Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

7 de agosto de 2010

Meu pai

Meu pai João L. Gil
Amanhã é Dia dos Pais e estava pensando aqui no meu velhinho de 89 anos. Penso em como a vida dele é difícil, digo, desafiante já que tem tantas limitações físicas. Foi perdendo a audição por causa do trabalho que fazia e hoje só nos comunicamos através de escrita. Por conta da perda da audição tem um barulho constante na cabeça que só cessa quando dorme. E também quase não anda mais. Ainda usa duas bengalas para ir até o quintal e no seu “ateliê” de ferramentas e lá fica algumas manhãs ou tardes brincando com elas. Conserta alguma coisa, pinta alguma coisa e organiza cada parafuso, cada pedaço de madeira. À tardinha, senta-se em frente à casa e fica vendo as pessoas voltando do trabalho e vez ou outra responde alegre aos “Ôi seu João!” das pessoas. Não enxerga muito bem, mas ainda consegue fazer as contas das despesas da casa para que elas caibam nos míseros reais que recebe de aposentadoria.

Entrei no mar de Santos pela primeira segurando na mão de meu pai. E hoje sempre que tenho que fazer algo difícil, me lembro daquela segurança e proteção que senti e reconheço que esta experiência foi um diferencial para meu crescimento.

Meu pai também foi aquele que, quando eu tinha crises de bronquite na infância, levantava de madrugada para me levar para o hospital e, sempre de bom humor, me encorajava a passar por aquela situação dolorosa com positividade.

Eu adorava brincar com argila que ele trazia da cerâmica onde, sozinho, carregava um caminhão inteiro de tijolos.

Tinha tudo para reclamar da vida. Mas nunca reclamou. Nunca reclama. Ao contrário, usa seu bom humor para brincar com suas dificuldades. Filhos, netos, bisnetos e agregados todos ouvem suas histórias que às vezes são repetidas, mas cheias de verdades. Velhos vizinhos, parentes distantes sempre aparecem para uma visita e sempre agradecem pela ajuda que ele e minha mãe deram a eles em momentos difíceis.

Enfim, meu pai é uma dessas pessoas das quais a gente se orgulha tanto pela dignidade como pela retidão de valores e pela certeza de que está vivendo bem uma vida inteira.

Feliz Dia dos Pais a meu pai e que ele continue usando o bom humor e a certeza de que tudo está bem.

com bisneto - o encontro de gerações

4 comentários:

  1. Zezé eu li os dois e gostei muito. Seu pai é um fofo. Que a alegria que ele tem possa contagiar a muitos. A pessoa que sabe rir é muito mais feliz e faz feliz os que estão a sua volta. Eu sempre falo, ninguém muda ninguém, cada um tem o seu livre arbítrio e só muda se quiser. A aceitção é quase uma virtude. Ela tem que ser praticada. Queremos ser aceitos como somos, mas muitas vezes esquecemos de aceitar o outro com todos os seus defeitos. A vida é uma luta, mas essal luta é que nos faz crescer.
    Beijos Rudi

    ResponderExcluir
  2. Zezé,

    Já disse inúmeras vezes que AMO muito meu avô e o admiro também pela sua experiência de vida, força, bondade,integridade e sua resignação mesmo a todas as suas dificuldades. Isso para mim é que é VIVER e com SABEDORIA.

    Beijos,
    Silvana

    ResponderExcluir
  3. Zeze,

    Hoje foi particularmente revigorante, depois de chegar exaurido e estressado do trabalho, poder ler seus textos - sobretudo este, que fala de forma tao carinhosa de seu pai.

    Por um momento pude me desligar desse mundo de correria sem sentido, de pataquadas corporativas as quais as pessoas dao importancia desmedida, de tantas palavras vazias e de tanta agitacao por nada.

    Hoje ler seus textos me trouxe mais do que satisfacao - me trouxe alivio. Obrigado Zeze!

    Um grande abraco a voce e ao Ed desde Monclova, Mexico.

    Du

    ResponderExcluir