Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

28 de agosto de 2011

Tempo

Nossa! O tempo está indo cada vez mais rápido! Nossa! Já é setembro! Nossa! O ano já acabou!

Quantas vezes ouvimos ou dizemos isso? Ficamos tão impressionados que achamos que o tempo está andando mais rápido que antigamente.

Mário Quintana escreveu:
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

No nosso dia-a-dia, às vezes sentimos que não temos tempo para nada, nem mesmo para dar conta das atividades no nosso trabalho. Está ocorrendo um fenômeno comum nas empresas, por exemplo, onde os funcionários têm muito trabalho e, por terem competência, lhes é passado mais trabalho. E como é humanamente impossível executá-los de forma orgânica, surge então a frustração de ter trabalhado muito, dedicado muitas horas, inclusive abrindo mão dos horários de descanso e, no fim, o trabalho não foi totalmente concluído ou só foi concluída parte dele.

Mas não só no trabalho profissional sentiremos essa frustração, mas também em nossa vida pessoal quando o que planejamos não se concretiza, quando o rumo de algum evento é diferente daquilo que organizamos previamente. A frustração então é gerada por criarmos expectativas que não se realizam, provocando mal-estar.

Como em tudo em nossa vida, temos escolhas. Se observarmos e enfrentarmos a frustração, sem negá-la ou evitá-la, podemos observar que ela é uma forte força de movimento e não de estagnação como a gente imagina num primeiro momento. Grandes realizações da história da civilização aconteceram em momentos de frustração e sofrimento − como, por exemplo, as pestes e as vacinas, a penicilina, as inúmeras aplicações tecnológicas da ciência etc. O fato de nos sentirmos imperfeitos e incompletos nos acorda, nos motiva a procurar sempre a perfeição.

Segundo Héctor Rafael Lisondo, psicólogo, na trilha em busca da evolução “tem-se muito mais contato com a frustração do que com a satisfação e, mais ainda, pode-se dizer que a segunda é consequência da capacidade para lidar com a primeira. Até de uma perspectiva psicológica, também se pode afirmar que a nossa missão como pais na formação dos nossos filhos não é o compromisso com a felicidade deles, mas com o seu desenvolvimento, e este nem sempre implica em felicidade ou alegria. Freud acreditava que o homem caminha em duas direções: a busca de evitar o sofrimento e o desprazer e a procura da experiência intensa de prazer. Convém aos líderes conhecer esta realidade e tomar contato com o inevitável sofrimento que os acomete assim como aos seus seguidores, na trilha cotidiana da vida organizacional. Está ali, adormecido, um rico potencial de criatividade e desenvolvimento que, se bem canalizado, pode vir a resultar em realizações. Trata-se de ajudar as pessoas para que as inevitáveis contrariedades não as conduzam à desesperança, à resignação ou à depressão e possam lutar para transformar o limão em limonada, a fazer um bom negócio a partir de um mal negócio. Todavia, não se trata de apelar a exortações ocas e/ou hipócritas, mas de criar oportunidades para poder falar sobre esses dolorosos e inconfessos sentimentos, que de outra maneira, se permanecerem ocultos, acabam por produzir fantasias de incompetência, e/ou impotência, e/ou negação. 

Para isso é necessário que a função da liderança inclua a construção de relações de respeito e confiança com os seguidores. Trata-se da disposição para investir permanentemente em relacionamentos de qualidade, capazes de enfrentar a verdade com coragem − não apenas a verdade relacionada ao mundo externo, mas principalmente o contato com a verdade oculta na interioridade própria e dos seguidores, aquela que nos poderia dizer o que realmente somos. Trata-se da coragem para contestar crenças e paradigmas profundamente enraizados na nossa cultura organizacional, como o de querer ocultar as fraquezas e parecer o que não se é − tentativa essa que, em geral, se constitui apenas como ledo engano, uma vez que acalma a ansiedade às custas de inibir o pensamento e a criatividade.

Estava eu aqui falando do tempo e me enveredei a falar de frustrações. De qualquer forma as coisas são todas ligadas. Novamente aqui, a resposta é interna: ela está na observação do que eu sinto, do que eu experimento física, emocional e espiritualmente. Esses conteúdos nos levam a paragens mais expansivas porque temos que olhar para nossas “velhas formas do viver”, para nossos valores, para como eu quero viver a minha vida, o que é realmente importante neste momento da minha experiência humana. Nesse movimento criamos uma força interna que nos impulsiona para buscar saídas criativas que podem, como disse o poeta, “transformar as velhas formas do viver”.

Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...
(Gilberto Gil)

8 comentários:

  1. Pois é , mas carregar o fardo de perfeccionista , as vezes , não é muito agradável nem à nós , nem ao parceiro/a ...
    JP.

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  2. Concordo plenamente JP. Acho que a gente confunde um pouco a busca da perfeição com ser perfeccionista.
    De fato ao sermos perfeccionista gastamos muita energia porque tentamos fazer o que consideramos perfeito e tudo que sair disso nos frustra.
    O perfeccionismo é doença da perfeição. Quando damos o melhor de nós mesmos para o mundo sem esperar um resultado X, estaremos em estado de perfeição.
    O estado de perfeição é o que eu posso fazer da melhor maeira.

    Zezé

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  3. Ótimo , gostei !
    Gravei - O perfeccionismo é doença da perfeição - perfeito ... JP.

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  4. Adorei... Hoje mesmo estava comentando a respeito do passar tão rápido do tempo.
    Gosto muito do seu blog, sempre com textos lindos. Mais uma vez obrigado. bjs

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  5. Oi Zezé, não estou conseguindo acessar minha conta do google, por isso foi como anônimo. bjs
    Roseli

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  6. Oi amiga, essa do tempo é assim mesmo. Agora mesmo respondí uma carta de uma amiga de S. Carlos e falei exatamente o que vc comentou.Mas a gente sempre arranja tempo para o que é necessário e a gente precisa aprender a ter o tempo a nosso favor,analisando o que é melhor para não termos frustrações. Gostei muito da sua colocação. Um grande beijo e sucesso. Rudi

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  7. Tempo, tenho sempre a sensação de que ele escorre por entre os dedos da minha mão. Obrigada Zezé por sempre me fazer refletir sobre a minha vida, através desses textos.
    Acho que é TEMPO de parar e analisar o que é realmente bom de se fazer, o que vale a pena para as nossas vidas.
    Um beijo

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  8. Pois é Zezé...tempo rei oh tempo rei...oh tempo rei...ensinai o que eu ainda...não sei...
    Tudo a ver...com tudo que tô vivendo por aqui...que eu consiga transformar as velhas formas do meu viver...e começar de novo...
    Beijo e obrigada pelo texto super bacana!
    Adriana-yoga

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