Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

14 de agosto de 2011

Foguinhos

Li um poema de um escritor uruguaio, Eduardo Galeano, que me remeteu àquela questão de sempre: quem somos nós? Corremos tanto no nosso dia a dia, nos envolvendo tanto com os eventos que vão e vem e acabamos achando que estamos aqui então para isso mesmo, resolver problemas, ganhar dinheiro para ter aquela televisão nova ou o novo modelo de celular. Criamos tantas necessidades e depois temos que mantê-las a um preço tão alto que acabamos por esquecer quem realmente somos e para que estamos nesse planeta, nesse momento da existência.

Temos tanto medo da falta que dedicamos toda a nossa vida para um trabalho que muitas vezes nem faz tanto sentido assim para nós. Nada de errado em dedicar grande tempo de sua vida para uma atividade, desde que ela satisfaça nossas partes emocional, física, psicológica e espiritual ou, pelo menos, que a gente contrabalance com algo a mais, pois é nesse balanço, nessa fluidez de nossas várias facetas da vida que encontraremos uma paz interna para podermos lidar com eventos tão diversos.

Não adianta perseguirmos somente situações prazerosas, a vida é feita de contrastes. O ideal é conseguirmos transitar pelas dores e prazeres aprendendo e iluminando-se com cada uma delas. Na maioria das vezes temos essa compreensão, mas temos dificuldades de colocar isso na prática. Como lidar com minhas partes física, emocional e espiritual se não tenho tempo para fazer mais nada, pois meu trabalho me exige uma dedicação intensa? E nos bloqueamos nessa pergunta e assim nos acomodamos.

As perguntas têm que ir mais além, nós temos de dar um passo em frente ou ficaremos vítima de nossa própria crença de “não tenho tempo para nada”. Boas perguntas seriam: “O que eu gostaria de fazer se tivesse mais tempo? Por que isso é importante para mim? Para onde eu quero ir com a minha rotina atual? Quais os prós e contras de ficar na posição atual?” E a partir daí, pensar em quais são as minhas possibilidades. Se não as tenho, como faço para criar essas possibilidades?

Seja qual for o caminho que escolhermos, é importante estar inteiros, conscientes de nossas várias facetas. Não somos só o nosso corpo físico, ou só nosso papel social, ou nossa profissão, ou nosso status, ou nossa crença limitante. Somos mais que isso.

Abaixo então o poema:

Um homem do povoado de Neguá no litoral da Colômbia
conseguiu subir no alto do céu e na volta contou.
Disse que tinha contemplado, lá de cima a vida humana
e disse que somos um mar de foguinhos.

“O mundo é isso”, revelou:
“um montão de gente,
Um mar de foguinhos.
Não existem dois foguinhos iguais.
Cada pessoa brilha com luz própria, entre as outras.
Existem fogos grandes e fogos pequenos
E fogos de todas as cores.

Existe gente de fogo sereno que nem fica sabendo do vento.
Existe gente de fogo louco, que enche o ar de faíscas.
Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam.

Mas outros...
Outros ardem a vida com tanta vontade
Que não se pode olhá-los sem pestanejar
E quem se aproxima se incendeia.”

5 comentários:

  1. Adoreei Zezé!! Amei também aquele texto "Sorte ou Azar", acredito muito em tudo isso!! =D Carol Semedo

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  2. Oi Zeze'. Obrigada pelo texto inspirado e pelo poema do Galeano, tao lindo. Ja' li va'rias coisas dele e gosto muito. Voce sabe o nome do poema em espanhol?
    Um abraco

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  3. Pois é Zezé...ir além...à procura de novas possibilidades, de tentar nesta vida, equilibrar,buscar sentido, acender os foguinhos!!!
    Obrigada pelas palavras e texto lindo...Beijo grande!

    Dri-Yoga

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