Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

1 de maio de 2011

Yoga e Pão

Minha amiga Lilly em perfeita postura
Bom, eu não sou grande cozinheira, mas adoro cozinhar e curtir todo o ciclo do alimento. A terra acolhe a semente e dá os nutrientes, a chuva supre de água, o sol dá o calor necessário e tudo relaxa e descansa enquanto a semente desabrocha, cresce e se torna o que ela é em essência. O homem cuida da terra e, através do conhecimento milenar, sabe exatamente que deve colher no momento em que a vida está no ápice. Depois, há os caminhos percorridos até chegar na minha cozinha, onde escolho - e me encanto com - os formatos, as cores, as texturas e o cheiro. Aí misturo todos eles me lembrando das bruxas de tempos imemoriais, aquelas que eram sacerdotisas, curandeiras, professoras, poetizas e parteiras e que foram queimadas na Idade Média porque sua “ciência” fazia concorrência com a religião dominante. Na verdade, ser bruxa era reivindicar para a mulher o direito de ter poder e, para o homem, o de reconhecer a presença da divindade na feminilidade. Bom, voltando à cozinha, ao misturar os ingredientes, adoro ver a alquimia acontecendo, as cores se misturando, os sabores se complementando.

Esse sábado fui fazer o pão de aveia que aprendi com a Nani, uma cozinheira de mão-cheia que mora nas montanhas. Eu já tinha feito uma vez e ficou lindo.Desta vez, apesar de todo meu amor, de todo carinho... não deu certo. Como? Eu fiz tudo certinho. Não deu certo. Não cresceu. Não cozinhou por dentro...

Senti a maior frustração.Fiquei observando essa frustração e me lembrei que também tenho esse sentimento quando não consigo fazer perfeitamente algumas posições do Yoga. Por que não sai perfeito se me esforço, se pratico todos os dias e se faço com tanto amor? Então o sentimento é o mesmo.O Yoga diz que devemos observar nosso corpo e respeitá-lo. Não faremos nada que possa machucá-lo ou passar do seu limite hoje, e é através dele em harmonia com a mente que nos ligamos a estados expansivos de consciência. As posturas finais não devem ser o objetivo do praticante, mas sim a atenção no movimento, estar presente observando-se sem julgamento, para descobrir a inteligência, a consciência que está escondida no corpo. Mas meu ego ainda fica me dizendo para fazer as posturas iguais às do meu colega ao lado ou ainda iguais às da minha amiga e professora de Yoga, Lilly. Daí a frustração.

Por que juntei meu pão de aveia com a minha prática de Yoga? Bom, é que nos dois casos o sentimento de frustração apareceu. Nas práticas, cada dia acordo dizendo hoje é um novo dia e vou fazer cada movimento com toda a minha atenção como seu fosse o primeiro dia. Permito-me esse recomeçar e respeito todos os outros dias e as outras tentativas como fazendo parte de minha história corporal. Alguns dias consigo um pouco mais, outros um pouco menos, mas o estar presente, estar aberta para uma expansão é o que verdadeiramente me faz sentir com alegria que estou no caminho certo. Assim a frustração enfraquece e me sinto em harmonia, em paz.

Ah, sim, e o pão de aveia? Enfraqueci a frustração e, neste domingo de manhã, depois de minha prática e de dar duas voltas na Lagoa do Taquaral com o Ed, fui fazer um novo pão, com um novo sentimento, com concentração e presente no que estava fazendo. E esse deu certo.
Pão de Aveia
O pão se faz por sua bondade, com sua ajuda, com sua imaginação que flui através de você. Com a massa sob suas mãos, você a transforma em pão. Este é o motivo pelo qual, fazer pão é tão gratificante.

Tudo está conduzindo você, empurrando-o, instruindo-o, levando-o para o conhecimento supremo e perfeito. Isto quer dizer que não há enganos. Você pode fazê-lo de maneira diferente da próxima vez, mas isto é porque o faz assim desta vez. Perfeito, mesmo que diga: pus mais disto, pouco daquilo. É você, e, por favor, seja você mesmo. Ofereça-se. Cozinhar não está simplesmente na língua, no palato. Está no corpo inteiro, fluindo da virilha e do peito, pelos braços e pelas mãos.

Uma receita não pertence a ninguém. Dada a mim, eu a dou a você. Somente um guia, somente um esqueleto. Você deve cobri-lo de acordo com sua natureza e desejo. Sua vida, seu amor trarão estas palavras à plena criação. Isto não pode ser ensinado. Você já sabe. Por isso, cozinhe, ame, sinta, crie.

(The Tassajara Bread Book – Edward Espe Brawn)

7 comentários:

  1. zezé querida, adorei o que escreveu. muito lindo e sensível. quero a receita do pão de aveia! sou muito estabanada e acho que vou demorar um bocado para acertar a mão...
    beijao pra vc e pro ed.
    cacau

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  2. Zezé, eu adoro fazer pão. Se puder mande-me a receita , a Aninha também vai adorar. Bjs Rudi

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  3. Teacher
    Quero a receita do pão de aveia, mas eu não vou ficar frustrada, porque vou pedir para minha mãe fazer!!!!!!!!!! Beijos
    Pri

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  4. Oi Zezé,
    Adoro seu blog, que tenho saboreado aos poucos.
    Obrigada!
    Nos veremos sábado no encontro na casa do Olivier?
    Tomara...
    Beijos,
    Luciana Aguiar.

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  5. Adoro as coisas que voce coloca no seu blog!!!!!!
    Larissa

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  6. Como sempre: muito bom!
    Obrigada pelo este momento de reflexão!
    E ai? nos vemos no sábado? Nado vem de POA!
    bjs
    Angela

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  7. Zezé, que coincidência! Semana passada eu fiz pães com a Voirrey, uma das voluntárias que faz pães maravilhosos todas as madrugadas.
    Nesta semana está acontecendo o Tagore Festival lá no Dartington Gardens! Muitíssimo especial!!!
    Boa sorte com os pães... e com as posturas.
    Um beijo!

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