Quando fui morar na
comunidade de Nazaré, hoje Uniluz, em 1989, soube que ela havia sido inspirada
em uma outra comunidade que fica no norte da Escócia. E foi ali que conheci o
Jogo da Transformação que também foi criado nessa comunidade escocesa que se
chama Findhorn. E, desde então, tinha vontade de conhecer esse lugar. E somente
agora pude realizar esse desejo e creio mesmo que esse foi o momento ideal
depois de ter vivido outras experiências.
E lá fui eu fazer o “experience week” em Findhorn, um programa para pessoas que estão indo pela
primeira vez.
Chegar até lá parece até
um ritual. Peguei avião de Londres a Inverness, uma cidadedezinha bem bonitinha
e depois fui de ônibus até Forres, uma cidadezinha menor ainda. Já no ônibus,
uma senhorinha desceu 2 pontos de ônibus antes só para me mostrar onde era o
ponto de táxi.
Findhorn é uma
comunidade espiritual, uma ecovila e um centro internacional para educação
holística. A abordagem da sustentabilidade integra quatro aspectos: espiritual,
social, meio ambiente e econômico. Lida não só com a sustentabilidade externa
como com a construção de casas ecológicas, tratamento de esgoto de forma
ecológica e energia renovável, mas também foca a vida interna dos seres
humanos, dando às pessoas oportunidades de fazer parte e praticar a vivência em
comunidade através das atividades práticas diárias da própria comunidade que
nos proporciona fazer a mesma coisa que fazemos no dia a dia, mas com uma outra
atitude, com um novo olhar muito mais abrangente onde percebemos que uma
simples atividade que realizamos faz parte de um todo maior o qual pertencemos.
Bom, o programa era bem
equilibrado e tive oportunidade de estar num grupo de 15 pessoas onde pude
trabalhar no jardim, na preparação dos lanches nos intervalos das atividades
entre outras atividades e conversar com pessoas moradoras de lá ou que estavam,
como eu, passando um tempo na comunidade.
O lugar é de muita paz e
beleza. Em cada lugar que eu olhava via que ali alguém tinha passado e deixado
algo bom, ou porque limpou, ordenou, ou porque escreveu algo, enfim, dava para
sentir uma amorosidade em tudo que se via. Aliás, amorosidade é mesmo a tônica
de qualquer trabalho em Findhorn. E é
isso que desarma as pessoas, que as integra e que as transforma.
A comida é algo muito
inspirador também. Eu comia e me sentia abençoada de tanta coisa gostosa,
bonita, e que tinha sido feito com tanta dedicação pelos outros participantes, e
meu corpo agradecia.
Internamente trabalhei
aspectos meus e dores escondidas até então, que eram desconhecidas por mim e alí
foram dissolvidas. Um dia estava trabalhando num projeto no jardim, onde o
grupo iria tirar matinhos. Estava frio, muito frio e eu me agasalhei como pude
e comecei o trabalho em silêncio. Percebi que não era tão difícil assim. Era só
dar um mexidinha e o matinho saia com uma certa facilidade. E alí tinha
minhocas e outros bichinhos. Fiquei lá por 3 horas fazendo isso junto com o
grupo e, à certa altura, me vem o insight de que também a gente não precisa
carregar coisas que não precisamos, e é só dar uma mexidinha que as dores saem
e, embaixo dessas coisas que não precisamos mais, há vida, vida nova. Fiquei
tocada com essa percepção de que, muitas vezes, a gente carrega coisas que já
estão quase que resolvidas, mas ainda colocamos um certo peso nelas simplesmente
porque não atualizamos nossos sentimentos, não revolvemos a terra.
Outra coisa que
vivenciei bastante foi o escutar e ser escutada. Sem preconceito, sem
julgamento, sendo acolhida e acolhendo o outro da maneira como o outro
era. Assim é que se resolvem os
problemas. Ao invés de reagir como de costume, ouvimos e acolhemos o outro,
trabalhando a compaixão. Quando essa compaixão está trabalhada, o outro tem a
possibilidade de mudar. Sem isso, a situação é sempre a mesma, não muda nada, é
o jeito velho de reagir que não é produtivo. Não mudamos ninguém, mas temos a
solução que é trabalhar em nós mesmos o acolhimento do outro e a compaixão.
Conectar comigo,
conectar com a natureza, com o outro pode ser compreendido quando eu olho para
a separação e percebo o contraste. Separação é quando não nos sentimos parte,
quando nos fechamos para o outro, quando julgamos, quando não aceitamos as
coisas como elas são. Conexão então é o oposto.
Daí, para nos conectarmos com nós mesmos, com tudo que está em volta, muitas
vezes precisamos silenciar internamente e olhar para o que sentimos, para o que
estamos aprendendo. Isso é uma prática e a meditação que fazemos ajuda muito. Findhorn
tem vários horários para meditar e você pode escolher o melhor horário. Os
Santuários onde se pratica a meditação são repletos de paz e de beleza.
Um dia, andando pelos
jardins, me perdi...e virei num outro caminho e... sim, me perdi e por ter me perdido, me deparei com
a Dorothy Maclean de 94 anos (escritora e amiga de Sara Marriot e que é um
exemplo de trabalhar na co-criação inteligente com a natureza) andando pelo
jardim. Não resisti e fui falar um instantinho com ela. Muita emoção.
Há muito o que falar e vou voltar a esse lugar outras vezes à medida que for escrevendo. Por hora, é isso: uma certeza de que há muitas coisas boas acontecendo nesse mundo e a maneira como lidamos com as coisas e pessoas, com delicadeza e beleza pode sim transformar um mundo viciado em falsos valores, um mundo que já não nos conforta mais. Aprendi que podemos sim voltar para dentro e redescobrir toda ternura que temos dentro e espalhar isso para esse novo mundo que está surgindo com tanta intensidade.
Você foi a Findhorn
ResponderExcluirE de lá trouxe o melhor:
Uma mensagem mais diet
Daquele Éden tão quiet...
Do fã de carteirinha Mário Frigéri
Zeze, adorei esse seu depoimento, mexeu muito comigo.
ResponderExcluirObrigada
Regina Tourinho
Lindas fotos e fico feliz por ter vivido momentos tão especiais por lá.
ResponderExcluirLari
Zezé que bom ler e aprender com seus relatos.Fico feliz em saber que vc gostou muito dessa nova experiência.Acolher com carinho sem julgar o outro é tudo que temos vivenciado na Biodança. E no livro que estou lendo O BISPO tem o irmão Jacobino que é feliz vive pobremente em meio a riqueza da Igreja ama indistintamente todas as.pessoas e principalmente as crianças orfãs que ele cuida sem julgar ninguém apenas tendo compaixão. Aprender a não julgar ter compaixão e aceiitar o outro como ele se mostra é um exercício para uma vida inteira. Não é fácil mas com paciência a gente chega lâ.Abraços bjs e saudade. Com carinho Rudi.
ResponderExcluirZezé,
ResponderExcluirQue lindo é Findhorn! Por tudo que li foi uma experiência maravilhosa! É sempre bom reservarmos momentos em nossa vida para avaliar nossos conceitos e pré julgamentos. Entender as razões do outro é difícil, mas é sempre bom exercitar para nos tornarmos pessoas melhores e aprender a lidar com o próximo melhor também.
Um beijo e bom retorno!!!!!
Bonito ver você com a querida e inspiradora Dorothy. A medida que passa o tempo parece que começamos a celebrar e agradecer nossos tempos passados trazendo o mais positivo para uma celebração presente. Os coloridos mostram esta alegria numa paisagem só com Zezé nelas.Abraços, Eliana Gavenda
ResponderExcluirZezé, que delícia ler seu depoimento sobre a experiência tão especial de Findhorn. As fotos estão lindas e, como sempre observo nas imagens de lá, o colorido e a simplicidade traduzem a vibração sutil e elevada do lugar. Tenho certeza de que você trouxe Findhorn no coração e que esse lugar estará sempre disponível e vivo dentro de você. Beijos
ResponderExcluirAdorei Zezé! Quantas imagens lindas.
ResponderExcluirSenti que você estava tão em paz na fotos...
Beijos,
Lígia
Obrigada Zeze' por partilhar a sua rica experiencia e estes momentos de tantas emocoes boas. As imagens beli'ssimas tambe'm ajudam a nos transportar para este lugar u'nico onde o melhor da nossa humanidade pode florescer e produzir frutos.
ResponderExcluirUAU Zezé!!! Que lugar lindo, e quanta delicadeza prá descrever tudo isso, que bom que os "links" foram trabalhados, que as percepções afloraram mais ainda...Obrigada por compartilhar tão especial experiência!
ResponderExcluirBeijos,
Adriana
Que bom que vc foi, e que Findhorn se mostrou à altura do seu esforço para realizar o desejo de conhecer a comunidade. Um lugar bonito, cheio de flores (mesmo no frio q vc disse que estava lá!) e de pessoas gentis. E o seu relato faz jus a tudo isso. Fico feliz por vc.
ResponderExcluirOi, Zezé!!! Muito bacana ler sobre suas experiências bonitas e profundas... também é bem legal ver as fotos deste lugar tão especial! Mais um sonho vivido, hein?
ResponderExcluirContinue sonhando - e vivendo!
Um beijo,
Mirella
Nossa Zezé que experiência linda!!!
ResponderExcluirPrecisamos com-versar, co-mentar, com-partilhar, pode ser????
Roseli
Que lugar encantado Zezé!! Obrigada por partilhar, adorei o lugar e seus insights!
ResponderExcluirBjs
Izabel
Oi Zeze!
ResponderExcluirGratidão pela linda mensagem!
Gratidão,
Um abraço cheio de amor,
Cláudia Junko Sato
Adorei o projeto no jardim!!!
ResponderExcluirBeijos
Telma