe dão novos sentimentos e a sociedade lhe aplaude, porque você está passando para a fase adulta, a fase de “mulher” e sua pele está brilhante e toda uma força invade seu ser e você, na sua imaturidade, não sabe muito bem o que fazer com tudo o que está acontecendo interna e externamente. Mas tudo se estabiliza em algum momento.

Nessa segunda adolescência acontecem muitas mudanças também, mas, do mesmo modo que antes, a estabilidade virá.

“Seus ovários e a glândula pituitária entram numa dança alternadamente suave e lírica ou frenética e descontrolada. Cansados de produzir óvulos, os ovários querem se aposentar e deixar a produção de hormônios por conta das supra-renais e de outros órgãos. Preferem a valsa – lenta e suave – que vai entrando, pouco a pouco, em um ritmo cada vez mais sonolento. A glândula pituitária, por outro lado, quer se manter ativa e para que tudo continue funcionando, envia quantidades ainda maiores de hormônio folículo – estimulante (FSH) e de hormônio luteinizante (LH) para tirar os ovários da fossa, estimulando-os a produzir mais estrogênio e progesterona.

Entrar na menopausa com uma atitude saudável a respeito de si mesma faz uma enorme diferença. No Ocidente, as mulheres sofrem muito mais do que nas culturas em que a beleza e a sabedoria das mais velhas é celebrada. Se a cultura ocidental apoiasse as mulheres na transição dos anos férteis para os anos sábios, você sentiria o aumento de temperatura como uma onda de poder e acharia reconfortante ter cabelo grisalho e uma cintura maior.

A yoga pode ajudá-la a prestar atenção naquilo que o corpo e suas mudanças têm a lhe dizer. Ela redireciona seu foco para dentro, ensinando-a a amar o processo que está atravessando à medida que ele se desenrola. Modificar a dieta, a rotina de exercícios e o estilo de vida ajuda o corpo a se ajustar às mudanças.” (Texto do livro “O Livro de Yoga e Saúde para a Mulher -  Linda Sparrowe e Patrícia Walden).

Cito agora um outro texto do livro de Márcia De Luca - “A idade do poder – transformação, saúde e beleza para a mulher, por expressar uma outra visão mais expansiva de uma fase tão importante na vida de uma mulher, resgatando a beleza do feminino.

 A meia-idade é a fase ideal para a pessoa transformar tudo aquilo que era puro potencial em poder pleno. É a oportunidade de reunir a sabedoria acumulada a partir de diferentes fontes, e de colocar todo esse repertório a serviço do próprio bem-estar e da própria evolução. Nesse período, a tendência é de fazer o balanço da vida, com suas perdas e seus ganhos. Surge um sentimento de urgência para respostas às questões que incomodam o ser humano desde sempre: quem sou eu, por que estou aqui, para onde vou. Podem aparecer também, alguns problemas orgânicos (e junto com eles uma vontade de revisar hábitos e estilo de vida) e uma autopercepção mais profunda. Nada disso se dá por acaso. Os apelos do mundo externo foram perdendo um pouco da importância ao longo dos anos, o que força a pessoa a investigar-se com mais honestidade e a encarar potenciais que foram esquecidos ou sabotados. As modificações e limitações físicas são como faróis, sinalizando para ela a temporalidade do corpo, ajudando-a a prestar atenção no que é eterno, e não no que é finito.
 
É um ciclo de amadurecimento espiritual, propício à busca da essência e ao encontro com a verdade. Não uma verdade distante, não uma verdade dos outros, mas uma verdade de dentro. A maturidade nos deixa mais próximos de nosso mestre interno, a grande fonte do poder real.
 
Quando a pessoa acessa esse deus interno, ela conquista a espontaneidade, ganha coragem e energia suficientes para ser e fazer o que quiser. Isso sim é que é poder.
 
O corpo físico amadureceu nas primeiras duas décadas de vida. Entre os 20 e os 40 anos, a psique foi fortalecida. A partir daí, as pessoas precisam desenvolver sua autenticidade, uma autenticidade que vem do espírito, para entrar no período de puro desfrute, pura colheita, pura inspiração divina.
 
Não é à toa que dois terços das grandes obras, seja na literatura, na ciência, na música ou nas artes plásticas, foram feitas por pessoas maduras. A idade do poder é o melhor tempo da vida, porque é o tempo da emancipação e da criatividade.
 
Não é assim, infelizmente, que a maioria vê essa transição. Falo de um processo que não tem um início preciso assinalado no calendário, mas que normalmente dá sinais a partir dos 40 e poucos, 50 anos. Os clichês como “ A vida começa aos 40” ou “é hora de trocar a mulher por duas de 20” traduzem verdades e preconceitos, e quase sempre são ditos em tom de piadas ou, pior, de prêmio de consolação para a “vítima” que está envelhecendo.
 
Quem envelhece não precisa de consolo, mas de conhecimento. A mulher, em geral tão presa à própria aparência e tão identificada às suas funções biológicas, faz essa passagem em meio a grande desconforto e vai precisar de muito autoestudo para entender a menopausa não como perda, mas como marco evolutivo.
 
Grande parte da cultura ocidental idolatra a juventude como se só essa breve fase da vida fosse produtiva e importante. É comum a mulher de meia-idade sentir-se frágil e angustiada, quando tem tudo para sentir-se pronta a abraçar os desafios de outra etapa da existência. Tradições antigas, como as de povos indígenas e culturas orientais, sempre respeitaram a experiência e o poder das mais velhas.
 
O mundo de hoje, ao contrário, trata aparência como se fosse essência e valoriza um padrão de beleza cada vez mais desumano, feito de rostos e corpos plastificados, robóticos, sem marcas. Como se sente a mulher, de carne, osso e alma diante de tantas criaturas “perfeitas”, exibidas na mídia como exemplo feminino? Como se sente a mulher com décadas de vida, rugas arduamente conquistadas e alguma gordura extra, diante dessas bonecas sexys que o jornalista Arnaldo Jabor – numa crônica antológica do nosso tempo – apelidou apropriadamente de “pós-mulher”?
 
Não é fácil, reconheço, ignorar os padrões culturais. A tábua de leis da modernidade está em todo lugar, decretando: seja jovem, seja magra, faça isto, faça aquilo.”
 
Ela sugere afastar-se daquilo que está fora de nós, desligar-nos dos valores e cobranças sociais, culturais, “dos outros”. Sugere também reconhecer aquilo que já sabíamos e esquecemos, aquele conhecimento que sempre esteve dentro de nós. Diz ainda que é preciso deslocar o ponto de referencia do mundo externo para o mundo interno para a busca do poder sobre nós mesmas. 
 
Ir para dentro significa não se identificar tanto com as mudanças no espelho. Significa libertar-se da necessidade de aprovação alheia, compreendendo que as transformações do corpo são só uma parte de todo o processo. Significa dedicar atenção ao milagre que o universo prepara para o espírito, exatamente nessa fase da vida (quando digo “o universo”, você lê Deus, a natureza, a inteligência cósmica, o que você quiser). Se a beleza física declina na maturidade, a alma começa seu movimento para cima e o potencial espiritual emerge. Não há motivo para medo. É mais um ciclo, mais um dos movimentos da alma que começam desde a concepção, quando o espírito se fundiu ao corpo físico. O nascimento marcou outra transição, outro movimento, e cada movimento marca o começo de um ciclo que terá um fim.
 
Perguntaram ao grande poeta persa Rumi, criador das bases do sufismo, se ele não tinha medo de morrer. “Estou morrendo desde que nasci, por que haveria de temer o último passo?”, foi a resposta. Se as crianças crescessem com essa consciência, o envelhecimento seria naturalmente aceito e não existiria a crise da meia-idade. É hora de desapegar da vida, antes que a vida se desapegue de nós.
 
Eu vejo o nascimento como o auge da juventude e a meia-idade como uma oportunidade de renascimento. É o momento perfeito para desatar os nós da vida, jogar fora o que já não serve ao resto da viagem. É a etapa em que a vida trama para que a mulher se livre de papeis, máscaras e se dê ao luxo de –finalmente- ser autêntica. É hora de fulminar a mártir, essa sim, velha e inútil, que se instalou tanto tempo dentro de cada uma de nós. É o momento perfeito para promover a transformação, a renovação.
 
O envelhecimento é normal e é preciso abraçá-lo como consequência da vida. A vida humana segue a natureza. Como as estações do ano, é preciso saber, no outono, que o inverno vai chegar. A mulher deve se preparar para envelhecer com charme, de maneira jovem.
 
Há muitos caminhos para fazer essa passagem, vivendo de forma plena a idade do poder.
 
Que possamos então celebrar mais esse momento de descobertas onde o nosso potencial pleno está sendo manifestado, deixando que o feminino se revele em nós. 
 


Um comentário:

  1. Como é bom ter vivido a primeira adolescência e estar pronta para viver a segunda, com toda sua riqueza. Concordo com você e com a Marcia de Luca: os apelos do mundo externo váo perdendo um pouco da importância ao longo dos anos, o que força a pessoa a investigar-se com mais honestidade e a encarar potenciais que foram esquecidos ou sabotados. Legal, Zeze! Bj

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