Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

12 de dezembro de 2010

Hábito


Eu e o San, quebrando o hábito
 Outro dia falava com uma pessoa sobre os hábitos que temos e que, sem mudar esses hábitos, provavelmente nossa vida também não mudará.

Todos os dias acordo, faço meus exercícios de respiração, tomo banho e vou na padaria comprar pão para meu café da manhã. Gosto de sair e ver as pessoas simplesmente vivendo. Vejo uma senhorinha que me lembra minha mãe que varre as folhas da calçada. Digo “bom dia” e ela diz “bom dia, como caem folhas dessa árvore!”. Vejo pessoas saudáveis indo para a academia perto de casa, vejo as mangas da árvore na rua da padaria, vejo o céu azul, ouço pássaros e vejo... o cachorro – aquele que late forte e que tenho medo. É, tenho medo de cachorro. Tenho feito alguns esforços para superar isso, confesso.

Outro dia vi um cachorro na rua por onde passo. Sozinho. Um cachorro normal como antigamente, sem lacinhos, roupinhas ou brinquedinhos e latidos histéricos. Era um cachorro mais velho e que andava distraidamente. Virei a esquina e lá estava ele vindo em minha direção. Senti aquele arrepio que corre a espinha. Mas ele vinha mansamente e eu pensei: “Ok. Primeira oportunidade desse dia para perder o medo”. Respirei. E continuei também em direção a ele e passamos um do lado do outro. Ele não latiu, não lambeu meu pé... Ufa! Consegui. E lá foi ele procurando alguma coisa no chão. E eu aliviada, procurando também para onde tinha ido o meu medo.

Fiquei pensando que mais do que medo de cachorro eu tinha a crença de que tinha medo de cachorro e era para ela que eu tinha que olhar, se quisesse perder o medo. Aí ficou mais fácil. Lembrei que o primeiro cachorro que eu toquei foi o Terry, um cão vira-lata velhinho da comunidade onde morei que meditava na porta da sala de meditação três vezes por dia junto com todas as pessoas. O segundo cachorro que toquei foi o San, que também nos rodeava quando fiquei na Serra da Mantiqueira, no maravilhoso curso de Renascimento. Ele era calmo, sereno, como os seus donos Tárika e Khalis.

Mas voltando sobre a questão dos hábitos que temos e não mudamos, percebi que nos rotulamos e não mudamos porque simplesmente não tomamos consciência disso e não praticamos uma nova maneira de agir e pensar. Quantas vezes temos o hábito de, descuidadamente, num grupo de amigos, fazer comentários sobre pessoas ausentes, esquecendo que o outro faz parte de mim, que o outro sente as mesmas dores que eu sinto e que vive processos complicados e muitas vezes bem parecidos com o nosso.

Outras vezes temos o hábito de reclamar de tudo. Reclamos porque está quente, porque está frio, porque é segunda-feira (reclamamos porque é segunda-feira!!!), porque meu carro quebrou, porque a vida está morna sem conseguir agradecer só pelo fato de estarmos vivos. Não conseguimos respirar e integrar as adversidades. Queremos eliminá-las, queremos que elas não existam para que eu não sinta dor. Criamos hábitos para ajudar a suprimir algo que não queremos vivenciar novamente e suprimir emoções. Mas é justamente por querer que elas desapareçam que sentimos a dor. Integrar as adversidades é o que nos faz amadurecer emocionalmente.

Nossa mente é hipnótica. Somos educados pelos hábitos e nos habituamos a viver de hábitos. Nós nos habituamos a habituar. Vivemos os hábitos. Habituamo-nos a certos pensamentos negativos, que trazem resultados destrutivos para nossas vidas. Ensinaram-nos a criar hábitos. Essa é a nossa sociedade. Portanto temos sempre que agir de acordo com a sociedade ou então somos criticados, julgados e condenados.

É importante trabalhar a minha mente para perceber meus pensamentos, lidar com ele, a fim de evitar que eu me comunique ou me relacione com os outros através dos meus hábitos mentais. Devo me relacionar com o que há de verdadeiro, no momento, entre mim e o outro, seja ele um ser humano ou qualquer outra energia do universo. Ao criarmos hábitos, ficamos distraídos, desatentos, cegos. Quando estamos alerta, somos sempre observadores. Observamos os resultados em nós e ao nosso redor.

Uma maneira de mudar o hábito é trocar o “habito de” por um “ato de”. Uma verdadeira ação envolve sentimento de prazer, motivação, amor e vontade de viver, porque você tem a certeza de estar em comunhão com a Inteligência Infinita, com o Ser Divino. Também podemos acender uma luz interior conscientizando-nos da nossa respiração. Quanto mais consciente estivermos de nossa respiração, mais a observaremos. Isso nos tranquilizará e nos fará relaxar. Desta forma estaremos mais energizado e mais alerta e portanto não cairemos na armadinha do “hábito”, fazendo mais do mesmo.

O único hábito que devemos ter é o de estar sempre alertas.

• Informações tiradas do livro: Rebirthing – “O novo Yoga”

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