Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

20 de agosto de 2011

Bastão

No Yoga há várias posturas (asanas) e cada uma delas traz um conteúdo físico, emocional, energético e espiritual. Esta semana estive praticando a postura do bastão, o “dandasana”. É uma postura que ficamos sentados com as pernas juntas, esticadas e pés alongados com as mãos sobre os joelhos e coluna ereta. Ufa! Pensei: moleza. Nem tanto. Percebi que para me sustentar era preciso ativar as coxas para que eu conseguisse o apoio necessário para que as costas não caíssem. Qualquer pessoa que ali me visse, pensaria que eu estava numa boa, sentada e descansando. Mas, na verdade, tudo começou a esquentar e comecei a suar. Parecia tão simples!

Lembrei da explicação da professora Rosângela sobre o bastão: é ele que nos dá apoio, sustentação. Fortalecemos nossas pernas para ficar em pé com sustentabilidade e para isso eu trago o bastão para dentro de mim. Eu me sustento nas minhas próprias pernas. O bastão nos dá autoconfiança. Eu confio em mim e fico em cima de mim.

Quantas vezes eu deixei de usar meu próprio bastão, quantas vezes o entreguei para outras pessoas. Quantas experiências precisei experimentar, por mais difíceis que fossem, para entender que esse bastão, essa sustentação existia dentro de mim. O bastão do outro pode me sustentar por alguns minutos, mas a confiança interna só terei se usar meu próprio bastão. Também não posso entregar o meu bastão para o outro, porque com isso eu não permito que o outro descubra sua própria sustentabilidade.

Agora compreendo tão bem o quão arrogantes somos algumas vezes ao achar que podemos mudar o outro, mudar a vida das outras pessoas ao darmos nosso bastão, a nossa sustentabilidade. Não só não permito que o outro descubra o seu próprio como, ao entregar meu bastão, me desequilibro e posso até mesmo cair. O outro é importante em nossa vida, mas não é o nosso complemento.

Passei bons anos de minha vida achando que podia mudar a vida de pessoas de minha família, por exemplo, para o que achava ser o melhor para elas e acabei entregando o meu bastão. O resultado é que não só eles continuaram a viver e ter as experiências que eles escolheram por si próprios como eu, além de não mudar suas vidas, me desequilibrei e fiquei tentando me achar na experiência.

Confesso que demoraram alguns anos para eu compreender que não mudamos ninguém. Que cada alma busca sempre suas próprias experiências para suas próprias aprendizagens. Podemos quanto muito inspirar o outro à medida em que vivemos nossas verdades apoiados em nossos próprios bastões.

Agora, aqui sentada nessa postura do bastão (Dandasana), com minhas costas queimando, minhas coxas vibrando, sinto uma onda de intensa emoção feita de compreensão.
Sustento-me um pouco mais nessa postura para que essa emoção vá se integrando em meu ser.
Depois desfaço a posição.
Relaxo meu corpo e, enquanto sinto os efeitos do asana, sinto uma tremenda gratidão de ter tido essa compreensão profundamente agora.

3 comentários:

  1. Ola Zeze!
    Muito obrigada!
    Como sempre: fantástico! Muito que vigiar em nossas atitudes bem intencionadas....
    Saudades!
    Como está?
    Beijo
    Angela

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  2. Conforme eu leio, parece que eu sinto o que você fala, de verdade!!
    Minha autocofiança é muito falha.. acho que é um pouco de família, mas sempre dá tempo de mudar!!! hehe
    =) Ana Carolina

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  3. Oi Zezé...

    Mewww....suas palavras sobre o "bastão" me tocaram profundamente...vc tem um jeito muito especial de escrever...faz parecer simples a observação...porque escreve com docilidade, firmeza e humildade!

    Que eu possa re-encontrar o meu "bastão"

    Obrigada, Beijo!

    Dri

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